12 Mai 2018
Uma dezena de prelados tomaram seus voos ao Vaticano para a reunião com o Papa. A maioria não quis fazer declarações. O Episcopado emitiu um comunicado intitulado: Com a esperança de uma fecunda renovação.
A reportagem é de María José Blanco, publicada por La Tercera, 10-05-2018. A tradução é do Cepat.
“Para colaborar ‘no discernimento das medidas que a curto, médio e longo prazo deverão ser adotadas para restabelecer a comunhão eclesial no Chile, com o objetivo de reparar no possível o escândalo e restabelecer a justiça’. Com humildade e esperança atendemos ao chamado”.
Assim, recordando ao pé da letra uma frase da carta que o Papa lhes enviou, no último dia 8 de abril, os bispos da Conferência Episcopal do Chile, através de um comunicado, expressaram o ânimo com o qual se apresentarão ao Pontífice, entre os próximos 14 e 17 de maio.
Reiteramos nossa união com o Papa Francisco, na dor e vergonha expressada diante dos crimes cometidos contra menores e adultos em ambientes eclesiais. Reconhecemos que, apesar das ações realizadas nestes anos pela Igreja, nem sempre se conseguiu curar as feridas dos abusos, que continuam sendo uma chaga aberta”, acrescentou-se no documento.
Desse modo, enquanto o primeiro grupo de bispos partia para o Vaticano, no voo A2689 da companhia aérea Alitalia, a Conferência Episcopal do Chile intitulava sua declaração: Com a esperança de uma fecunda renovação.
Os rostos estavam relaxados, inclusive sorridentes, mas a tensão também se notava no ambiente. Inclusive, pela expectativa da imprensa. Aquela carta de abril foi categórica. Direta. O Papa convalidou os depoimentos dos denunciantes de Karadima, disse sentir “dor e vergonha”, lamentou não ter recebido “informação verdadeira e equilibrada”, e sugeriu colocar a Igreja chilena em “estado de oração”. Esse documento, cheio de crítica e autocrítica, é a gênese da viagem dos bispos que massivamente foi iniciada nesta quinta-feira, e que conta com todos os olhos do mundo colocados sobre a Igreja local. Claramente, não é um passeio.
A reunião, que durará três dias e meio, terá como eixo central as conclusões do relatório que o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, elaborou, por ordem papal, a respeito das denúncias sobre eventuais acobertamentos do bispo de Osorno, Juan Barros, no caso Karadima.
Os 31 membros da Conferência Episcopal que viajam sabem o que enfrentam. Uma reunião na qual o Papa poderá introduzir mudanças profundas na cúpula eclesial chilena.
Por volta das 9h, no Aeroporto de Santiago, os prelados começaram a ser vistos. Vários já estão na Europa, como os bispos Juan Barros (Osorno), Horacio Valenzuela (Talca) e Tomislav Koljatic (Linares) - os três mais vinculados ao ex-pároco de El Bosque -, além de Bernardo Bastres (Punta Arenas). Mas, a grande maioria partiu nesta quinta-feira.
Um dos primeiros a aparecer no setor de conexões internacionais e solitariamente foi o bispo de Iquique, Guillermo Vera, que disse ao La Tercera que este “é um momento de diálogo, de nos escutarmos, de escutar o Papa e de buscar o melhor para a Igreja no Chile”.
Vera, que durante 15 minutos permaneceu na fila para o check-in de forma silenciosa, acrescentou que “é bom que o Papa nos reúna e queira conversar. Isso fala de sua preocupação com a Igreja, que deve ser uma comunidade de luz e esperança”.
Poucos minutos depois, no mesmo setor do terminal aéreo, chegou o bispo de Ancud, Juan María Agurto, que concordou com Vera e fez um mea culpa a respeito de como os religiosos devem servir o país. “Tanto o Papa Bento como o Papa Francisco receberam as vítimas destes fatos. Recordemos que (Francisco) fez isto aqui também, no Chile, sendo assim escutaremos toda a avaliação que o Papa reuniu e juntos discerniremos, como pastores, sobre o modo como devemos continuar caminhando”.
De forma paralela, mas pelo setor VIP do aeroporto, começaram a chegar outros bispos. Entre eles, Carlos Pellegrin (Chillán), junto ao bispo emérito de La Serena, Manuel Donoso.
Em seguida, chegou Jorge Vega, de Illapel, e Cristián Contreras Villarroel, de Melipilla. Pouco tempo depois, no mesmo local, se apresentaram o bispo auxiliar de Santiago, Fernando Ramos; Cristián Contreras Molina, de San Felipe; e o bispo de Rancagua, Alejandro Goic, que destacou, em relação ao encontro, que “não há nada a dizer”.
O último a chegar nesse setor foi o arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati. Desceu de seu carro e se dirigiu diretamente ao espaço VIP, sem dar declarações. Nesta sexta-feira, viajará outro grupo, entre os quais está o bispo de San Bernardo, Juan Ignacio González. No sábado, os últimos, e na segunda-feira os 31 estarão no Vaticano.
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A viagem mais incerta vivida pela Igreja chilena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU