Profeta do Concílio. Arrupe: está aberta a fase diocesana para a causa de beatificação

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06 Fevereiro 2019

Ser homem para os outros. Este foi o lema da vida e a orientação apostólica do Padre Pedro Arrupe (1907-1991), o segundo basco após Inácio de Loyola a liderar a Companhia de Jesus na tempestade que se seguiu ao Concílio, de 1965 a 1983.

A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada por Avvenire, 05-02-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Foi aberta nesta terça-feira, em Roma, a causa de beatificação do padre jesuíta que liderou a Companhia durante o Vaticano II, foi missionário no Japão, criador da opção pelos “pobres” e foi o primeiro preposto geral a pedir demissões.

A abertura da fase diocesana no Palácio de Latrão, na presença do Cardeal vigário De Donatis e do atual superior geral Sosa. O postulador Cebollada explica: assim será possível recuperar a sua espiritualidade.

Pedro Arrupe com o Papa Paulo IV durante o Concílio.

Paulo VI recebeu o Padre Pedro Arrupe, que foi eleito prepósito da Ordem dos Jesuítas em 1965, durante o Concílio Vaticano II.

Ser homem para os outros. Este foi o lema da vida e a orientação apostólica do Padre Pedro Arrupe (1907-1991), o segundo basco após Inácio de Loyola a liderar a Companhia de Jesus na tempestade que se seguiu ao Concílio, de 1965 a 1983. E, provavelmente, este slogan símbolo de "Dom Pedro", como era comumente chamado pelos "seus" coirmãos, repercutirá hoje - o mesmo dia em que, em 1991, o carismático inaciano morreu na enfermaria da Cúria da Ordem em Roma - durante a abertura Oficial às 16h da causa de beatificação, em Roma, no Palácio de Latrão, na presença do cardeal vigário de Roma, Angelo de Donatis e do terceiro sucessor de Arrupe, o atual geral da Companhia, o venezuelano Arturo Sosa Abascal.

"Este ato - explica o postulador da causa, Pascual Cebollada, jesuíta espanhol nascido em 1960 - vai nos permitir fazer uma primeira panorâmica histórica desta figura, reler seus escritos, a sua espiritualidade, e também para levar a cabo uma investigação inicial através dos testemunhos daqueles que o conheceram e assim apurar em profundidade como praticou e viveu as virtudes cristãs. Na esteira da melhor tradição dos Exercícios, ele foi um profundo conhecedor da ‘humanidade de Cristo’". Um personagem, Arrupe, na devota memória de gerações de jesuítas: basta pensar na admiração manifestada a ele por homens da magnitude de Carlo Maria Martini e Jorge Mario Bergoglio, que logo após ter sido eleito Pontífice, em julho de 2013 foi em peregrinação ao túmulo do amado geral em Roma. E Arrupe também foi missionário no Japão. Tendo se tornado mestre dos noviços, estava em Hiroshima quando, em 6 de agosto de 1945, foi lançada a bomba atômica sobre a cidade. Para ajudar a população, transformou o noviciado em hospital de campanha e, graças à sua formação médica, ajudou muitos feridos. "Não é por acaso que desse episódio tenha se originado nele um sentido de atenção pelos últimos, ‘o amor fundamental pelos pobres’- ressaltou Cebollada – que serão junto com a missão e a inculturação um dos traços fundamentais de sua direção ao lado da questão da justiça social".

Mas o que mais chama a atenção no aspecto de santidade desse religioso, conhecido também por sua capacidade de ser "um excelente comunicador" - em 1973, a prestigiosa revista Time vai dedicar-lhe uma capa - e considerado, precisamente por isso, pela mídia de seu tempo em certo sentido como o último "Papa negro" dos jesuítas, é a sua índole de viver sempre na insígnia de uma sobriedade tipicamente inaciana. "Analisando sua longa existência – observa o postulador – se percebe como é edificante o seu estilo de pobreza pessoal e como durante a sua direção houve uma completa redescoberta das fontes originais de espiritualidade inaciana. E a própria palavra "discernimento", agora tão em voga, tem nele um dos inspiradores em uma abordagem de linguagem também no nível pastoral". E ele observa: "Da mesma forma que Inácio ajudou os jesuítas a implementar o Concílio de Trento, assim Arrupe fez com o Vaticano II".

No entanto, os 18 anos de governo de Arrupe também foram marcados por momentos de "incompreensão" e "atrito" com a Santa Sé. A 32ª Congregação da Companhia (1974-1975) por ele presidida iria emitir um pedido para estender o 4º voto de obediência a todos os jesuítas (rejeitada por Paulo VI) e a renúncia como superior geral (a primeira na história da Ordem para um cargo que Inácio tinha planejado para toda a vida) aceita por João Paulo II por causa de um acidente vascular cerebral com danos permanentes que atingiu o sacerdote basco em 1981. Para o interregno na condução da Ordem o Papa Wojtyla nomeou como seus "delegados pessoais" dois jesuítas: o milanês Paolo Dezza (o confessor de Paulo VI) e Giuseppe Pittau, da Sardenha A intervenção durou até a eleição do sucessor, o holandês Peter Hans Kolvenbach em 1983.

"Se for analisada profundamente a ação de Arrupe - confidencia Cebollada – deixa-nos impressionados a sua admiração e obediência como autêntico jesuíta ao Romano Pontífice. Para ele, o Papa é o Papa, e pronto. Muitas vezes ele foi contraposto a João Paulo II, mas se for analisada a visão em torno da evangelização e das questões sociais, encontram-se muitos pontos em comum entre os dois: eles tinham o mesmo espírito missionário". Um religioso de estirpe, portanto, que dentro da Companhia ainda é memória viva: no mundo todo há centros de pesquisa, de espiritualidade ou de ajuda aos refugiados dedicados a ele, incluindo o Jesuit Refugee Service Astalli de Roma. "Por enquanto não há milagres atribuíveis a ele – reflete por fim o postulador -. Existem indícios, pequenos sinais que, no entanto, apoiam a sua ‘fama de santidade’. Ele foi para nós, como disse o padre Kolvenbach, ‘o profeta da renovação conciliar’".

Em comum com Inácio de Loyola, a origem basca Pedro Arrupe (1907-1991) foi, depois Inácio de Loyola, o segundo religioso oriundo do País Basco nomeado como 28º sucessor do fundador para conduzir a Companhia de Jesus por 18 anos, a partir de 1965 até 1983. Entre os dados singulares de sua gestão houve na longa história da Ordem um primado: em 1965 os jesuítas tocaram o pico de sua presença numérica: 36 mil religiosos (divididos em professos, coadjuvantes espirituais e temporais) que desceu para 25 mil no ano de sua morte em 1991. Arrupe foi o último prepósito da Companhia de Jesus em seus mais de 450 anos de história a ter um rito fúnebre na igreja mãe da ordem de "Jesus" de Roma, onde descansam os restos mortais de Santo Inácio de Loyola. As exéquias do "Papa negro", segundo a tradição, foram realizadas em 9 de fevereiro de 1991 e celebradas pelo mestre da Ordem dos Dominicanos (foi o último caso na história da Companhia), o irlandês Damian Byrne. Pedro Arrupe desde 1997 teve o privilégio de ser sepultado na Igreja del Gesù, em Roma. Seu pequeno monumento fúnebre está localizado em frente ao de outro jesuíta que conduziu a Companhia de Jesus, em anos turbulentos, o holandês Jan Roothaan.

Um site mantido pelos coirmãos relembra a sua vida

Por ocasião da abertura da causa de beatificação, a Cúria Geral dos Jesuítas criou uma página web dedicada ao seu Geral Pedro Arrupe: arrupe.jesuitgeneral.org/en.

O site permite conhecer de perto, através de uma detalhada galeria fotográfica, a história e o apostolado deste religioso.

Biografias

Atualmente sobre a figura deste jesuíta carismático foram escritas muitas biografias.

Entre estas, destacamos o ensaio do historiador Gianni La Bella (Il Mulino, 2007); 

  - "Pedro Arrupe. Um uomo per gli altri (Pedro Arrupe. Um homem para os outros), a obra de seu biógrafo mais respeitado, o jesuíta Pedro Miguel Lamet, escrita para a Àncora em 1993;

- "Pedro Arrupe. Un’esplosione nella Chiesa” (Pedro Arrupe. Uma explosão na Igreja);

- e, finalmente, aquela escrita para a editora Paulinas, em 1998, pelo historiador assistente de sua gestão, Jean Pierre Calvez "Pedro Arrupe. La Chiesa dopo il Vaticano II” (Pedro Arrpe. A Igreja depois do Vaticano II).

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