Chile. Cardeal defende a si mesmo na abertura da reunião do papa com bispos chilenos

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16 Mai 2018

O arcebispo emérito de Santiago negou que tenha acobertado um padre abusivo no Chile, mas reconheceu a popularidade e a habilidade do padre de produzir seminaristas, o que pesou em sua tomada de decisão.

A reportagem é publicada por Pulso, 15-05-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O cardeal Javier Errázuriz escreveu uma carta no dia 10 de maio a seus coirmãos bispos denunciando a “difamação” a que ele foi submetido e defendendo o modo como ele tratou o caso no centro do escândalo dos abusos sexuais e encobrimentos no Chile. Esse escândalo está no centro de uma cúpula de emergência entre o Papa Francisco e 34 bispos que começou nessa terça-feira para tentar mapear uma estratégia de recuperação da crise que desacreditou a Igreja chilena e manchou a reputação de Francisco.

O Vaticano disse que, durante a primeira sessão nessa terça-feira, Francisco entregou aos bispos uma lista de temas sobre os quais eles deveriam rezar até se reunirem novamente na tarde de quarta-feira, usando o tempo intermediário “exclusivamente para meditar e rezar”.

Na carta de Errázuriz, obtida pela Associated Press, o arcebispo emérito insistiu que estava apenas seguindo a lei da Igreja, esperando o tempo necessário para iniciar uma investigação sobre o Pe. Fernando Karadima. Somente em 2009, cerca de cinco anos depois de receber a primeira denúncia, ele iniciou o processo.

Errázuriz escreveu que foi “difícil” alcançar o padrão exigido pelo Vaticano para estar convencido de que as acusações eram “pelo menos prováveis”, dada a popularidade de Karadima. Errázuriz admitiu anteriormente que não acreditou nas vítimas inicialmente e, posteriormente, chamou uma delas de mentirosa e “serpente”.

“Eles estavam acusando um padre com um grande chamado pastoral, cuja pregação enriqueceu mais de 30 jovens que foram ordenados padres e quatro padres que foram consagrados bispos”, escreveu Errázuriz. “Eles também acusaram um padre que inspirou uma associação de jovens que propagou sua fama.”

Embora as vítimas de abuso sexual há muito acusem o Vaticano e a hierarquia católica de proteger os padres predadores – especialmente aqueles que atraem novas vocações e doações – é raro que um bispo admita livremente que tais considerações pesaram sobre o fato de acreditar ou não em uma denúncia.

As vítimas acusaram Errázuriz de encobrir suas denúncias para proteger Karadima, um “queridinho” dos católicos chilenos conservadores, cuja habilidade em produzir vocações o tornou estimado pela hierarquia da Igreja. As vítimas repetiram suas acusações no início deste mês, no fim de uma visita de quatro dias a Francisco, que fez uma reviravolta no escândalo chileno depois de desacreditar inicialmente as vítimas.

Além da demora em iniciar uma investigação, os sobreviventes apontam para uma carta que Errázuriz escreveu em 2006, bem depois de receber as primeiras denúncias, nas quais o arcebispo assegurou a Karadima que ele não estava sendo “punido” ao concordar em deixar sua paróquia.

“Você quer ser santo, e é assim que os santos fazem”, escreveu Errázuriz, dando a Karadima alguns pontos sobre como transformar sua saída de sua comunidade simplesmente como uma aposentadoria. Mais tarde, Karadima seria condenado e sentenciado pelo Vaticano a uma vida inteira de penitência e oração pelos seus crimes sexuais.

Outro documento publicado no portal de notícias The Clinic, no Chile, inclui minutas de uma reunião no dia 31 de maio de 2010 mostrando como Errázuriz e quatro bispos formados por Karadima planejaram limitar o dano à reputação causado pelas acusações.

Outra carta de 2010 mostra Errázuriz persuadindo um protegido de Karadima a explicar que o silêncio comprado de um acusador deveria ser explicado como uma doação de caridade ou como uma “obra de misericórdia”, para não levantar suspeitas.

As vítimas do Karadima processaram a Arquidiocese de Santiago nos tribunais chilenos por causa de um suposto encobrimento em 2013, mas perderam. Um recurso está pendente.

Em sua carta, Errázuriz ressaltou que, uma vez iniciada a investigação, ele pressionou para que a prescrição fosse levantada, “considerando a seriedade” das acusações contra Karadima.

“Está claro que nunca houve qualquer crime ou encobrimento” da parte dele, escreveu ele. Errázuriz disse que quis esclarecer as coisas – e foi instigado por apoiadores não identificados a fazer isso – porque “tenho sido difamado publicamente nas últimas semanas, rotulado como delinquente, criminoso” pelas vítimas de Karadima.

Embora desafiador, Errázuriz disse que, se tivesse que fazer isso de novo, ele não entregaria a investigação a um representante, como fez. Ele disse que isso serviu para distanciá-lo das vítimas.

“Essa distância feriu injustamente as vítimas de uma maneira que eu nunca pretendi”, escreveu. “Peço desculpas profundamente porque essa ferida não foi curada.”

Errázuriz está em Roma para os encontros com Francisco, assim como três bispos formados por Karadima, que se espera que peçam a renúncia. As vítimas de Karadima os acusam de terem testemunhado e ignorado os abusos, uma acusação que eles negam.

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