Reconhecendo as contradições do presente, adolescentes e jovens debatem a democracia

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Por: Ana Paula Abranoski e Viviane Aparecida Ferreira de Lara Matos | 14 Abril 2018

Juventudes e democracia. Foi para abordar esta temática que na manhã do dia 10 de abril, terça-feira, estudantes do Colégio Estadual Santos Dumont, na periferia de Curitiba, estiveram reunidos para o segundo encontro pelo ciclo de debates e vivências Juventudes, direitos humanos e democracia, promovido pelo CEPAT, em parceira com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU e o Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR.

A oficina foi mediada pelos educomunicadores do coletivo Parafuso Educomunicação: Diego Henrique da Silva, Juliana Cordeiro e Paula Nishizima.

Em um primeiro momento, foram exibidas fotos representativas do exercício democrático e, ao mesmo tempo, da violência exercida pelo Estado contra a população. Trabalhou-se a partir da problematização de temas já abordados no encontro anterior, redimensionando seus aspectos: democracia, mito da democracia racial, papel da mídia, participação social das juventudes, etc.

Os(as) adolescentes e jovens foram instigados(as) a escrever palavras-chave sobre algum sentimento, lembrança ou reflexão que aquela foto despertou neles(as), fazendo com que se manifestassem por escrito e, em seguida, colocassem em debate suas impressões. As duas questões centrais lançadas para este momento foi: O que a situação retratada na foto tem a ver com democracia? Como ela se relaciona comigo, com a minha cidade, com o meu país?.

Surgiram falas a respeito do racismo em diversas situações vivenciadas pelos(as) participantes. É possível perceber que o racismo marca algumas histórias daqueles(as) adolescentes e jovens, somado à desigualdade social.

Para a educomunicadora Juliana Cordeiro, “muitos de nós vivemos situações de racismo e acabamos não percebendo, seja ela na infância, em sala de aula, como os apelidos pejorativos lançados pelos colegas, ouvindo piadas ou ouvindo histórias distorcidas do processo de escravização contadas nos livros escolares”.

O Brasil tem uma história de desigualdades sociais e de exclusão que se une a uma realidade mundial de exclusão de grupos sociais. As juventudes são um dos grupos mais atingidos. É por isso que a juventude aparece, atualmente, como um ator social, enfrentando diversos desafios na sociedade contemporânea. Todos os jovens passaram a ter medo do futuro, principalmente sendo um(a) jovem negro e negra. Neste cenário, devemos abordar todas as diferentes juventudes e suas questões sociais e raciais, suas questões de gênero e opções/orientação sexual.

Os jovens negros da periferia compõem o grupo de maior vulnerabilidade, sendo os mais atingidos e assassinados.  Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que jovens e negros são as principais vítimas de violência no país. De acordo com o estudo, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.  

A área da criança e do adolescente deveria ser a política pública de prioridade no orçamento público, mas não é o que vemos. A família, a sociedade e o Estado devem garantir os direitos desta população, mas a posição do Estado nesta política é retrógrada e conservadora. Infelizmente, jovens são criminalizados e rigorosamente punidos, quando, na verdade, deveriam ser estimulados a desenvolver suas potencialidades como cidadãos de direito.

Uma das adolescentes que participou do ciclo de debates fez uma leitura fatalista de sua realidade: “não adianta fazer nada, porque tudo dá em nada”. Lamentavelmente, a falta de perspectiva dos mais jovens levam ao bloqueio de sua potencialidade e possibilidades de mudanças. Trata-se de algo que, aos poucos, precisa ser revertido em favor de alternativas viáveis para os adolescentes e jovens, que precisam dar vazão ao seu protagonismo.

Para debater os significados da meritocracia e dos privilégios, os educamonicadores da Parafuso Educomunicação realizaram a dinâmica intitulada Caminhada dos privilégios. O grupo foi convidado a ficar em pé, lado a lado. Em seguida, foram realizadas perguntas relativas a determinados privilégios na vida em sociedade. Quando beneficiados, deveriam dar um passo à frente, caso contrário, um passo para trás.

Entre os questionamentos estavam: ‘se você já se sentiu desconfortável com uma piada ou comentário relacionado a sua raça, etnia, gênero, aparência, ou orientação sexual, mas se sentiu inseguro para confrontar a situação, dê um passo para trás’; e ‘se você acha que sentiria medo de sofrer alguma violência ou ser intimidado/a ao ser abordado(a)  por um policial, dê um passo para trás’.

A dinâmica fez com que os participantes refletissem sobre o exercício da democracia e das políticas públicas de equidade social, étnico-racial, de gênero, de orientação sexual etc. Ao final da atividade, as seguintes questões permearam o debate:

a) Existe algo em comum entre as pessoas que menos privilégios tiveram?  
b) Como eu me senti com essa atividade?
c) Consegui reconhecer alguns privilégios que tenho?
d) Como me senti percebendo que há outras pessoas com mais privilégios do que eu?
e) Com base na atividade, dá para afirmarmos que a nossa sociedade é igualitária, com direitos iguais para todos(as)?
f) Existe a necessidade de criar e fortalecer políticas para promover a equidade entre as pessoas e os diversos grupos sociais?
g) O que é democracia?
h) Houve alguma pergunta que fez com que eu me sentisse desconfortável em responder?

Para os(as) adolescentes e jovens, a dinâmica foi um momento propício para a reflexão e posicionamento frente ao que pensam e sentem. Favoreceu a participação, principalmente das pessoas que são mais tímidas.

Pensar em participação juvenil e democracia nos remete a vivências, atitudes, autonomia e responsabilidades para exercer ações que fortaleçam o protagonismo juvenil e promovam mudanças individuais e coletiva. Desse modo, mesmo em tão pouco tempo, a iniciativa com os(as) adolescentes e jovens do Colégio Estadual Santos Dumont tem sido um instrumento para que encarem a realidade e retomem a esperança. Trata-se de um espaço de escuta e de atitude.

Em tempos de retrocesso nos poucos direitos sociais conquistados e de muitas contradições em nossa democracia, queremos que as juventudes continuem se mobilizando de diversas formas para garantir sua inclusão e participação social na radicalização da democracia. Devem lutar para assegurar a liberdade de expressão, o respeito e a inclusão social, a partir de espaços livres das violações aos direitos humanos.

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