Um Jubileu ecumênico para salvar o planeta

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02 Fevereiro 2020

“Dada a gravidade da situação ambiental e a arrogância dos países soberanistas, pedimos outro presente ao Papa Francisco: um Jubileu para salvar o planeta.”

A opinião é do missionário comboniano italiano Alex Zanotelli, que atuou no Sudão e no Quênia, na África. Por quase 10 anos foi diretor da revista Nigrizia, publicação italiana que era referência em assuntos africanos. Atualmente, é diretor da Mosaico di Pace, revista mantida pela organização italiana de Pax Christi – o Movimento Internacional de Paz Católica.

O artigo foi publicado por Avvenire, 31-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o artigo.

A situação ambiental do planeta é cada vez mais grave (os horrendos incêndios na Austrália e em outros lugares são uma prova disso), e os governos do mundo são cada vez mais incapazes de encontrar soluções.

O fracasso da COP-25 em Madri, que envolveu todos os governos do mundo por mais de duas semanas, em dezembro passado, é um péssimo sinal para a humanidade. Venceu o petróleo, venceu o carvão! Perdeu a política: os governos são prisioneiros dos poderes econômico-financeiros. A culpa é acima de tudo dos EUA de Trump, do Brasil de Bolsonaro, da Austrália de Morrison: é a vitória do soberanismo ambiental.

Em vez disso, saem derrotados de Madri os países empobrecidos, que sofrerão os maiores danos causados pelo superaquecimento, provocado em 90% pelos países ricos. Infelizmente, estes últimos se recusaram a aumentar o fundo para ajudar os países empobrecidos a enfrentar os desastres climáticos.

É o triunfo do ecorracismo. Tudo isso é um tapa na cara dos movimentos ambientalistas das “Sextas-feiras pelo Futuro”, dos Sunrisers dos EUA, dos membros do Extinction Rebellion, dos milhões de pessoas que saíram às ruas, do Papa Francisco, tão comprometido nesse campo com a Laudato si’ e o Sínodo para a Amazônia.

Por isso, dada a gravidade da situação ambiental e a arrogância dos países soberanistas, pedimos outro presente ao Papa Francisco: um Jubileu para salvar o planeta. É o que pede a renomada economista inglesa, Ann Pettifor, que dirigiu a vitoriosa campanha do Jubileu do ano 2000 para a remissão das dívidas aos países do Sul do mundo. Ela observa, em seu recente livro The case for the Green New Deal [A defesa do New Deal Verde], que, se quisermos curar esse nosso ecossistema doente, devemos reordenar as finanças mundiais.

E, então, um Jubileu poderia ser providencial, em um momento tão crítico. O Jubileu nasce do conceito bíblico do sétimo dia: o sábado, que significa repousar. É o princípio sabático de repouso para os seres humanos, para os animais, para a terra, mas também para os sistemas econômico-financeiros.

O princípio sabático está baseado no conceito de limite: não somos Deus, somos seres limitados. E eis o Jubileu bíblico dos sete anos de sábados e depois de sete vezes sete anos de sábados, o grande Jubileu, que previa a remissão das dívidas, a restituição da terra, a libertação dos escravos e o repouso da terra.

Jesus iniciou seu ministério na Galileia dos desesperados, anunciando o “ano da graça”, o Jubileu. O ano 2000 finalmente retomou essa dimensão social, afirmando que há limites para a exploração dos devedores por parte dos credores. Assim, obtivemos a remissão de muitas dívidas dos países empobrecidos. Hoje, precisamos de outro Jubileu, que saiba conjugar a dimensão financeira com a ecológica: o repouso da terra.

“De fato, não podemos enfrentar a crise do nosso ecossistema – diz ainda Pettifor – sem reformar o sistema econômico-financeiro. Uma linha direta conecta o crédito emitido pelos bancos, que abrem a torneira da liquidez, sem se preocuparem com a utilização que é feita desse dinheiro, e o impulso a um sistema baseado no hiperconsumo e na superprodução e, portanto, nas emissões de gases do efeito estufa.”

Para que isso possa ocorrer – diz Pettifor – o sistema financeiro global deve ser novamente controlado pela autoridade pública, enquanto hoje as finanças são controladas por autoridades privadas (Wall Street, City de Londres...).

“Enquanto as finanças não reguladas – escreve o jesuíta e economista francês Gaël Giraud em seu livro “Transição ecológica” – prometerem um rendimento de 15% ao ano, a poupança não poderá ser investida em um programa de industrialização verde, que só poderá ser rentável em longo prazo. Portanto, cabe a nós, dentro da sociedade civil, nas nossas Igrejas, exigir da política que adote as medidas necessárias para regular os mercados financeiros.” O sonho jubilar, que devemos perseguir, segundo Giraud, é o de que “dinheiro e crédito se tornem bens comuns”.

É por isso que, neste momento histórico, seria importante um Jubileu que ajude as comunidades cristãs a reencontrarem o “Grande sonho de Deus” expressado nas tradições jubilares e radicalizado por Jesus. Seria extraordinário se as Igrejas cristãs, reunidas no Conselho Mundial de Igrejas (CMI), esquecessem as polêmicas do passado sobre os jubileus e concordassem em proclamar um Jubileu ecumênico!

O Jubileu deveria levar as Igrejas a “uma conversão ecológica – como afirma o Papa Francisco na Laudato si’ – que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã” [n. 217].

 

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