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24 Setembro 2016

Encabeçada pelo chefe de Gabinete, Marcos Peña, uma delegação do Governo visitou a Conferência dos Bispos da Argentina e destacou “o valor do diálogo”. Os Padres em Opção pelos Pobres denunciaram “a injustiça sistemática” do Mudemos.

A reportagem é de Washington Uranga e publicada por Página/12, 23-09-2016. A tradução é de André Langer.

Duas perspectivas diferentes da Igreja católica ficaram novamente em evidência na última quinta-feira. Enquanto a cúpula dos bispos, encabeçada pelo presidente da Conferência dos Bispos da Argentina, o arcebispo José María Arancedo, reunia-se com o Chefe de Gabinete do Mudemos, Marcos Peña, para emitir, na sequência, um comunicado no qual se assinala que “o Governo e a Igreja destacaram hoje o valor do diálogo e dos acordos entre os setores da produção e do trabalho”, os Padres em Opção pelos Pobres publicaram uma nova carta na qual denunciam “a injustiça sistemática e pertinaz”, recordam que Milagro Sala continua “injustamente presa” e exigem sua libertação, ao mesmo tempo que “os gravíssimos fatos revelados pelos Panamá Papers seguem sendo negados pela imprensa desencaminhada para a qual tudo é normal”, e assinalam que temos “um governo à deriva”, enquanto “o marketing corre em seu auxílio”.

A sede capitalina da Conferência Episcopal foi visitada pelo Chefe de Gabinete, que estava acompanhado pelo ministro do Trabalho, Jorge Triaca, e pelo secretário da Coordenação Interministerial da Chefadura de Gabinete, Mario Quintana. Fizeram parte também da delegação oficial o secretário de Culto, Santiago de Estrada; o subsecretário dessa área, Alfredo Abriani, e o diretor executivo da Anses [Administração Nacional da Seguridade Social], Emilio Basavilbaso.

Por parte do Episcopado, além de Arancedo, estiveram presentes o cardeal Mario Poli, vice-presidente da Conferência Episcopal, e o secretário geral do organismo, o bispo Carlos Malfa.

Em seu documento, os Padres na Opção pelos Pobres disseram que “são lamentáveis as tentativas de setores do governo federal e provincial de Buenos Aires de aproximar-se de setores ‘eclesiásticos’ que lhes parecem assépticos em termos de política (confirmando seu discurso da ‘não-política’) mostrando assim que está, na verdade, interessado no marketing e não ‘nas pessoas’”.

Segundo o comunicado oficial emitido pela Conferência Episcopal, “ministros e autoridades do gabinete informaram aos representantes eclesiásticos sobre as políticas que o Governo colocou em marcha, principalmente em matéria social”. A reunião fez parte da estratégia do governo do Mudemos para mostrar aproximação com a hierarquia católica, de onde partiram críticas que dizem respeito especialmente à situação de pobreza.

Os padres católicos, por sua vez, seguem com a publicação de suas cartas periódicas, nas quais informam sobre a realidade que percebem em seu trabalho com setores populares e denunciam as atitudes do Governo. Em seu texto, recordam que, “agora, outras oito novas empresas offshore fazem parte das investigações realizadas por um promotor público, mas o Governo age como se nada estivesse acontecendo”, e advertem que, “lamentavelmente, o Poder Legislativo parece tomado de letargia e as dezenas de funcionários envolvidos, a começar pelo Presidente, se burlam de todos à vista do mundo”.

Em matéria de direitos humanos, e após insistir na liberdade de Milagro Sala, os padres recordam que “se completaram nestes dias 10 anos do segundo desaparecimento forçado de Jorge Julio López”.

Os padres se perguntam por que “as declarações marqueteiras de Macri sobre o carniceiro de Zárate (processualmente corretas) não se aplicam a Milagro Sala, confirmando uma vez mais a certeza de que se trata de uma presa política”. Mas, denunciam que “o presidente e sua ministra da Segurança instigam para resolver os conflitos provocados por crimes comuns pela própria mão, como é o caso do médico de San Martín e do carniceiro. Sem necessidade de recorrer à justiça, já que os ‘bons’ têm o direito de eliminar os ‘maus’, segundo seu olhar estreito”, acrescentam.

Referindo-se à situação econômica, os padres dizem que o Governo “joga gasolina na fogueira”. Assinalam que “os mais pobres foram excluídos da agenda” e para fundamentá-lo oferecem uma série de exemplos de situações que ocorrem em diversas áreas e diferentes pontos do país. “Foram vergonhosas as audiências (ou o que disseram que foi) pelas tarifas”; “Segue sem se informar o preço dos barris de gás ‘na boca do poço’, onde está a raiz da questão”, e acrescentam que “em um novo ato de marketing, oportunamente se informou que o ministro Aranguren vendeu (realmente fez isso?) suas ações da Shell, o que antes tinha solicitado a inapresentável secretária de Ética Pública, Transparência e Luta contra a Corrupção, Laura Alonso, e o senador Federico Pinedo”.

Reafirmando sua posição, os padres afirmam que “nós escolhemos estar do lado dos pobres” e, no caso das audiências pelas tarifas, “isso significa lutar contra o enriquecimento ilícito, não estar do lado dos ricos, dos exploradores e reclamar que não é verdade que ‘lhes fizeram crer que tinham direito’ [a calefação, eletricidade e serviços] (a governadora María Eugenia Vidal dixit), porque – e devemos gritá-lo! –, sim, eles têm esses direitos (e muitos outros que não lhes são reconhecidos)!”

No campo da economia, o documento recorda, além disso, que “o CEPA [Centro de Economia Política Argentina] registrou 13.658 demissões no mês de agosto”, que “em agosto a saída de dólares subiu 1,5 bilhão e já ultrapassa os 9 bilhões, o dobro do que nos primeiros oito meses de 2015”, enquanto “assistimos com grande preocupação ao descomunal endividamento de nosso país, que sobe para 48 bilhões de dólares com este governo”.

Sobre a política internacional, os padres “repudiam” as conversas retomadas “com o império britânico ignorando a nossa dignidade, a nossa história e os justos reclamos pelas Malvinas e nossa autoridade sobre o petróleo ou o que puderem extrair da ‘nossa casa’”. Referindo-se às declarações de Macri sobre uma eventual retomada do diálogo com Londres, dizem que “não basta ao Presidente burlar-se de todos em toda ocasião, mas que, além disso, nos faz ser ridículos perante o mundo todo só dissimulado em nossa pátria pela imprensa cúmplice”.

Há também uma declaração de apoio ao juiz (Rafael) Rafecas em virtude do requerimento que pede sua destituição, enquanto se criticam severamente as atuações do também juiz Claudio Bonadío e o “aperto à juíza Martina Forns, assim como os maus-tratos aos quais foi submetida por uma Suprema Corte que nos envergonha”.

Os Padres em Opção pelos Pobres dizem que “não discutimos, de modo algum, a legitimidade da vitória da Aliança Mudemos”. No entanto, advertem “quem parece ignorá-lo e governa como se tivesse chegado ao governo por irrupção anticonstitucional e com seus métodos, é precisamente a Aliança Mudemos”.

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