"É preciso um conclave para vingar as mulheres." Entrevista com Robert Harris

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13 Outubro 2016

Quando a conversa vai parar no chocante epílogo do conclave e que envolve a atávica questão feminina na Igreja, Robert Harris dirige uma súplica muito compreensível para um escritor de suspense: "Por favor, não revele o fim do livro". Sim. Digamos apenas, então, que a mulher tem um papel central no último capítulo. Ponto final. Cabe ao leitor descobri-lo e se admirar.

A reportagem é de Fabrizio D'Esposito, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 12-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Jornalista e comentarista político inglês, Harris é um dos poucos autores no mundo, capaz de manejar com maestria a História e de nos inserir em um mistério. Agora, ele lida com a eleição mais antiga e secreta do orbe terreste: a do Romano Pontífice. Título, justamente: "Conclave". O protagonista é Jacopo Lomeli, que se encontra atuando, em 2018, como cardeal decano, a sucessão de um papa que se assemelha a Francisco mas não é Francisco.

Eis a entrevista.

Francisco ainda está vivo.

E é um homem forte, uma figura muito fascinante, que me parece ter resolvido os grandes conflitos que havia antes, com Ratzinger.

Em todos os casos, a Igreja de Roma é a ideal para um suspense.

Há muito tempo eu tinha uma forte curiosidade por esse mecanismo eletivo que resiste há séculos. E, como jornalista político, não só como escritor, estou acostumado a explorar a relação entre o poder e o poderoso. Eu fiz isso com Stalin, com Cícero, com o primeiro-ministro britânico.

Faltava o papa.

A Igreja tem uma estrutura universal. A sede é em Roma, mas poderia muito bem ser em Manila. Investigar a Igreja, porém, me surpreendeu.

Por quê?

Eu não imaginava uma dimensão tão laica do conclave.

O poder corrompe.

Lá, deveriam predominar a fé e a oração.

E ao contrário?

Há o aspecto laico da ambição, e, para ser honesto, eu não esperava que ele pudesse ser tão político.

De que modo você chegou a essa certeza?

Estudando, me documentando. Eu não sabia praticamente nada. Comecei a partir dos quatro Evangelhos.

E depois?

Livros, jornais, visitei o Vaticano. Mas, para "Conclave", eu me baseei principalmente em duas fontes.

Quais?

Um diário secreto publicado pela editora Limes sobre o conclave de 2005 [que elegeu Ratzinger] e algumas conversas com um cardeal. Foi ele que me iluminou sobre o caráter político.

O que ele lhe disse?

Simples: no início de um conclave, cada cardeal favorito declara que não quer ser eleito. Na realidade, naquele preciso momento, ele começa as manobras para a sua eleição.

Manobras que você descreve meticulosamente. Através dos olhos de Lomeli, vivemos conclave ao vivo.

Era o que eu queria. Contar essa eleição com os olhos de um homem de fé, Lomeli, e desenvolver essa ambivalência, feita de espiritualidade e de política. No fundo, o que é um papa eleito?

O que é?

Um homem idoso que, quando aparece pela primeira vez, é cercado por outros idosos, alguns mundanos, outros divertidos, ainda mais inocentes.

Por fim, você se vingou cruelmente com um final chocante.

Não escreva nada.

As mulheres na Igreja...

Na Igreja, elas são reduzidas a serem as camareiras em um mundo que se prepara para dar o poder nas mãos de três mulheres: Hillary Clinton nos EUA, Angela Merkel na Alemanha, Theresa May na Grã-Bretanha.

Na discussão política do seu "Conclave", também ganham espaço outros temas que causam as divisões de hoje: o relativismo, o Islã e o terrorismo religioso, a corrupção da Igreja.

Espero que eu tenha sido neutro. Eu só entrei nesses temas para dramatizar o relato. Mas...

Mas...?

Parece-me que a guerra religiosa é um fato, objetivo. Os cristãos são perseguidos na África e no Oriente Médio. Admito que tudo isso me admira.

Por quê?

Eu não acreditava que, com o fim do Muro e das ideologias, as religiões pudessem ocupar esse papel predominante.

O Isis faz todos tremerem.

Eu só sei uma coisa.

Qual?

Nunca tinha me acontecido, como escritor, de me perguntar se eu tinha escolhido a religião certa.

Ou seja?

Ao me ocupar de uma questão tão sagrada e secreta como o conclave, eu degustei toda a liberdade que eu tinha para fazer isso. Com o Islã, isso não teria acontecido, eu teria sido ameaçado, haveria polêmicas e protestos. Neste momento, eu nunca poderia escrever um suspense sobre o Islã.

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