Mãe, arquétipo fundamental da psique humana

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10 Mai 2016

"Há muitos textos comovedores que exaltam a figura da mãe como o belíssimo do bispo chileno Ramon Jara. Mas há um outro de grande beleza e verdade que nos vem da Africa, de uma nobre abissínia, recolhido como prefácio ao livro Introdução à essência da mitologia (1941)", escreve Leonardo Boff, escritor, teólogo e filósofo.

Eis o artigo.

A mãe é mais que uma figura física com a qual estamos ligados afetivamente por toda a vida. É a primeira palavra que pronunciamos quando despertamos para este mundo e para muitos é a última palavra que lhes vem aos lábios quando se despedem, especialmente num contexto de grande risco.

Grandes nomes da tradição psicanalítica como C.G. Jung, seu discípulo preferido E. Neumann aprofundaram a irradiação do arquétipo mãe. Mas cabe referir também as constribuições inestimáveis de Jean Piaget com sua psicologia e pedagogia evolutiva e principalmente as de Donald W. Winnicot com sua pediatria combinada com psicanálise infantil. Eles nos detalharam os complexos percursos da psiqué infantil nesses momentos iniciais e seminais da vida que nos conferem o sentimento de sermos amados, protegidos e sempre acolhidos.

No dia das mães vale recordar estas contribuições que nos secundam o sentimento profundo que nutrimos por nossas mães. Mais que reflexões valoramos hoje o afeto, cujas raízes fundadas no cérebro límbico, surgiu há mais de duzentos milhões de anos, quando irromperam no processo da evolução os mamíferos dos quais nós descendemos. Com esta espécie nos veio a amor, o afeto e o cuidado, guardados como informações até os dias atuais pelo nosso inconsciente coletivo. Entreguemo-nos brevemente à terna força deste afeto.

Há muitos textos comovedores que exaltam a figura da mãe como o belíssimo do bispo chileno Ramon Jara. Mas há um outro de grande beleza e verdade que nos vem da Africa, de uma nobre abissínia, recolhido como prefácio ao livro Introdução à essência da mitologia (1941), escrito por dois grandes mestres na área, Charles Kerény e C. G. Jung. Assim fala uma mulher em nome de todas as mulheres e mães e que aqui reproduzimos. Voltamos a observar que aqui fala mais alto o afeto que a reflexão, pois nesse dia das mães, ele ativa mais que em outras ocasiões o arquétipo materno.

“Como pode saber um homem o que é uma mulher? A vida da mulher é inteiramente diferente daquela do homem. Deus a fez assim. O homem fica o mesmo, do tempo de sua circuncisão até o seu declínio. Ele é o mesmo antes e depois de ter encontrado, pela primeira vez, uma mulher. O dia, porém, em que a mulher conheceu seu primeiro amor, sua vida se divide em duas partes. Neste dia ela se torna outra. Antes do primeiro amor, o homem é igual ao que era antes. A mulher, a partir do dia de seu primeiro amor, é outra. E assim permanecerá a vida toda”.

“O homem passa uma noite com uma mulher e depois vai embora. Sua vida e seu corpo são sempre os mesmos. A mulher, porém, concebe. Como mãe, ela é diferente da mulher que não é mãe. Pois, ela carrega em seu corpo, por nove meses, as consequências de uma noite. Algo cresce em sua vida e de sua vida jamais desaparecerá. Pois ela é mãe. E permanecerá mãe, mesmo quando a criança ou todas as crianças tiverem morrido. Pois ela carregou a criança em seu coração. Mesmo depois que ela nasceu, continua a carregá-la em seu coração. E de seu coração jamais sairá. Mesmo depois que a criança tenha morrido”.

“Tudo isso o homem não conhece. Ele não sabe nada disso. Ele não conhece a diferença entre o “antes do amor” e o “depois do amor”, entre antes da maternidade e depois da maternidade. Ele não pode conhecer. Só uma mulher pode saber e falar sobre isso. É por isso que nós, mães, nunca devemos permitir que nossos maridos obscureçam esse nosso sentimento profundo. A mulher pode somente uma coisa. Ela pode cuidar dela mesma. Ela pode se conservar decentemente. Ela deve ser o que a sua natureza é. Ela deve ser sempre menina e mãe. Antes de cada amor é menina. Depois de cada amor é mãe. Nissso poderás saber se ela é uma boa mulher ou não”.

Sem dúvida, trata-se se uma visão idealizada da mulher e da mãe. Nelas há também sombras. Mas no dia de hoje, esquecemos as sombras para apenas focalizar o momento arquetípico de luz que toda mãe representa. Por isso tantos viajam nesta data: deslocam-se até para longe para ver sua “mãezinha querida” para dar-lhe um abraço filial e cobri-la de beijos.

E elas merecem. Pois não estaríamos aqui se elas não tivessem tido o infinito cuidado de nos acolher na vida e de nos encaminhar pelos misteriosos labirintos da existência. A elas o nosso afeto, o nosso carinho e o nosso amor: às vivas e aquelas que estão para além da vida.

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