22 Janeiro 2020
Piero Genovesi, responsável da coordenação da vida selvagem do Ispra (Instituto Superior de Proteção e Pesquisa Ambiental) e membro da Comissão de Sobrevivência das Espécies da IUCN, a União Mundial para a Conservação da Natureza.
A entrevista é de Vincenzo Foti, publicada por La Repubblica, 20-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Genovesi, como podemos explicar o termo biodiversidade?
O termo 'biodiversidade' existe apenas há poucas décadas. Nasceu para descrever a enorme variedade de vida na Terra, das bactérias e organismos unicelulares aos animais, plantas e fungos. Essa diversidade permite que os ecossistemas funcionem, torna saudáveis os ambientes dos quais nós mesmos dependemos.
Como está a biodiversidade no mundo? Está realmente caindo rapidamente?
Sim. Em 2019, a International Platform for Biodiversity and Ecosystem Services (Ipbes), na assembleia realizada em Paris, apresentou os resultados de uma avaliação mundial que revelou resultados muito preocupantes. A saúde dos ecossistemas está se deteriorando mais rapidamente do que jamais aconteceu na história da humanidade. E a causa é a ação do homem. A abundância de muitas espécies na Terra caiu em pelo menos 20% no século passado. Mais de 40% dos anfíbios, cerca de um terço dos corais, mais de um terço dos mamíferos marinhos estão em risco de extinção. Uma em cada dez espécies de insetos provavelmente desaparecerá, mas talvez os números sejam ainda mais altos. Tudo isso com velocidade que excede mil vezes aquela do processos naturais. Sempre pela da ação do homem.
Quantas espécies estão ameaçadas de extinção no mundo? Você pode nos dar alguns exemplos?
Estima-se pelo menos um milhão de plantas e animais. E alguns delas já poderiam desaparecer nas próximas décadas. Por exemplo, a vaquita do Golfo da Califórnia, um pequeno golfinho de 1,5 metro, que é morto pelas redes com as quais ainda se pesca, ilegalmente, na área. Restam bem poucos espécimes e se teme que não se consiga salvá-los. Outro exemplo é o sapo do Rio Pescado, no Equador, que também conta com poucos espécimes, e também foi dizimado pela destruição de seu habitat. Se pensamos em quantas florestas cortamos nas últimas décadas ... As plantas também estão em risco. Na Itália, temos o abeto dos Nebrodi, uma árvore única no mundo, da qual agora existem apenas 30 espécimes.
O que está sendo feito na Europa e no mundo para combater esse fenômeno?
É feita uma tentativa de aumentar as áreas protegidas, defender os ambientes da destruição dos habitats. Tenta-se regulamentar a pesca, reduzir o número de espécies invasoras. A Europa adotou uma regulamentação que entrou em vigor em 2015: para 62 dessas espécies são proibidos o comércio, a importação e a introdução na natureza. Também se procura defender os ambientes de água doce, particularmente vulneráveis. As análises científicas, contudo, mostram que, apesar dos aspectos positivos, os esforços são em grande parte insuficientes. É preciso fazer muito mais.
Qual é a relação entre aquecimento global e biodiversidade?
Os dois fenômenos estão intimamente conectados. Por um lado, a biodiversidade pode nos ajudar a conter os efeitos do aquecimento global. Por exemplo, as florestas são essenciais para fixar o dióxido de carbono, a principal causa das mudanças climáticas. Por outro lado, as mudanças climáticas são fator de perda de biodiversidade. De acordo com o relatório Ipbes, mais 5% das espécies estarão em risco de extinção se a temperatura do planeta aumentar 2 graus, se aumentasse de 4,3 graus, as espécies em risco por esse motivo chegariam a 16%.
Como estão as abelhas?
Mal. Cerca de 90% das plantas selvagens e 75% das cultivadas precisam de polinizadores para se reproduzir. As abelhas são o primeiro polinizador do mundo. Elas são ameaçadas em parte pela poluição, em parte por alguns parasitas e em parte, também, por espécies invasoras como a vespa asiática, um predador incrivelmente eficiente que está colocando em crise a agricultura na Ligúria, no Piemonte e até na Toscana.
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“Vamos defender os ecossistemas das ameaças do homem”. Entrevista com Piero Genovesi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU