Francisco e os desdobramentos da sinodalidade

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18 Junho 2021

 

Quando o Papa Francisco foi confrontado com a renúncia do cardeal Reinhard Marx, ele deve ter se sentido como um técnico de futebol ouvindo que o seu meio-campo quer se aposentar, pouco antes de um jogo crucial, no meio de um grande campeonato. Francisco elogiou profundamente Marx pela sua coragem em se oferecer para renunciar à luz da “catástrofe” do abuso sexual clerical – e depois disse ao cardeal de 67 anos que ele deveria permanecer em seu posto como arcebispo de Munique e Freising.

O comentário é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 17-06-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A decisão do papa deixa o cardeal em uma posição mais forte. Francisco repudiou os rumores em Roma e nos Estados Unidos que afirmam que o “Caminho Sinodal” da Alemanha levará ao cisma.

A oferta de Marx para renunciar foi o seu modo de assumir a responsabilidade pelas falhas institucionais e culturais na Igreja que levaram ao escândalo dos abusos, embora o próprio cardeal não tenha sido acusado de transgressão. O Caminho Sinodal alemão nasceu da necessidade de enfrentar os defeitos estruturais da Igreja, expostos pela crise dos abusos.

Nem todos em Roma compartilham essa análise. Pouco depois de Marx tornar pública a sua carta de renúncia (com a permissão do papa), uma autoridade vaticana aposentada, o cardeal Julián Herranz, insistiu – em uma carta publicada na primeira página do L’Osservatore Romano – que o abuso e seu encobrimento são falhas pessoais e morais, e não institucionais. Herranz absolutamente não é o único no Vaticano a ter essa opinião.

Uma nova linha está sendo desenhada na areia. O papa apoiou decisivamente a análise de Marx de que a reforma da Igreja é necessária para enfrentar o abuso clerical. Em sua resposta à carta de renúncia de Marx, o papa disse que, quando se trata da crise, cada bispo “deve assumir isso e se perguntar: o que devo fazer diante dessa catástrofe?”.

Embora o papa e o cardeal alemão concordem que a necessidade de reforma é urgente, há algumas divergências entre o técnico e o seu craque em relação às táticas.

Para Francisco, os sínodos visam principalmente a energizar a missão de levar a mensagem do Evangelho às margens da sociedade. Ele se sente menos confortável com um sínodo estritamente focado em temas controversos, como a ordenação de mulheres. Em sua carta a Marx, Francisco expressou mais uma vez as suas reservas, alertando que o “poder das instituições” ou a “opinião da mídia” não salvarão a Igreja.

Mas Francisco também acredita que, se o processo do sínodo alemão quer oferecer um modelo valioso de reforma para a Igreja em geral, ele precisa que o cardeal Marx seja um dos seus líderes.

 

* * *

 

Mais mudanças ocorreram na cúpula da Cúria Romana. Desta vez, Francisco escolheu o bispo Lazarus You Heung-sik como o próximo prefeito da Congregação para o Clero. O dicastério supervisiona os mais de 410.000 padres em todo o mundo e também é responsável pelos seminários e pela formação presbiteral.

A nomeação de Dom You aponta, mais uma vez, para a inclinação da Igreja em relação à Ásia durante o pontificado de Francisco. Ele é o segundo cardeal asiático a ser escolhido por Francisco como prefeito vaticano – o outro é o cardeal Luis Antonio Tagle, das Filipinas.

Francisco conheceu Dom You durante a sua viagem à Coreia do Sul em 2014 e pediu-lhe que viesse ao Sínodo dos Jovens no Vaticano quatro anos depois.

A Igreja Católica na Coreia oferece um fascinante estudo de caso, com o seu impressionante crescimento de forma orgânica, sem a intervenção de missionários externos.

A nomeação de Dom You pode facilitar o caminho para uma visita papal à Coreia do Norte. Francisco disse mais de uma vez que gostaria de assumir uma missão para ajudar a levar a paz à península coreana.

 

* * *

 

A Comissão Internacional Anglicana Católica Romana (Arcic) não foi o início do diálogo entre a Igreja Católica Romana e a Comunhão Anglicana. As “Conversas de Malines”, promovidas pelo cardeal Mercier, arcebispo de Malines na Bélgica, com Lord Halifax, à frente da delegação anglicana, começaram há 100 anos, com a aprovação informal do Papa Bento XV e do cardeal Bourne, arcebispo de Westminster. Em 1927, a conversa havia malogrado.

Na semana passada, as embaixadas britânica e belga junto à Santa Sé organizaram em conjunto um simpósio na residência do embaixador belga em Roma para marcar esse centenário. Entre os oradores (que se dirigiram ao encontro remotamente) estava Lord Rowan Williams. Depois de um hábil aprofundamento das questões abordadas pelo diálogo de Malines, ele foi questionado sobre o que as reformas sinodais do papa poderiam significar ecumenicamente.

Lord Williams descreveu a nova ênfase na sinodalidade como um dos “desenvolvimentos mais positivos e esperançosos no repertório católico romano dos últimos anos”, embora tenha acrescentado uma advertência de que as tensões internas podem ser “difíceis de controlar”.

Ele observou ironicamente que estava falando como alguém com “um pouco de experiência em lidar com uma diversidade incontrolável”. No entanto, o ex-arcebispo de Canterbury afirmou que “está sendo aberta uma nova agenda teológica que é muito rica”.

 

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