O abraço do Papa Francisco aos Rohingyas, "Peço-lhes perdão pela indiferença do mundo"

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04 Dezembro 2017

"A presença de Deus hoje também se chama Rohingya", disse o Papa, de improviso, falando a um grupo de dezesseis refugiados do Rakhine, depois de cumprimentá-los um por um em Daca. É a primeira vez que o Papa pronuncia a palavra "Rohingya" durante essa viagem na Ásia, e faz isso de uma forma teologicamente muito forte. Após o encontro com o Papa, alguns deles estavam chorando. Em suma, Deus esteve presente neste dia como Rohingya. Mais que isso não é possível. Neste dia "Deus se chama também Rohingya".

A reportagem é de Maria Antoinetta Calabro, publicada por The Huffington Post, 01-12- 2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Enfim, na viagem do Papa para a Ásia, chegou à hora. Depois que a presença dessa minoria étnica (bangladinos, ou seja, provenientes do Bangladesh, imigrantes ilegais, sem reconhecimento, sem papéis, como nós diríamos, rechaçados pelos militares de Mianmar) e religiosa (muçulmanos em um país predominantemente budista) foi o convidado indesejado de toda a viagem. Sua desesperada situação na realidade sempre foi mantida presente nos discursos do Papa em que a palavra, no entanto, nunca foi pronunciada.

Mas chegou o momento de encontro físico entre Francisco e dezesseis refugiados que vieram dos campos na fronteira com Mianmar lotados por quase um milhão de pessoas. Vítimas daquela que as Nações Unidas e o Secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson chamaram de uma "limpeza étnica" digna de manual.

Tudo começou com uma saudação recíproca de Francisco diante de doze homens e quatro mulheres, incluindo duas meninas. O Papa, de fato, quando subiram em fila no palco, depois do discurso do encontro inter-religioso, inclinou-se diante do primeiro casal, retribuindo a sua saudação.

Não faltaram outros gestos de afeto: um tapinha nas costas em um dos refugiados que ficou mais tempo conversando com ele, um longo aperto de mão com outro, mais velho, e depois também com um jovem, o sorriso para uma jovem que usava em sua cabeça dois véus, um dos quais talvez fosse uma burka que ela tinha afastado de seu rosto. Era evidente a grande comoção do Pontífice, que ouviu suas histórias, muitas vezes permanecendo em silêncio e acenando com a cabeça.

O Papa disse aos Rohingya, "Talvez possamos fazer pouco por vocês, mas a sua tragédia tem muito espaço em nosso coração. Para aqueles que causaram mal a vocês, especialmente pela indiferença do mundo, peço perdão!", conforme relatou o diácono Alberto Quattrucci da Comunidade de Sant'Egidio que esteve presente no encontro com o Papa.

O Papa usou o plural, usou o nós, e isso é muito raro. E não foi o plural maiestatis, foi o plural daquele que dá voz aos sentimentos de todos os cristãos e de toda a Igreja. Não está sozinho Francisco, na declaração dessa impotência. Embora muitas sejam as organizações e os grupos católicos que há meses mobilizam-se para aliviar o sofrimento desse povo de refugiados. Na sexta-feira, o Pontífice agradeceu as autoridades do Bangladesh pela generosidade diante da crise que se iniciou em agosto passado.

Aqui está o texto completo sobre as palavras ditas de improviso pelo Papa aos Rohingyas, assim como foram gravadas e publicadas pela Sala de Imprensa do Vaticano:

"Caros irmãos e irmãs, todos nós estamos perto de vocês: é pouco o que podemos fazer, porque a vossa tragédia é muito grande. Mas abrimos espaço em nosso coração. Em nome de todos aqueles que vos perseguem, daqueles que lhes fizeram mal, especialmente pela indiferença do mundo, peço-lhes perdão. Perdão. Tantos de vocês me falaram do grande coração do Bangladesh que vos acolheu. Agora apelo ao seu grande coração para que seja capaz de nos dar o perdão que pedimos.

Caros irmãos e irmãs, a história da criação judaico-cristã diz que o Senhor que é Deus criou o homem à sua imagem e semelhança.

Nós todos somos essa imagem. Inclusive esses irmãos e irmãs. Eles também são a imagem do Deus vivo. Uma tradição das vossas religiões diz que Deus, no princípio tomou um pouco de sal e o jogou na água, que era a alma de todos os homens; e cada um de nós traz dentro de si um pouco do sal divino: esses irmãos e essas irmãs trazem dentro de si o sal de Deus.

Caros irmãos e irmãs, vamos mostrar ao mundo o que faz o egoísmo do mundo com a imagem de Deus. Continuemos a fazer a eles o bem, a ajudá-los; continuemos a nos mobilizar para que eles tenham seus direitos reconhecidos. Não vamos fechar nossos corações, nós vamos virar o rosto para o outro lado. A presença de Deus, hoje, também se chama "Rohingya". Cada um de nós, dê a nossa resposta".

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