Igreja e abusos, é uma crise sistêmica

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21 Agosto 2018

As novas notícias sobre os abusos dos Estados Unidos - um grande júri encontrou centenas de casos em 54 municípios dos 67 da Pensilvânia, 300 padres responsáveis por abusos, mais de 1.000 menores vítimas - já tiveram efeitos devastadores. O cardeal Wuerl, arcebispo de Washington, anunciou que não irá a Dublin para o encontro mundial de famílias. O cardeal Farrell está sendo atacado por esses casos e pelo caso do cardeal McCarrick.

O artigo é de Fabrizio Mastrofini, jornalista, especialista em temas religiosos e comunicação e autor de vários livros, publicado por Settimana News, 20-08-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Não era possível que não se soubesse, dado que muitos sabiam e ficavam em silêncio.

Não é suficiente dizer que os casos coletados pelo Grande Júri param no ano 2000. Para os "defensores", seria uma prova de que as normas colocadas em ato a partir daquele momento em diante funcionam.

Uma questão complexa

A questão não é tão simples. Para simplificar, podemos raciocinar seguindo dois aspectos intimamente relacionados.

A Igreja Católica está passando por uma crise estrutural, uma crise sistêmica, da qual os abusos representam apenas a ponta do iceberg. É um modelo organizacional, teológico e pastoral que não funciona mais.

A Igreja clericalizada é um modelo organizacional já deficitário; a pouca ou nenhuma participação dos leigos - sempre subordinados ao sacerdote - não tem razão de ser.

Os métodos de recrutamento e formação do clero devem ser revistos. Sim, claro, temos uma nova Ratio para a formação.

Antes de produzir efeitos levará anos e em qualquer caso, até que esteja "liberada" a psicologia e não forem "liberadas" as ciências humanas nos processos de avaliação, não haverá resultados.

Mas acima de tudo, é o modelo organizacional que está em crise. (Crise sistêmica, como me esforço em reiterar - se os leitores permitirem e se o diretor de Settimananews permitir. E esforço-me em repeti-lo sem encontrar audiência, tanto que uma reflexão a respeito o leitor interessado poderá encontrá-la na Amazon, publicada por minha conta, pois os editores católicos a declinaram um após o outro).

E aqui, a parir da pequena história pessoal vou para outro aspecto da crise sistêmica: não temos (até agora) um sistema de controle. Assim, as mudanças anunciadas ou desejadas – demissões dos bispos responsáveis por acobertamentos, mudanças da Ratio, cursos de formação, centros de prevenção e formação e assim por diante - não servem pura e simplesmente porque tudo se desenvolve dentro do mesmo mundo que produziu o problema.

Mudanças radicais

Se a cúria romana, os bispos norte-americanos, os bispos chilenos, e assim por diante soubessem pelo menos um pouco de psicologia cognitiva (e os EUA têm especialistas de renome mundial) saberiam que, para realmente mudar uma estrutura consolidada é preciso assumir um ponto visão externo. Enquanto se permanecer sempre no âmbito do clero ou de uma visão clerical, como seria possível mudar? Mudança significa, nesse caso, mandar para casa toda uma liderança que falhou (leia-se: bispos, superiores religiosos, diretores de seminário), introduzir procedimentos externos de controle, avaliações sérias por parte de especialistas, real incidência de um novo modelo de formação. E mudança da estrutura teológico-pastoral de tipo clerical.

Há muito (realmente muito!) para ser feito no curso de um pontificado. E, de fato, a gravidade e a magnitude do problema exigiriam soluções de médio e longo prazo, válidas de um pontificado ao outro com procedimentos rigorosos. Mas quem poderá fazer isso?

No entanto, sem uma reflexão e sem procedimentos efetivos, a crise sistêmica está destinada a se intensificar.

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