06 Janeiro 2019
Uma carta aos bispos estadunidenses que traça um caminho para toda a Igreja. Assim afirma, no seu editorial, Andrea Tornielli, diretor do Vatican News, 04-01-2019: é na resposta sugerida por Francisco que deve se buscar o coração da missiva.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A carta que Francisco enviou como sinal da sua proximidade pessoal aos bispos estadunidenses reunidos em retiro espiritual em Chicago oferece uma chave de leitura para compreender o seu olhar sobre a crise dos abusos, também em vista do encontro de fevereiro no Vaticano.
No discurso à Cúria Romana do dia 21 de dezembro passado, o papa havia se expressado de modo difuso, determinado e forte sobre esse tema. Agora, na mensagem aos bispos dos Estados Unidos, ele não se delonga em examinar o fenômeno dos abusos de poder, de consciência e sexuais contra menores e adultos vulneráveis, e vai à raiz do problema, indicando uma saída.
“A credibilidade da Igreja – reconhece o pontífice mais uma vez – viu-se fortemente questionada e debilitada por esses pecados e crimes, mas especialmente pela vontade de querer dissimulá-los e escondê-los.” Mas é na resposta sugerida que deve se buscar o ponto central da carta.
Francisco adverte em relação a confiar demais em ações que pareçam “úteis, boas e necessárias”, e até mesmo “justas”, mas não tem “sabor de Evangelho”, se tendem a reduzir a resposta ao mal apenas a um problema organizacional.
Nem sempre tem “sabor de Evangelho” uma Igreja transformada em “agência de recursos humanos”, que coloca a própria confiança apenas nas estratégias, nos organogramas, nas best practices empresariais, em vez de confiar principalmente na presença d’Aquele que, há 2.000 anos, a guia, na força salvífica da graça, na obra silenciosa e cotidiana do Espírito Santo.
Há vários anos, os pontífices introduziram normas mais adequadas e severas para combater o fenômeno dos abusos: outras indicações virão do debate colegial entre os bispos de todo o mundo unidos com Pedro. Mas o remédio poderia ser ineficaz se não for acompanhado pela “conversão da nossa mente (metánoia), do nosso modo de rezar, de gerir o poder e o dinheiro, de viver a autoridade e também de como nos relacionamos entre nós e com o mundo”.
A credibilidade não é reconstruída com estratégias de marketing. Poderá ser o fruto de uma Igreja que sabe superar divisões e contraposições internas. Uma Igreja cuja ação brota do fato de refletir uma luz que não lhe é própria, mas que lhe é continuamente doada. Uma Igreja que não anuncia a si mesma e a própria bravura, feita de pastores e fiéis que, como afirma o papa, reconhecem-se pecadores e convidam à conversão, porque experimentaram e experimentam sobre eles o perdão e a misericórdia.
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Abusos: Papa Francisco indica uma saída. Editorial da Sala de Imprensa do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU