Democracia, anedotas e homilia. O que Hernán Reyes Alcaide aprendeu nas conversas com o Papa Francisco

Mais Lidos

  • Elon Musk e o “fardo do nerd branco”

    LER MAIS
  • O Novo Ensino Médio e as novas desigualdades. Artigo de Roberto Rafael Dias da Silva

    LER MAIS
  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

Por: Lara Ely | Tradução: Juan Hermida | 15 Novembro 2017

Em entrevista para a Rádio Vaticano, falando sobre o livro América Latina - Conversas com Hernán Reyes Alcaide, o jornalista argentino correspondente da Agência de Notícias Télam no Vaticano fala sobre o livro lançado no último dia 30, escrito a partir de quatro encontros com o Papa Francisco entre julho e agosto deste ano. A obra faz uma revisão sobre temas relevantes ao continente de origem do Papa: a questão ambiental, trabalho, juventude, aborto, os imigrantes, o clericalismo, a resposta à corrupção, os populismos e o papel da mulher na Igreja. Na conversa a seguir, Alcaide relata suas impressões sobre o Pontífice e destaca os principais pontos do livro. 

Os debates realizados pelo jornalista na sua publicação, a primeira que traz o olhar do Papa sobre o continente, serão assunto no "XVIII Simpósio Internacional do IHU - A virada profética de Francisco. Possibilidades e limites para o futuro da Igreja no mundo contemporâneo" que ocorre em 21 e 24 de maio de 2018. Para refletir de forma crítica e transdisciplinar o papel da Igreja Católica e seus impactos no mundo contemporâneo, o Instituto Humanitas Unisinos receberá uma série de conferencistas nacionais e internacionais Veja a programação.

Confira a entrevista. 

Rádio Vaticano – Como surgiu a ideia do livro com o Papa?
Hernán Reyes Alcaide - Efetivamente o livro nasceu ao final de 2016, quando se aproximava o ano de 2017, quando se cumpria a primeira década da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina que houve em 2007 em Aparecida, no Brasil. Pareceu-me a ocasião ideal para intentar conversar com o Papa sobre alguns desses pontos que ficaram capturados no documento final desta conferência, na qual ele estava a cargo da comissão que redigiu esse documento. A proposta era basicamente revistar a conferência falando dez anos depois, de alguns desses pontos tendo em conta que no meio dessa década tinha transcorrido um fato de significativa importância para o continente, como foi à eleição de Jorge Mario Bergoglio como o primeiro Papa latino americano da história. O livro é fruto dessas conversas em quatro encontros entre julho e agosto de 2017 e em uma das respostas ele marca que um dos destaques do evento de Aparecida é que ela não termina com o documento, mas marca início desta missão continental, desta Igreja em saída, esta questão da missão; que depois continua se plasmando em documentos como a Exortação Evangelii Gaudium a qual dentro das páginas do livro o Papa lança uma espécie de mix perfeito entre o documento de Aparecida e a Evangelii Nuntiandi do Paulo VI.

Foto: O correspondente do jornal Télam visitou o estúdio da Rádio Vaticano /  Crédito: Imprensa Vaticano

Rádio Vaticano – Para além dos temas, que impressão você teve desse encontro com o papa?
Hernán Reyes Alcaide – Têm duas questões que me causaram mais impacto no largo dos encontros nesses dois meses que acho que devo ressaltar: primeiro encontrei uma pessoa com um enorme respeito pela profissão de jornalistas. Uma pessoa que em nenhum momento sugeriu acrescentar ou tirar temas. E quando acabou a conversa, eu que ofereci, ele não pediu para ver o texto final, respeitou a edição que eu fiz e a única coisa que modificou foi algumas vírgulas, alguns sinais de pontuação. E por um lado me enche de vergonha, que o Papa esteja me corrigindo a ortografia, mas por outro lado, marca a minúcia com a qual ele olhou o texto ao mesmo tempo marca o profundo respeito que ele tem pelo trabalho jornalístico. O mesmo podemos ver também nas coletivas com a imprensa nas viagens do Papa, quando responde todo tipo de perguntas. Outro aspecto que gostaria de ressaltar é que vi um Papa muito preocupado com alguns aspectos, mas uma preocupação no sentido etimológico da palavra, de preocupar-se, de ocupar-se antes, como uma previsão, como uma prevenção. Em três aspectos me pareceu fundamental: o que tem a ver com a situação dos jovens no continente, com a situação do trabalho e com a situação do ambiente. Na questão do ambiente, por exemplo, é conhecido, o Papa já anunciou a convocatória do Sínodo Pan-amazônico para outubro de 2019 e em relação a trabalho e jovens permanentemente ele faz discursos nesse sentido, mas o que senti pessoalmente é que está mais envolvido.

Rádio Vaticano – O que destacarias do que foi dito pelo papa no livro, especialmente, além do que você já mencionou nas perguntas anteriores?
Hernán Reyes Alcaide – São vários aspectos nos quais o papa em alguns retoma, em outros aprofunda em outros analisa. Como o que evolui ou não nestes 10 anos. Em primeiro lugar ele reconhece que ainda falta para esta Igreja em saída, esta missão que se mencionou não somente no documento, mais na missão continental. Volta uma vez mais a marcar sua preocupação pelo clericalismo (na segunda feira 30 de outubro voltou a insistir neste tema na homilia da missa na Casa Santa Marta, esse é um dos temas que o Papa tem se preocupado). Depois têm dois eixos novos que levanta - uma é a sua convocatória aos cristãos da América Latina a lutar pela democracia. Esta é uma questão de novidade no discurso do Papa um dos capítulos do livro está centrado em qual seria uma identidade do político católico latino americano e termina com uma grande convocatória do papa para lutar por uma democracia no sentindo pleno da palavra e não no cenário de cada quatro anos.

Rádio Vaticano – Qual a diferença que você faz do chamado a trabalhar pela democracia de um sacerdote, de um pastor, de um Papa e de um político?

Hernán Reyes Alcaide – São distintos. Esse é o ponto seguinte do qual eu queria referendar das palavras do Papa. A preocupação do ser humano permanentemente no centro. Tanto quanto fala da pastoral carcerária, quando fala do papel das mulheres na Igreja, quando faz o chamado urgente para que os jovens não resvalem nas drogas, o acesso ao trabalho como um meio de vida digna para todos, sempre em cada um dos eixos que ele toca vemos a sua alma de pastor do ser humano no centro, coisas que ele fala como em questões críticas ao sistema atual de unir deus ao dinheiro, como vêm falando desde o Evangelii Gaudium, que isso marca claramente a diferença que pode ser um discurso com as mesmas palavras de um papa ou de um político, porém o papa está sempre com a preocupação de pastor, do ser humano no centro.

 

Rádio Vaticano – Uma linguagem simples sempre, mais você consegue distinguir uma capacidade como para dizer “não estou diante de milhares de pessoas na Praça de São Pedro, mas diante de um jornalista”.

Hernán Reyes Alcaide – O Papa, quando fala nas homilias e isso também é uma reflexão que faz tem essa capacidade tanto na catequese de quartas nas distintas homilias ou nas conversas com jornalistas tem essa característica, desse duplo jogo entre o particular e ao geral. Como a partir de uma anedota pessoal de entrelinhas ele termina marcando um processo, por exemplo, no livro fazendo referência sobre como nasceu sua consciência sobre o diálogo inter-religioso e questão ecumênica. E faz isso com anedotas da sua infância. Isso marca e não só com este tema mais com muitos outros ele tem feito o mesmo. Torna relevância contar uma anedota que para o interlocutor parece uma questão pessoal mais que esconde todo um desenvolvimento de pensamento, e um pensamento em constante evolução em enriquecimento. Isso é outro ponto para ressaltar da figura desse papa o primeiro papa latino americano na história da Igreja: se não os entende como vai usar com os jovens uma linguagem que os inclui pelo Whatsapp, Facebook, um papa que não tem tanto contato diário, mas tem capacidade de enriquecimento permanente e tem ganas de estar em contato com esse público na linguagem deles. O termino que usa no seu livro diz o seguinte: aos jovens, temos que falar em sua linguagem, para que nos entenda ao que dizemos.

Rádio Vaticano - O livro se chama Latino América tão somente. Conversações...
Hernán Reyes Alcaide - A ideia era marcar bem que o primeiro papa latino-americano da história poderia ter um livro dedicado à região na qual poderia analisar os feitos da região porque o momento não é apenas uma questão numérica 49% dos 1.285 milhões de católicos do mundo vivem na América. Esse é um primeiro dado para destacar, o qual fazia falta. Aqui na América estamos pensando não apenas nos povos nativos que vivem na América do Sul, mas na quantidade de irmãos latino-americanos que vivem nos Estados Unidos neste momento, vítimas alguns de diversos fenômenos dos quais fala o Papa também tem falado no seu magistério, como migrações forçadas em busca de oportunidade, os mais castigados inclusive pelo tráfego de pessoas. Hoje falar aos irmãos latinos americanos significa exceder a fronteira do rio Bravo, exceder a fronteira do canal do Panamá; é uma unidade continental que se dá desde Alasca até a Terra do Fogo, com estes novos processos que tem se dado de deslocamento de pessoas não somente entre os países, mais dentro dos próprios países temos visto isso desde o campo até zonas urbanas. Sobre tudo isso trata o livro.

Rádio Vaticano - Que mensagem você quer fazer chegar ao leitor?
Hernán Reyes Alcaide - Eu acredito que o Papa tem essa clareza expositiva quando fala e também o que ele valoriza – uma homilia curta, concisa. Parte sobre essa Igreja em saída, inclusiva. A homilia é um bom lugar para começar com essa transformação, a homilia, para muitas pessoas, é a porta de entrada à Igreja. Ele predica de alguma maneira com seus exemplos e sua catequese, ele fala aos pontos exatos, como falei anteriormente, pode ter anedotas pessoais, mas é um todo dirigido e evangelizar e levar a mensagem do evangelho ao maior número de pessoas.

Rádio Vaticano - Você é argentino como o Papa e correspondente de Télam no Vaticano e Roma. Como relaciona seu trabalho de correspondente com o livro?
Hernán Reyes Alcaide - Meu trabalho de correspondente que me permitiu de estar aqui e tem me permitido dia a dia seguir as atividades de esta graça, como já falei antes não somente o primeiro papa latino americano se não o fato central o primeiro Papa argentino é um feito difícil de repetir na história pelo menos nos próximos anos, por tanto acho que é uma sorte no nível profissional e pessoal poder acompanhar ao papa, e também tratar de levar sua voz direta só na Argentina, lembrando que a Argentina é o décimo país com mais católicos no mundo. Mais de 40 milhões de batizados. Não só pelo simbolismo do papa argentino, mas também em termos absolutos para a Igreja católica e para igreja latino americana a Argentina é um país de relevância. 

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Democracia, anedotas e homilia. O que Hernán Reyes Alcaide aprendeu nas conversas com o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU