18º domingo do tempo comum – Ano B - Jesus Pão da Vida

Por: MpvM | 30 Julho 2021

 

 

Contextualização


O capítulo 6 é um dos mais significativos do Quarto Evangelho. É o mais extenso e, no Ano Litúrgico é lido em 31 ocasiões, uma parte desse capítulo (Jo 6,24-35) é lido no 18º domingo do Tempo Comum, Ano B.

 

 

O discurso sobre o Pão da Vida se desenvolve de uma forma consequente, através dos sinais e dos discursos narrados. O capítulo 6 do evangelho de João começa narrando o sinal da multiplicação dos pães e dos peixes, para uma multidão que busca a Jesus por ter visto os sinais que ele fazia com os doentes (6,1-15). Em seguida, apresenta outro sinal, este só para os discípulos: Jesus caminha sobre as águas do lago da Galileia (6,16-21).

 

Vamos perceber que há repetições de alguns termos como por exemplo: “pão do céu” e “aquele que desceu do céu”, aparecem sete vezes no decorrer do capítulo 6 de João (vv. 31-51.58), por razões de ênfase e plenitude. As repetições podem ser o resultado de uma transmissão oral, sendo necessário repetir as ideias importantes para guardar na memória.

 

1. O Discurso sobre o Pão da Vida em João: 6, 24b-35


Os que se saciaram saem novamente à procura de Jesus (6,22-24) e no dia seguinte o alcançam ainda na beira do lago (6,25). Jesus, sabendo que eles o procuram porque comeram pão, os aconselha em conseguir outro alimento, que durasse a vida toda (6,27). A multidão, ligada mais nos dons do que no doador, torna-se incapaz de reconhecer nele o Enviado do Pai. O Evangelista João não narra a instituição da Eucaristia; mas a comunidade joanina é, ao lado de Paulo (1Cor 11,23-25), uma grande testemunha da Eucaristia na Igreja primitiva. Eucaristia é a Celebração da Páscoa da Nova Aliança, a festa da Libertação.

 

João fala em sinais e não em milagres. Os sinais no Quarto Evangelho querem chamar a atenção para a pessoa de Jesus, para sua obra - que são ações nas quais ele revela sua identidade divina: “Eu Sou”. O “Eu Sou” de Jesus na epifania do lago iluminará a revelação que Jesus fará de si mesmo ao identificar-se com o Pão da Vida (vv. 35. 48. 58).

 

Vamos aprofundar o texto, por partes.

 

O início deste texto (6,24b-26) remete a Cafarnaum: Quando a multidão viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam lá, entraram em barcos e foram para Cafarnaum, à procura de Jesus. (v.24) E quando o encontraram do outro lado do mar, perguntaram-lhe:
-Rabi, quando chegaste aqui? (v. 25)

 

Jesus responde: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque ficastes saciados de pão. (v. 26).

 

Leva-os a refletir sobre sua atitude de buscar Jesus por causa do pão material, mas não o reconhecem na sua ação divina, por isso acrescenta: “Trabalhai não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, alimento que o Filho do Homem vos dará; pois Deus, o Pai, o marcou com seu selo”. (v.27)

 

Jesus apresenta uma novidade, anuncia um pão que perdura até a vida eterna e quem o doará será o Filho do Homem. De um dom (alimento), passa-se ao sujeito que o dá (o Filho do Homem v. 27).

 

Há uma passagem de nível, já não se deve trabalhar para ter somente o sustento que perece, mas por um sustento que dura e dá a vida eterna. É um alimento como pão da vida. O verbo está no imperativo, trabalhai. Deve-se fazer algo totalmente novo.


Na comunidade de João, havia pessoas que duvidavam da presença de Jesus na partilha do pão. Jesus se apresenta como um alimento que sacia a fome e a sede de todos os que buscam a Deus.
Perguntaram-lhe: O que devemos fazer para realizar as obras de Deus? (v.28) // Que faremos para trabalhar nas obras de Deus?

 

Jesus respondeu-lhes: “A obra de Deus é que creiais naquele que ele enviou”, (v.29)

 

É preciso solidificar a experiência de fé no Enviado do Pai, no Seu Filho Jesus. Quem acredita realiza as obras de Deus.

 

Porém, na continuidade do diálogo as pessoas dizem a Jesus: Que sinal realizas para que vejamos e creiamos em ti? Que obras fazes? (v.30)


Os judeus pedem um sinal, exigem de Jesus que lhes mostre suas obras. Recordamos aqui que o povo viu o sinal que Jesus realizou (6, 1-15), quando deu de comer a cinco mil, multiplicando os cinco pães de cevada e dois peixes. O sinal já foi realizado, o que falta é crer no sinal que remete a Jesus.

 

“Os nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: "Ele deu-lhes pão do céu para comerem". (v. 31)

 

Os judeus falam do maná no deserto. O dom do maná ocupa um lugar importante na tradição bíblica. No tempo de Jesus, muitos doutores da lei ensinavam que o dom do maná era o maior prodígio do tempo do Êxodo. Jesus vai ampliar o entendimento, assegurando aos judeus que o doador não era Moisés, e aquele pão não era realmente celeste.

 

Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. (v.32)

 

Não há dom se não houver fé. Jesus insiste que o verdadeiro pão da vida é dado pelo Pai e não por Moisés. Pois o pão de Deus é o que desceu do céu, o que dá vida ao mundo.(v.33)

 

Jesus fala que o Pai “dá”, não “deu”. E que o pão que o Pai dá é aquele que veio dar a vida ao mundo. O verdadeiro doador é o Pai, o Dom é Jesus, sustento da vida nova.

 

"Senhor, dá-nos sempre deste pão", disseram-lhe eles. (v. 34)

 

Assim como a Samaritana que lhe pediu água para não ter que voltar a buscá-la no poço, os ouvintes de Jesus suplicam: "Senhor, dá-nos sempre deste pão!"

 

É neste momento que o texto chega à sua revelação máxima.

 

Jesus respondeu-lhes: Eu sou o pão da vida. Quem vem em mim, nunca mais terá fome, e que crê em mim nunca mais terá sede. (v. 35)

 

Jesus usa a expressão “Eu Sou”. Para os judeus soava como referência ao nome de Deus na história do Êxodo “Eu Sou aquele que sou” (Êx 3,14). Jesus revela sua verdadeira origem que vem de Deus e a verdadeira vida só se acha n’Ele. Jesus é realmente o “Pão da vida”. Crer n’Ele é participar da verdadeira vida.

 

Ao apresentar-se como “Pão da vida” Jesus convida a ir a Ele: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome...”. De Jesus aprendemos que só n’Ele o ser humano encontra o Pão de vida que o saciará plenamente, portanto é essencial comer deste pão com o fim de ter vida duradoura. Comida e vida vão junto como conceitos vitais.

 

2. Eucaristia: Dom e Compromisso


Celebrar a Eucaristia é, em primeiro lugar, agradecer o dom da vida de Deus que nos foi dado, num gesto de extremo Amor, por meio de seu Filho, Jesus Cristo. Mas é também assumir um compromisso.


Celebrar a Eucaristia não como um ato isolado na vida de Jesus, mas como Memória, isto é, soma de uma vida totalmente doada a serviço dos outros.


A Eucaristia é, também, celebração da memória dos mártires que, no seguimento fiel de Jesus, doaram sua vida, por causa do Reino.

 

3. Desafio da Eucaristia num contexto de injustiça


a) A eucaristia e os pobres - Segundo alguns padres da Igreja, a Eucaristia está diretamente relacionada com a vida dos pobres. Entre eles destacamos:


Cipriano ligava a Eucaristia com a vida. Ele diz que, se o fiel se aproxima de Cristo, ele é convidado a realizar algo em favor dos pobres.


João Crisóstomo - "Queres honrar o Corpo do Senhor? Aquele que disse: Isto é o meu corpo, disse também: Viste-me com fome e não me deste de comer. O que não fizestes a um dos menores foi a mim que o recusaste! Honra, portanto, a Cristo partilhando os teus bens com os pobres". (S. João Crisóstomo, Homilia 50 sobre Mateus)


b) A eucaristia, alimento do corpo comunitário - Celebrar a Eucarística é o grande momento comunitário de recordar tudo o que Jesus disse e fez.


Cipriano de Cartago - A Eucaristia é sinal de unidade da Igreja e de Cristo, de modo que, fora da comunidade, ela não pode se realizar.


Santo Agostinho ao falar da Eucaristia como sacrifício, diz aos cristãos que devem ser o que

 

c) A eucaristia e a partilha - Partilhar é o grande desafio eucarístico, quando se celebra num contexto de injustiça e desigualdade econômica como o nosso na América Latina.


Dando-se totalmente, Jesus nos convida a fazer o mesmo. O sangue derramado, o corpo entregue quer unir o que está dividido. E quantas divisões existem na sociedade, nas famílias e entre nós!


A Eucaristia lança-nos para fora de nós, em movimento de “saída”, para junto dos esfomeados de pão material, de solidariedade, de justiça. O Papa Francisco tem convidado a Igreja a permanecer em saída missionária. “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.” (EG, n.20)


A Eucaristia nos desafia a tomar consciência do contraste que existe entre o acúmulo de bens nas mãos de alguns e a fome, a miséria e a falta de bens necessários à sobrevivência de muitos. Enquanto celebramos sobre o altar, há milhares de mesas sem pão. Essa é uma interpelação forte que não pode ser ignorada. Porque nos nutrimos da Eucaristia é que precisamos romper com as injustiças, com o desperdício, com o descaso para com os outros.


Além de partilhar bens, a Eucaristia nos impele a ser como Jesus: Pão repartido para a humanidade.


Este é um compromisso radical e permanente de toda pessoa que segue Jesus Cristo: fazer da sua vida uma Eucaristia, que se reparte em gestos eucarísticos, no dia a dia, na comunidade, na missão.

 

Sejamos pessoas eucarísticas!

 

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