A herança colonial da dívida climática por meio da ideia de raça

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14 Outubro 2019

“Como a evidência histórica nos mostra, países do ocidente, como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Austrália e Canadá, são os que nos últimos dois séculos mais impactaram o clima, em nível mundial, com seus sistemas de vida insustentáveis para o planeta. Por isso, do Sul Global, fala-se de uma dívida histórica desses países e da necessidade de garantir justiça climática para todas e todos, que anteponha os direitos dos povos e territórios aos dos estados e empresas”, escreve Andrés Kogan Valderrama, sociólogo e editor do Observatório Plurinacional de Águas no Chile. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

A propósito de uma nova comemoração da equivocada denominação dia da raça ou encontro entre dois mundos, neste dia 12 de outubro, é interessante refletir em que medida a crise socioambiental, na qual como seres humanos estamos envolvidos atualmente, tem uma relação direta com o surgimento de um novo sistema-mundo colonial, que da conquista aos nossos dias segue deixando pegadas nos diferentes territórios em que impôs o seu domínio.

Uma dessas pegadas é o que se conhece como dívida climática, que nada mais é do que o impacto brutal no planeta, nos últimos 200 anos, como resultado da industrialização explosiva de alguns países do Norte Global, a partir do século XIX, que com seus sistemas de vida baseados na produção e consumo ilimitados de bens, geraram efeitos irreversíveis para o planeta em sua totalidade.

Como a evidência histórica nos mostra, países do ocidente, como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Austrália e Canadá, são os que nos últimos dois séculos mais impactaram o clima, em nível mundial, com seus sistemas de vida insustentáveis para o planeta. Por isso, do Sul Global, fala-se de uma dívida histórica desses países e da necessidade de garantir justiça climática para todas e todos, que anteponha os direitos dos povos e territórios aos dos estados e empresas.

Não obstante, não é possível entender a expansão industrial desses países sem um processo anterior de colonização, a partir de 1492, que pôde se expandir graças à ideia de raça, que, como bem delineia o pensamento anticolonial, foi usada para classificar mundialmente diferentes grupos de seres humanos em níveis inferiores ou superiores. Consequentemente, a racialização de comunidades indígenas, durante a conquista, só pode ser entendida na medida em que os chamados índios foram vistos como seres selvagens, não civilizados e mais próximos da natureza.

Uma herança colonial mantida até hoje, que se evidencia em cada projeto extrativo aprovado e instalado em cada país da região, seja este mineiro, madeireiro, agroindustrial ou petroleiro, sendo sempre as comunidades indígenas as mais prejudicadas, dado o seu maior apego aos territórios. É por isso que é tão importante ser igualmente crítico tanto com governos conservadores, como com progressistas, já que todos estão presos à lógica do colonialismo interno, funcional ao extrativismo imperante.

No entanto, a dívida não deve ser paga em dinheiro, como argumentam alguns setores da esquerda, mas em decrescimento dos países mais industrializados, também com a inclusão de países não ocidentais, como a China, por exemplo, que é a maior poluidora do planeta. Por essa razão, também é indispensável inclui-la na lista de países ecocidas em nível planetário, independente se alguns setores decoloniais a vejam como uma aliada contra o Ocidente.

A China não terá usado a ideia de raça para expandir seu domínio econômico na atualidade, como aconteceu com os impérios do Ocidente, no entanto, também está assumindo um estilo de vida que tem a sua origem em 1492, baseado na extração de bens comuns da América Latina e África.

Por sua vez, seria bom que a Organização das Nações Unidas entendesse de uma vez que os Direitos Humanos devem ser estendidos aos Direitos dos Territórios, passando de uma perspectiva jurídica antropocêntrica para uma que inclua o restante dos seres vivos, de maneira a exigir dos Estados uma responsabilidade planetária em suas políticas. Não é possível que em cada cúpula pela crise climática, que ocorrem em diferentes países, siga-se pensando com a lógica dual, que separa a cultura da natureza, como se as sociedades pudessem se sustentar sozinhas, fora dos ecossistemas.

Certamente para os pregadores do crescimento econômico sem fim e especialistas em direito internacional, como é o caso de boa parte dos economistas e advogados, sejam de esquerda ou de direita, essas ideias vão parecer uma loucura, mas é a única maneira de construir em conjunto a ideia de uma nova justiça climática, que assuma responsabilidade sobre o aquecimento global e um sistema predatório, que afeta as populações mais empobrecidas, sejam humanas ou não.

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