Papa Francisco chama os bispos dos EUA a trabalhar contra o acobertamento, o conflito e a divisão

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07 Janeiro 2019

Em uma contundente carta de oito páginas aos bispos dos EUA, o Papa Francisco os repreendeu não apenas por acobertar casos de abuso sexual, mas por pelas divisões e conflitos insalubres criados entre si que prejudicaram “seriamente” a credibilidade da Igreja.

“O Povo fiel de Deus e a missão da Igreja já sofreram e sofrem muito, devido aos abusos de poder, consciência, sexuais e da má administração, além do sofrimento de encontrar um episcopado desunido, mais concentrado em apontar o dedo uns aos outros do que em encontrar formas de reconciliação”, diz o Papa.

A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada por National Catholic Reporter, 03-01-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Nota de IHU On-Line: a íntegra da carta, em espanhol, pode ser lida aqui

"Claramente, um tecido vital foi danificado e, como artesãos, somos chamados a reconstruir”, dizia a carta de Francisco aos bispos, que estão participando de um retiro de 2 a 8 de janeiro, uma solicitação do Papa como parte da resposta dos bispos à atenção renovada do clero ao abuso sexual.

Essa reparação exigirá humildade e servidão para restaurar a confiança - em vez de egocentrismo, competição e "preocupação com marketing ou estratégias para recuperar o prestígio perdido ou buscar elogios", escreveu o Papa.

Desde que vieram à tona as revelações do ano passado sobre a má conduta do então cardeal Theodore McCarrick e o relatório da Suprema Corte da Pensilvânia que detalhou décadas de abuso supostamente cometido por centenas de sacerdotes, os bispos dos EUA não conseguiram responder como um órgão unificado, e o debate na Igreja acabou se transformando em brigas típicas da "guerra cultural".

O Papa citou as palavras de Jesus aos discípulos em conflito para deixar claro que acredita que "vocês não podem ser assim". Ele pediu uma "irmandade espiritual colegial que não ofereça respostas banais nem aja defensivamente".

“Isso exige de nós a decisão de abandonar um modus operandi que deprecia, descredibiliza, se faz de vítima ou de reprovador nas nossas relações, e dar lugar à brisa gentil que só o Evangelho pode oferecer”, afirmou Francisco.

"Vamos tentar quebrar o círculo vicioso da recriminação, destruição e descrédito, evitando fofocas e calúnias e buscando um caminho de oração e aceitação arrependida de nossas limitações e pecados e promovendo o diálogo, a discussão e o discernimento."

O Papa citou o recém canonizado São Paulo VI: "Para sermos pastores, pais e professores, também temos de agir como irmãos."

“Em meio à desolação e à confusão que as nossas comunidades vivem, nosso principal dever é encontrar um espírito comum capaz de nos ajudar no discernimento, não para obter a tranquilidade fruto de um equilíbrio humano ou de um voto democrático que faça "vencer" uns sobre os outros”, diz Francisco. E destaca: "Isso não!"

“Trata-se de encontrar um modo colegial e paternal de assumir a situação atual, que sobretudo proteja do desespero e da orfandade espiritual o povo que nos foi confiado”, disse.

A carta foi enviada no dia 2 de janeiro com os cerca de 280 bispos que compareceram ao retiro no Seminário de Mundelein, nos arredores de Chicago, e foi divulgada ao público no dia 3 de janeiro. É uma carta papal semelhante à escrita aos bispos do Chile, em maio de 2018, mas concentra-se mais nos conflitos internos dos bispos dos Estados Unidos, dizendo que "podem ameaçar a comunhão fraterna".

"Nossa catolicidade está em jogo também na nossa capacidade de pastores de aprender a ouvir uns aos outros, dar e receber ajuda e trabalhar juntos", escreveu.

O Papa observa que os pecados e crimes de abuso sexual e acobertamento "afetaram profundamente a comunhão dos bispos e não geraram tensões e discordâncias necessárias e saudáveis que se encontram em qualquer órgão que tenha vida, mas divisão e dispersão”.

Francisco cita a incapacidade, "como comunidade, de criar laços e espaços saudáveis, maduros e que respeitem a integridade e a privacidade de cada pessoa" e de "unir as pessoas e despertar confiança na construção de um projeto comum, amplo, humilde, seguro, sóbrio e transparente”.

Assim como os Evangelhos não têm medo de mencionar as "tensões, conflitos e disputas" que havia entre os discípulos de Jesus, o Papa pediu que os bispos reflitam em oração sobre se suas ações são realmente úteis e se fazem lembrar o Evangelho".

"De forma simples, ter cuidado para que 'a cura não seja pior do que a doença'", diz o Papa.

Na verdade, o Papa convida para uma "nova organização eclesial", marcada pela conversão espiritual “de nossa maneira de rezar, de administrar poder e dinheiro, de exercer autoridade e de nos relacionarmos uns com os outros e com o mundo”.

Mudanças organizacionais são "necessárias, mas insuficientes", disse.

A credibilidade perdida "não se recupera com novos decretos voluntários ou simplesmente criando novas comissões ou melhorando os organogramas de trabalho como se estivéssemos cuidando de um departamento de recursos humanos. Uma visão desse tipo acaba reduzindo a missão do bispo e a da Igreja a uma mera tarefa administrativa ou organizacional no 'empreendimento da evangelização'”, observa Francisco.

O Papa pede que os bispos entrem em "comunhão afetiva com nosso povo". Isso, para ele, pode "nos libertar da busca de formas falsas, superficiais e fúteis de triunfalismo que defende espaços em vez de iniciar processos" e "nos impede de abordarmos certezas que devolveriam nossa confiança e de nos aproximarmos e encararmos a extensão e as implicações do que aconteceu".

Tal conversão por parte dos bispos também "ajudará na busca de medidas adequadas sem falsas premissas falsas ou formulações rígidas que já não são capazes de falar ou mexer com os corações dos homens e das mulheres dos tempos atuais.

Para Francisco, a reconciliação virá somente "se deixarmos de projetar nos outros as nossas confusões e insatisfações, que são obstáculos à unidade, e nos atrevermos a nos ajoelhar diante do Senhor, deixando-nos interrogar pelas suas feridas”.

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