Jesuítas filipinos: não é possível construir uma nação sobre cadáveres

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03 Outubro 2017

“Não podemos construir uma nação sobre os cadáveres do povo filipino. Não se pode combater o mal com armas e balas”: a afirmação é dos jesuítas das Filipinas em um tocante apelo divulgado em todas as dioceses, igrejas, escolas e institutos onde os religiosos estão presentes.

A reportagem é da Agência Fides, 02-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No texto, os membros da Companhia de Jesus se unem às múltiplas vozes da comunidade católica filipina que deploraram a campanha de execuções extrajudiciais em curso no país, conduzida como meio da “guerra contra as drogas” lançada pelo presidente Rodrigo Duterte.

No comunicado, assinado pelo provincial Antonio Moreno, intitulado “Unir-se ao poder do Espírito”, compartilha-se o apelo lançado pelo cardeal Luis Antonio Tagle “à consciência daqueles que produzem e vendem drogas ilegais” e “à consciência daqueles que matam até os inocentes”: os jesuítas pedem que parem as atividades criminosas e a eliminação indiscriminada de vidas humanas.

“Concordamos que a ameaça de drogas ilegais é real e destrutiva. O imperativo de derrotar esse mal – destaca o texto dos jesuítas – não pertence apenas ao presidente, à polícia e ao governo. Pertence a todos nós. O mal que ataca o homem com o poder do demônio deveria nos unir, não nos dividir. Devemos nos unir, coordenar e permitir que o bem se alie com o bem; devemos combater juntos esse inimigo.”

Os religiosos ressaltam ainda que “a ameaça das drogas não é apenas um problema político ou penal. É o mal que ataca a humanidade, transforma os seres humanos em zumbis, os policiais em assassinos, os criminosos, em senhores, e os pobres, em vítimas”, citando entre os vários homicídios de jovens inocentes o do jovem católico Kian de los Santos.

“Não podemos combater o mal apenas com armas e balas. Esse mal deve ser combatido com a intuição, a cooperação, a astúcia, o uso iluminado do poder político e econômico, o sacrifício, a oração e a graça de Deus”, afirmam.

Com esse espírito, os jesuítas nas Filipinas acolhem e relançam o convite a um “diálogo multissetorial”, que acolha as forças boas da administração estatal, das forças de segurança, da sociedade civil e das Igrejas, “para compreender a situação em profundidade” e entender que “o inimigo dessa guerra não são os direitos humanos, mas a falta de compromisso com os direitos humanos”. “Não podemos combater pelos seres humanos negando os seus direitos”, explicam.

Para combater os cartéis internacionais da droga e os seus traficantes, “você se deve matar os pobres, que são as vítimas”. Para construir uma sociedade saudável e livre das drogas, é preciso “uma colaboração paciente e multissetorial de pessoas boas que colaboram com pessoas boas. Não podemos construir a nação filipina sobre os cadáveres do povo filipino”, afirma solenemente o comunicado.

O caminho a seguir é “vencer o mal com o bem”: “Se queremos ser solidários com todas as vítimas da injustiça – ressalta a Companhia de Jesus – devemos ir além das expressões de indignação e passar para a ação construtiva. É preciso ensinar aos jovens, nas nossas famílias, nas nossas escolas e nas nossas comunidades, quanto mal as drogas geram; é preciso envolvê-los para que superem os maus hábitos e se comprometam com o bem”.

Os religiosos desejam um maior compromisso com a reabilitação para ajudar os toxicodependentes a saírem das drogas e um treinamento para as forças de segurança sobre a proteção dos direitos dos cidadãos. “É preciso trabalhar juntos, Igreja, governo e sociedade civil, para realmente derrotar o mal da droga nas Filipinas”, conclui o texto.

De acordo com estimativas recentes de ONGs, a “guerra às drogas”, lançada pelo presidente Rodrigo Duterte há cerca de um ano, provocou pelo menos 14 mil assassinatos, dos quais 3.800 admitidos pela polícia, com milhares de execuções extrajudiciais que continuam impunes.

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