'Super Bowl' do Vaticano sobre casos de abuso será avaliado por seus resultados

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20 Fevereiro 2019

Como já se sabe, o primeiro passo para resolver qualquer problema é reconhecer que ele existe. Assim, o fato de que um líder reformista da Igreja lançou o "Super Bowl" do Vaticano a respeito de casos de abuso clerical, denunciando a negação em todas as suas formas, pode ser considerado promissor.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 19-02-2019. A tradução é de Luísa Flores Somavilla

"O silêncio é inútil", disse o arcebispo de Malta Charles Scicluna, que ganhou a fama de Eliot Ness da Igreja Católica por seu papel como promotor de justiça do Vaticano para crimes de abuso sexual no papado de Bento XVI com o caso do padre Marcial Maciel Degollado, fundador da Legionários de Cristo.

"Seja cumplicidade, código de silêncio ou negação criminosa ou mal-intencionada, o que é traumático em estado primitivo, precisamos seguir em frente", disse.

Amém!

A questão é se a cúpula convocada pelo Papa Francisco para os dias 21 a 24 de fevereiro, reunindo 114 presidentes das conferências episcopais do mundo todo, bem como 15 líderes das Igrejas Orientais, 15 bispos dos territórios missionários, 14 membros da Cúria Romana, 5 membros do Conselho dos Cardeais que orienta o Papa, 12 líderes de ordens religiosas masculinas e 10 de femininas, conseguirá livrar-se desse tipo de negação.

Apesar dos esforços do Vaticano de não criar grandes expectativas para a cúpula e de Francisco ter dito a jornalistas que as expectativas precisam “baixar” ao voltar do Panamá no final de janeiro, esse período em Roma tem um gostinho de “Super Bowl". Ele reúne centenas de veículos de comunicação de todo o mundo, todos os especialistas e comentaristas que têm o que dizer sobre os escândalos de abuso sexual e bispos e outras pessoas do mundo todo.

(Só a conferência dos bispos dos EUA está levando um pequeno exército, incluindo especialistas de proteção infantil, advogados canônicos e equipe de comunicação).

Francisco deve fazer dois discursos, na abertura e no encerramento, e haverá 11 discursos no total. Não é preciso dizer que qualquer evento de três dias em que o Papa fala publicamente duas vezes é algo fora do comum.

Entre os outros palestrantes estão o Cardeal Luis Antonio Tagle, de Manila, nas Filipinas; o Cardeal Rubén Salazar Gómez, de Bogotá, na Colômbia; o Cardeal Oswald Gracias, de Mumbai, na Índia; o Cardeal Reinhard Marx, de Munique, na Alemanha, e Cupich. Em qualquer lista de figuras proeminentes deste papado, todos esses nomes iriam aparecer.

Uma conferência de imprensa que aconteceu na segunda-feira, no Vaticano, já pareceu intensa, longe de não apresentar nada para ser explorado. Os participantes eram um desfile de estrelas, incluindo Scicluna, o padre jesuíta Federico Lombardi, antigo porta-voz papal, o Cardeal de Chicago Blase Cupich e o padre jesuíta alemão Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores e líder do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana.

Também na segunda-feira, o Vaticano divulgou um pacote de imprensa para a reunião em formato digital em italiano, francês, espanhol e inglês, o que geralmente é reservada aos grandes eventos, como conclaves, consistórios (quando são criados novos cardeais) e sínodos episcopais.

Se tudo isso é baixar expectativas, não imagino como seria aumentá-las. A grande incógnita é se os resultados do evento farão jus à sensação que ele causa.

Se a cúpula, como sugeriu Scicluna, visa acabar o clima de negação, no mínimo pode significar duas coisas.

Primeiro, afirmar uma política de “tolerância zero" a crimes de abuso sexual de menores, não apenas no sentido genérico de desaprovação, mas no significado específico do termo nos Estados Unidos e outras partes do mundo católico: remoção permanente do ministério por até mesmo uma acusação fundamentada.

Em segundo lugar, também significaria "tolerância zero" ao acobertamento de casos de abuso sexual. A maioria dos observadores diz que deve significar mais do que aceitar silenciosamente a demissão de bispos acusados, mas sim o mesmo processo na lei da Igreja e as mesmas penalizações severas impostas aos abusadores atualmente, como a excomunhão.

"Espero que as pessoas vejam [esta cúpula] como um ponto de virada”, disse Cupich na conferência de imprensa de segunda-feira.

Com toda a honestidade, todos sabem como seria um ponto de virada de verdade, e envolve os dois pontos acima.

Agora, o Vaticano parece estar fazendo tudo que pode para convencer o mundo de que há um grande esforço para acabar com os casos de abuso. No entanto, o novo diretor editorial do Vaticano, Andrea Tornielli, disse em uma entrevista recente ao Crux que não é uma reunião de especialistas, mas de pastores, cuja responsabilidade final é proclamar e viver o Evangelho.

Assim, uma frase do Evangelho vem a calhar: “Vocês os reconhecerão por seus frutos”. Em última análise, o teste da cúpula não será ter palestrantes de alto nível ou volume de material lançado para a imprensa, mas os resultados produzidos - e, com certeza, as pessoas estarão acompanhando.

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