26º domingo do tempo comum - Ano B - Subsídio exegético

24 Setembro 2021

 

O subsídio é elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF:

 

 

Leituras do Dia
1ª Leitura - Nm 11,25-29
Salmo - Sl 18,8.10.12-13.14 (R.8a 9b)
2ª Leitura - Tg 5,1-6
Evangelho - Mc 9,38-48

 

Evangelho

 

Pode-se dividir o texto em três partes: o exorcista estranho (vv.38-40), a recompensa pela acolhida (v.41) e o escândalo (42-48). Convém lembrar que os vv. 44.46 são omitidos em muitos manuscritos, pois dizem o mesmo que será lido no v.48.

 

Vv.38-40: sempre houve taumaturgos fazendo curas e exorcismos (At 19,13-14) que invocavam anjos, demônios, pessoas famosas, como Salomão para expulsar os males. Na época da redação do evangelho, muitos já invocavam o nome de Jesus. João, provavelmente um zelote sectário, ficou com ciúmes, pois este exorcista estranho não seguia os discípulos. Note-se, que a preocupação de João não é o fato de ele não seguir Jesus, mas o fato de “não nos seguir”. Ele parece estar mais preocupado com o grupo: “nós”, do que com o evangelho. O texto se inspira em Nm 11,25ss e ensina que Jesus não é propriedade particular dos discípulos. Quem testemunha Jesus, mesmo não sendo da grei, faz o bem (Fl 1,15-18). Ser do grupo de Cristo é graça, não monopólio. A Igreja deve anunciar Cristo e nunca tentar enjaulá-lo em seus domínios. Um belo exemplo para ilustrar isto, pode ser Gandhi, um não cristão, que propagou valores cristãos com seu testemunho de vida. Os cristãos não devem impedir tais pessoas em sua missão, mas estar abertos a todos que têm o mesmo ideal a favor da vida. Todo fechamento sectário, é contra o Reino. Os discípulos nem sempre conseguem expulsar demônios (Mc 9,18ss), mas o estranho conseguiu (Mc 9,38). Deus age também fora da Igreja. A resposta de Jesus liberta a comunidade do sectarismo.

 

Aqui não se deve ver contradição com Mt 12,30, pois o contexto é outro. Marcos fala do anúncio do Reino, Mateus fala do poder do maligno.

 

V.41: o doador de um copo de água é alguém de fora, isto é, um não cristão, já que diz: “quem der... por serdes de Cristo”. Em Mc 9,33-37 se fala sobre a acolhida à criança e em 9,41 da acolhida aos discípulos. Acolher aqueles que não contam: crianças e discípulos, tem promessa de recompensa, mesmo não sendo oficialmente do grupo de Cristo, a Igreja.

 

Vv.42-28: as palavras duras de Jesus sobre o escândalo aos pequeninos, que aqui não são crianças, mas neófitos, ainda não maduros na fé, que facilmente se escandalizam e se desviam do caminho (cfr. 1Cor 8,1ss; Rm 15,1), querem mostrar a gravidade deste ato. Morrer no mar é algo extremamente humilhante, pois na cosmovisão da época, não ser sepultado era a suma desventura. Em 9,42 o escândalo é contra os outros, a partir do v.43 o escândalo é para si próprio. Amputar os membros tem o sentido de erradicar o mal pela raiz. Mão, pé e olho valem menos do que evitar o escândalo. Os olhos são a fonte da ambição, as mãos são as que se apoderam e os pés levam ao ato mau. Convém lembrar Gn 3,6. Eva viu (olhos), pegou (mãos) e levou para o marido (pés). Portanto, não se trata de se amputar membros do corpo, mas de erradicar a fonte do mal pela raiz. Ou melhor, não se trata de automutilação, mas antes de auto superação. Ou ainda, enfrentar até o martírio, em vista do Reino.

 

Geena era um antigo santuário pagão onde se fazia sacrifícios humanos. Era o vale onde se queimava o lixo de Jerusalém (2Rs 23,10), e por isto, sempre havia fogo. Neste vale Acaz queimou crianças (2Rs16,3; 21,6). Onde o verme não morre e o fogo não se extingue (cfr. Is 66,24; Jt 16,17; Eclo 7,17-19; Sl 21,10) é mais outra humilhação, pois serão, como no caso da morte no mar, corpos insepultos: extrema humilhação. Não é descrição do inferno. Antes, é uma descrição da gravidade do escândalo.

 

Relação com as outras leituras

 

Ninguém deve se sentir dono do Espírito de Deus, como queria o auxiliar de Moisés (1ª leitura), como também queria o apóstolo João (evangelho). Isto mostra que há tentações de poder dentro do povo de Deus e há, também realizadores das obras de Deus, fora do grupo dos discípulos. Assim como há cristãos que praticam a exploração contra os fracos (2ª leitura), há também gente de fora que é sensível aos valores da justiça e da solidariedade. Não queiramos o monopólio sobre o Reino.

 

 

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