De onde vêm essas polêmicas sobre o Sínodo?

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10 Setembro 2019

"Com estandartes, trajes que parecem militares e trombetas, alguns homens numa das capitais da Amazônia brasileira coletam assinaturas contra o Sínodo. Suas características bizarras chamam a atenção", escreve o Pe. Dário Bossi, Provincial dos Missionários Combonianos no Brasil, membro da Rede de Igrejas e Mineração e Assessor da REPAM-Brasil.

Eis o artigo.

Com estandartes, trajes que parecem militares e trombetas, alguns homens numa das capitais da Amazônia brasileira coletam assinaturas contra o Sínodo. Suas características bizarras chamam a atenção. Afirmam ser católicos, fazem parte de um grupo minoritário, muito ativo quando apoiou a ditadura militar, cuja missão é "a defesa da civilização cristã".
Esta não é a oposição que preocupa.

No entanto, não podemos subestimar outros níveis de crítica: por que tantas vozes contra o Sínodo da Amazônia?
A Assembléia Sinodal começa em 6 de outubro; será o ponto focal de um longo processo que deverá continuar nos anos seguintes, aplicando nos diferentes contextos da Pan-amazônia (Bolívia, Peru, Equador, Venezuela, Colômbia, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil) as decisões do discernimento realizado.

Precisamos aprofundar e apoiar este processo: ouvir profundamente a voz do Espírito que, como declara a encíclica Lumen Gentium, confere infalibilidade a todo o Povo de Deus, quando se expressa num consenso em matéria de fé.
Alguns destes consensos, porém, não agradam certas figuras do alto clero, que estão se expondo isoladamente, reivindicando um papel de "guardiões da ortodoxia".

A história da Igreja remete a uma eclesialidade pluriforme, que o Vaticano II resgatou com sua “volta às fontes” bíblicas e patrísticas. Nos primórdios do movimento de Jesus, as “Igrejas-filhas” iam nascendo de “Igrejas-mãe”, diferentes, mas sem se excomungarem. Encarnando o Reino de Deus, do qual elas são seu sacramento em seu contexto particular, as diferenças entre as Igrejas, longe de ser um perigo à unidade, atestavam o exercício de uma unidade de diversidades. A Igreja é “Igreja de Igrejas” locais, unidade presidida pela Igreja de Roma. Sua catolicidade ou universalidade está presente em cada Igreja Local, pelo fato de ter o mesmo, por inteiro, em comum com as demais [1].

Surpreende o fato que as principais críticas venham de membros da Igreja que conhecem muito pouco a Amazônia. Parece que a preocupação não seja tanto com a vida das pessoas nesta região, sua caminhada de fé, seu direito à Eucaristia e à participação cristã: parece que o Sínodo seja outra ocasião para consolidar a controvérsia de alguns setores da hierarquia eclesial contra o magistério do Papa Francisco.

Mas o Sínodo não busca apenas "novos caminhos para a Igreja": também se preocupa com a ecologia integral, no grave contexto de emergência climática e de devastação da Amazônia.

O texto base para os diálogos no Sínodo, chamado de "Instrumento de Trabalho", conseguiu sintetizar com fidelidade e coragem o grito de dor e denúncia dos povos e comunidades que se sentem cada vez mais afetados e ameaçados por um modelo de desenvolvimento predatório.

Preocupado com essa posição profética da Igreja, que se faz voz das vítimas, o governo brasileiro já levantou sua voz algumas vezes. Os militares comentaram que "as coisas se misturam e o Sínodo escapou para questões ambientais e também tem o viés político".

Os bispos, por sua vez, recordam a história da Igreja na Amazônia: “Quanto sangue, suor e lágrimas foram derramados na defesa dos direitos humanos e da dignidade, especialmente dos mais pobres e excluídos da sociedade, dos povos originários e do meio ambiente tão ameaçados”.

Em suma, o Sínodo está levantando muitas controvérsias. "Um sinal de contradição; assim serão revelados os pensamentos de muitos corações", como foi dito a Maria.

Nas mãos dela, Rainha da Amazônia, colocamos o discernimento e as decisões do Sínodo!

Nota:

[1] PUC-PR –Teologia, Encontro Latino-Americano de Estudos – Curso dos Bispos, CESEEP – Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, REPAM – Rede Eclesial Pan-amazônica, Missionários Combonianos – Subsídio preparatório ao Sínodo, São Paulo, Maio de 2019.

 

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