25 Novembro 2021
“Diante de uma vontade definitiva de morrer, o crente sente-se sempre profundamente perturbado, tanto se aquela vontade for expressa por um indivíduo em solidão, quanto se tiver o conforto na opinião de um comitê de ética. A perturbação provém do objetivo contraste daquela vontade em relação à sacralidade da vida, que para o crente tem características de mistério e de dom e nunca é disponível”.
Assim, o teólogo e arcebispo de Chieti Bruno Forte comenta o "parecer" do Comitê de Ética que deu luz verde ao primeiro caso italiano de suicídio assistido legalmente reconhecido.
A entrevista com Bruno Forte é de Lugi Accattoli, publicada por Corriere della Sera, 24-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Reafirmado o princípio, o que diz a Mário, que pede para morrer, e a quem apoia o seu pedido?
O crente sabe que numa sociedade complexa como a nossa convivem múltiplas convicções valorais e não tem dificuldade em respeitar um caminho de consciência diferente do seu. Ele o respeita, apontando o duplo sentimento com que pretende acompanhar o seu respeito: desejo de proximidade com quem está vivenciando o drama, esperança contra toda esperança que seja possível um repensamento da decisão de morte.
Essa esperança extrema, em sua experiência como bispo, alguma vez já venceu?
Claro. Quem está decidindo pôr fim aos seus dias pode mudar de opinião e aceitar viver caso se vir colocado numa relação de amor. Vivida naquela relação, até a dor que não encontra mais remédio na medicina paliativa pode tornar-se aceitável.
O homem de fé possui algum outro recurso além daquele afetivo?
Tem como recurso específico a entrega a Deus: ‘em tuas mãos confio a minha vida’. Se a entrega for de um casal, de uma família ou de uma comunidade, também pode resultar numa ajuda para enfrentar o drama: conheci casos extremos em que a invocação a Deus da possibilidade de continuar a se ver e se amar foi decisiva.
Como vê o papel do médico chamado para assistir ao suicida? Podemos entendê-lo como um auxílio ao sofredor, segundo a concepção da profissão médica?
Da minha posição, não, e a um médico crente, recordaria a possibilidade da objeção de consciência. Mas posso entender o médico leigo que na escuta da decisão do paciente amadurece a convicção de que seu papel é acompanhá-lo naquele passo. Afinal, a questão é complexa para todos e é preciso ter em mente que ao lado do valor inviolável da vida estão também a inviolabilidade da consciência e a necessidade de evitar qualquer obstinação terapêutica.
Uma posição semelhante foi expressa pela Pontifícia Academia para a Vida, que convidou a ‘não minimizar a gravidade do que Mário viveu’, ressaltando que de modo algum se deveria ‘encorajar a tirar a própria vida’. A Academia recorda ainda a necessidade de que a única resposta a quem sofre nunca seja ‘tornar normal o gesto da nossa supressão mútua’ e lembra que ‘a lógica dos cuidados paliativos contempla a possibilidade de suspender todos os tratamentos que sejam considerados desproporcionados pelo paciente’.
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Eutanásia. “A vida nunca é disponível. Sinto perturbação, mas também respeito”. Entrevista com Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU