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21 Setembro 2017

Um novo alerta dramático da FAO corre o risco de ficar em silêncio. A produção de alimentos está diminuindo consideravelmente e, sobretudo, está recuando em relação ao crescimento da população mundial.

A reportagem é de Carlo Triarico, publicada por L’Osservatore Romano, 17-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

De acordo com a FAO, isso se deve principalmente a um modelo produtivo e alimentar que consome recursos não renováveis, degrada os solos férteis e polui as águas doces. A afirmação é do Estado dos Recursos Hídricos e Fundiários do Mundo para a Alimentação e a Agricultura (Solaw), o novo relatório da FAO sobre o futuro agroalimentar do planeta, apresentado nos últimos dias.

No relatório, defende-se que os aumentos produtivos dos últimos 50 anos “foram acompanhados por práticas de gestão dos recursos que degradaram os ecossistemas terrestres e hídricos dos quais a própria produção de alimentos depende”.

As consequências são graves e começam a ficar evidentes para todos, sob a forma de desastres climáticos, grandes migrações e recorrência de patologias de origem ambiental e alimentar.

Diante do aumento da população mundial, é preciso intervir em duas frentes interconectadas: mudar os estilos alimentares e mudar o modelo agrícola. De acordo com as previsões da FAO, a produção de alimentos, para satisfazer um planeta cada vez mais voraz, deveria aumentar já agora bem acima dos ritmos do crescimento demográfico, porque o que determina a progressiva necessidade de alimentos é, também e sobretudo, o incremento dos desperdícios e a difusão, também nos países emergentes, dos estilos alimentares caros do Norte do mundo.

Apenas uma intervenção sobre esses dois fatores permitiria reduzir o assustador excesso de demanda de alimentos e, portanto, adotar um modelo agrícola e ecológico razoável, menos produtivo, mas regenerativo dos solos e conservador dos recursos ambientais.

E aqui está o ponto nodal: a economia amarrada ao consumo de recursos ainda tem, como principal perspectiva de superação da crise, a intensificação da sua atitude ao saque. Escolha que permite efeitos positivos de curto prazo, diante de danos às vezes irreversíveis aos sistemas dos quais se originam a sustentabilidade e a riqueza.

O relatório da FAO denuncia que mais de dois terços das superfícies do planeta já estão degradadas ou próximas da degradação, e apenas 10% da superfície cultivável está melhorando o seu estado. O Solaw denuncia que os melhores solos atualmente cultivados, ou seja, 1,6 bilhão de hectares, sofrem trabalhos destrutivos, exploração, erosão, perda de biodiversidade e de fertilidade, poluição.

A produção de alimentos atingiu uma fase crítica. Aumentam cada vez mais as áreas que alcançaram os limites da sua capacidade de produção. Esta, no planeta, agora, cresce muito pouco em relação às inovações tecnológicas, ao gasto de recursos postos em ação e às promessas gloriosas da “revolução verde” dos anos 1970.

Portanto, tornava generalizada a corrida à acumulação de terras e águas. É uma conquista feita especialmente às custas dos mais fracos, de populações inteiras forçadas a fugir, vilarejo por vilarejo, de novos direitos de propriedade, privatizações de poços, milícias irregulares, conflitos entre grandes grupos de interesse. Mais de 70% das terras comprometidas por esse modelo agrícola estão em áreas com taxas de pobreza altas ou moderadas.

Diante desse círculo vicioso, é precisa mudar o ritmo e escolher um novo curso. A adoção de um modelo agrícola que ponha no centro o agricultor, respeite a vitalidade dos solos, regenere os recursos, cultive a biodiversidade e não polua águas e terras é urgente.

Ainda são muito poucas as terras no planeta onde uma agricultura biológica e biodinâmica, e a aplicação da agroecologia podem desencadear um círculo virtuoso, enquanto as agriculturas camponesas, que ainda garantem a sobrevivência de áreas importantes, estão em grave perigo. Por isso, são necessários investimentos em pesquisa e formação para aumentar a eficiência da produção, mas sem afetar as fontes não renováveis e a saúde do planeta.

A FAO espera, por exemplo, encontrar investimentos maciços até 2050, para tornar eficientes os sistemas de irrigação no Sul, aos quais se somam outros fundos para a proteção dos solos mais vulneráveis às inundações e às mudanças climáticas.

Mas as soluções não podem ser apenas técnicas ou políticas. É preciso cultivar a sabedoria, aumentar a autoconhecimento do agricultor sobre o seu papel e criar comunidades que troquem boas práticas, inovações sábias e de baixo impacto, e são necessários cidadãos que sejam treinados para apoiar tudo isso.

Os exemplos virtuosos que o Solaw traz à tona devem ser difundidos, adaptados e aplicados a partir de agora.

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