07 Mai 2019
"Caminhantes Brancos representam a ameaça que muitos negam, mas que é urgente combatê-la", escreve Jean Prado, jornalista, em artigo publicado por Greenpeace, 06-05-2019.
Eis o artigo.
Se você nunca viu Game of Thrones, arrisco-me a resumir uma das tramas principais: enquanto grupos influentes brigam por poder, forças que muitos julgam distantes ameaçam a vida do mundo inteiro. Alguns morrem por consequência dessas forças. Outros, chegam até a negar que elas existem. Para estranhos à trama, não parece que estou falando do aquecimento global? O paralelo entre Game of Thrones e as mudanças climáticas é mais próximo do que parece.
Quem assiste à série sabe que os Caminhantes Brancos aparecem desde a primeira temporada, mas uma parte de Westeros só se mobilizou para combatê-los nas duas últimas. Na história, muitos acreditam que eles sejam apenas uma lenda para assustar as crianças, até sofrerem diretamente com essa ameaça real.
Nas últimas temporadas da série (fique tranquilo, não vou dar spoiler) essa ameaça vai ficando cada vez mais perceptível. O frio vai se intensificando, as noites se tornam mais longas e os Caminhantes Brancos ficando cada vez mais fortes. Nessa temporada final, é impossível não traçar esse paralelo com o que estamos vendo em várias partes do planeta.
Essa é uma teoria que já apareceu em sites e fóruns e quanto mais você lê sobre a história dos Caminhantes Brancos, mais evidente ela fica. Eles foram criados para proteger os Filhos da Floresta (povos originários de Westeros) dos Primeiros Homens (os humanos que colonizaram Westeros). Mas os Caminhantes Brancos logo se revoltaram contra todos e dizimaram toda a vida no continente, perpetuando o maior inverno da história da série, chamado de Longa Noite. Eventualmente, os Filhos da Floresta e os Primeiros Homens conseguiram reconquistar Westeros e ergueram a Muralha para manter os Caminhantes Brancos bem longe de tudo. Por um tempo.
Até o escritor dos livros que inspiraram a série, George R. R. Martin, admitiu que o paralelo pode ser traçado. “Eu comecei a escrever Game of Thrones em 1991, muito antes de todo mundo estar falando sobre mudanças climáticas. Mas há — de forma ampla — um paralelo aqui. As pessoas de Westeros estão lutando suas próprias batalhas por poder e dinheiro. Elas fazem isso ignorando que ‘o inverno está chegando’. No mundo real, também lutamos contra muitas coisas importantes — política exterior, política interna, direitos civis, responsabilidade social, justiça social. Todas essas coisas são importantes. Mas nenhuma delas é importante se estivermos mortos e se nossas cidades estiverem mergulhadas no oceano”, ele disse ao jornal The New York Times.
Não podemos tomar o exemplo da Cersei e não levar o aquecimento global a sério. Já vimos como os brasileiros são impactados pelas mudanças climáticas, seja por seis anos de seca no sertão de Pernambuco que impediram uma pequena agricultora de prover comida para a região e para sua família ou por uma artesã que precisou abandonar sua casa após o mar engolir um pedaço na sua comunidade, no litoral de São Paulo. Não devemos esquecer que as chuvas cada vez mais fortes e frequentes no Rio de Janeiro também são um efeito das mudanças climáticas.
Assim como homens de muitos reinos se uniram para enfrentar os Caminhantes Brancos, essa luta contra o aquecimento global só é possível de ser enfrentada por todos nós e, infelizmente, não se resolve com vidro de dragão ou aço valiriano, mas sim menos carbono na atmosfera. Não há tempo a perder — precisamos agir agora.
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A verdadeira guerra em Game of Thrones é a guerra contra as mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU