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05 Agosto 2016

“Fome registra momentos de grande beleza – como as cenas que mostram Jean-Claude Bernardet carregando um outro morador de rua, seu amigo, dentro do carrinho de supermercado detonado onde carrega seus poucos pertences; em outra em que canta uma canção em francês e conversa com Ana Carolina numa praça; numa outra em que ele dança em câmera lenta; e, talvez a mais bonita, quando caminha lado a lado com um cantor pelo Minhocão vazio na madrugada. A cena final também é marcante. Jean-Claude definiu-a como “impactante” e, dentro da sua curta carreira de ator, afirmou que é seu trabalho de que mais gosta”, escreve Neusa Barbosa, crítica de cinema, em comentário publicado por Cineweb, 22-07-2016.

Eis o comentário.

Feita, alegadamente, com inacreditáveis R$ 15.000,00, sem recursos de editais, a ficção Fome, de Cristiano Burlan, bateu no Festival de Brasília 2015 como uma obra destinada a provocar discussões infinitas sobre forma, conteúdo, gênero, realidade, invenção e toda a gama de assuntos que percorre esta produção paulista.

Pela quarta vez, o crítico e teórico cinematográfico Jean-Claude Bernardet entra num filme de Burlan, na pele de ator – interpretando um ex-professor universitário de cinema que virou morador de rua em São Paulo por opção. Certamente, a persona real de Jean-Claude impregna cada plano de Fome. A biografia de Jean-Claude nunca é inteiramente deixada de lado e isso é proposital – senão o filme não dedicaria uma tão longa sequência a uma discussão do protagonista com um ex-aluno que o reconheceu (o crítico Francis Vogner), em que se trata de temas caros ao teórico, sobre o valor da atividade intelectual e do próprio cinema.

Esta cena foi uma das várias em que a improvisação (não havia diálogos definidos previamente) foi desencadeada a partir do atrito entre a realização do filme e a própria história de Jean-Claude. E esta é uma das marcas da experimentalidade do filme, que atira em várias direções e se fragmenta em muitas intenções.

O próprio Burlan, no debate daquele festival, admitiu que não tem todas as respostas para as muitas questões que sua obra coloca – e na qual ele assume uma precariedade de meios de realização que por vezes o incomoda.
Uma dessas questões, colocada pelo também cineasta Marcelo Pedroso no debate, é o “conflito de registros”. Segundo Pedroso, dá-se “visibilidade e historicidade” à figura de Jean-Claude, que interpreta um morador de rua, mas o mesmo não se estende aos sem-teto reais que o filme entrevista, que entram mas saem dele, já que a ideia nunca foi realizar um documentário estrito sobre eles.

Esta é uma das muitas questões, inclusive éticas, que Fome, saudavelmente até, levanta. Outra diz respeito à crítica ao posicionamento “burguês” diante dos moradores de rua, em sequências como a que mostra um casal de saída de um restaurante e tentando dar o resto de seu jantar ao morador representado por Jean-Claude. Há uma ideia, por trás dessa e de outras cenas, de que a “caridade” seja um mal, servindo apenas para apaziguar consciências diante da miséria e da exclusão das pessoas de rua. Mas esse posicionamento político não é tão elaborado – e a própria cena do casal é uma das mais problemáticas do filme, forçando um maniqueísmo um tanto tosco.

Nada, aliás, pretendeu ser tão elaborado. Segundo o realizador, não houve um roteiro escrito. O filme nasceu de seis meses de discussões envolvendo os atores, que incluem também Ana Carolina Marinho, Henrique Zanoni (visto em Hamlet, do mesmo diretor), Juão Nin, Gustavo Canovas, Adriana Guerra e Rodrigo Sanches.

Fome traduz, sem dúvida, uma grande busca de Burlan e, dentro dela, registra momentos de grande beleza – como as cenas que mostram Jean-Claude carregando um outro morador de rua, seu amigo, dentro do carrinho de supermercado detonado onde carrega seus poucos pertences; em outra em que canta uma canção em francês e conversa com Ana Carolina numa praça; numa outra em que ele dança em câmera lenta; e, talvez a mais bonita, quando caminha lado a lado com um cantor pelo Minhocão vazio na madrugada. A cena final também é marcante. Jean-Claude definiu-a como “impactante” e, dentro da sua curta carreira de ator, afirmou que é seu trabalho de que mais gosta.

Fome

Ficha técnica
Nome: Fome
Nome Original: Fome
Cor filmagem: Colorida
Origem: Brasil
Ano de produção: 2015
Gênero: Drama
Duração: 90 min
Classificação: Livre
Direção: Cristiano Burlan
Elenco: Jean-Claude Bernardet, Ana Carolina Marinho, Henrique Zanoni

Sinopse

Um velho ex-professor e intelectual torna-se voluntariamente morador de rua e confronta-se com a miséria e as interações com outras personagens que vivem pelas calçadas de São Paulo, vivendo momentos dramáticos e também belos.

Veja o trailer:

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