15 Junho 2021
Padre Julio Renato Lancellotti
Crise humanitária em São Paulo.
Iconografia da História
Carolina Maria de Jesus, grande escritora brasileira, folheia livros em sua biblioteca particular, montada em seu barraco, com obras encontradas no lixo.
A escritora é autora da obra clássica "Quarto de Despejo", livro onde conta sua experiência vivendo na pobreza.
Abaixo trouxemos um fragmento escrito pela autora, que é uma das melhores descrições sobre a fome, já narradas na história da literatura mundial.
"13 de Maio. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpático para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos.
...Nas prisões os negros eram os bodes expiatórios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo. Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz.
Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. ...Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada:
– Viva a mamãe!
A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o hábito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim:
– “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude catar papel. Agradeço, Carolina”.
...Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetáculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!"
Marcos Silvestre Gera
"A microbiologista Natalia Pasternak, durante depoimento à CPI da Covid no Senado, nesta sexta-feira (11), leu uma mensagem enviada a ela pelo professor epidemiologista Pedro Hallal, a respeito de um de seus estudos publicado na revista científica Lancet, que dá conta de que três a cada quatro mortes por Covid no Brasil foram causadas por condução do Governo Federal da pandemia."
Natalia cita pesquisa de brasileiro: 'três em cada quatro mortes poderiam ter sido evitadas'. Epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, Hallau aponta "fracasso no combate à pandemia", disponível aqui.
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Reestatizar ao invés de privatizar
A Folha publicou em sua edição de ontem excelente artigo de Joaquim Francisco de Carvalho criticando a privatização da Eletrobras.
O pesquisador do Instituto de Energia e Ambiente da USP observou com precisão que as promessas quando das privatizações anteriores do sistema elétrico não foram cumpridas.
“Em vez de mais baratas, as tarifas para o setor residencial subiram mais de 55%, e as do setor industrial, cerca de 130% acima da inflação —o que provocou a falência de inúmeros estabelecimentos industriais”
“À época esperava-se que os empresários investissem em projetos novos, que contribuíssem para expandir a capacidade do sistema elétrico. No entanto, limitaram-se em comprar o que já tinha sido feito pelo Estado”.
As privatizações de empresas monopolistas, capazes de gerar grandes lucros para o Estado, foram uma “conquista” do neoliberalismo – de capitalistas rentistas em busca de oportunidades de investir.
Hoje o neoliberalismo está desmoralizado. No Reino Unido, mais de 70 por cento da população é favorável a reestatizar as empresas elétricas.
Mas nós, aqui, continuamos mergulhados no neoliberalismo, no rentismo e na quase-estagnação.
Cesar Benjamin
NOVA CRISE NO SETOR ELÉTRICO
Já é certo que a conta de luz aumentará novamente muito acima da média da inflação. Ainda não sabemos se haverá racionamento, mas isso parece cada vez mais provável, mesmo com a economia andando de lado há tantos anos, com o consumo deprimido.
É o resultado de um descalabro que tem percorrido vários governos.
O Brasil possui abundância de recursos energéticos. Quando havia planejamento, tínhamos energia segura e barata, uma enorme vantagem comparativa. Essa época deu lugar a uma escassez crônica, que se reflete sempre nas tarifas mais altas do mundo e, de vez em quando, na ameaça de racionamento. A devastação da Amazônia torna tudo mais grave, pois altera o regime de chuvas em todo o país.
O pessoal do Instituto Ilumina tem produzido um acompanhamento de boa qualidade da situação. Meu primeiro artigo sobre o tema explicava em detalhes o iminente apagão no governo de Fernando Henrique, em 2001. Depois escrevi vários outros, maiores ou menores. No link, um bem pequeno, com um título sugestivo: "Destruição impune". É de chorar.
Abraços,
Cesar Benjamin
Destruição impune, disponível aqui.
Carlos Marchi
Não, Bolsonaro não é um político de extrema-direita.
Suas posições e manifestações ENQUADRAM-SE no operativo da extrema-direita, mas ela não é o cerne de sua posição.
O cerne de sua posição é a truculência, a opressão, o autoritarismo, a má educação, a estupidez, o ódio à Ciência e à Cultura.
Ele odeia a Ciência e a Cultura porque não consegue acessá-las ou entendê-las; e porque elas fazem o bem às pessoas.
E Bolsonaro não quer o bem para as pessoas; para as pessoas, ele quer exercitar a perversidade.
Por ser um sujeito recalcado, ressentido, burro, despreparado, grosseiro, autoritário.
A pseudo-ideologia de Olavo de Carvalho era um pastiche, uma contrafação para encobrir seu verdadeiro propósito.
Que é a desconstrução das instituições, a avacalhação do cenário institucional, a disseminação do ódio e da violência.
Porque ele não sabe operar politicamente com instituições fortes e democracia sadia.
O mundo que ele domina é o mundo binário da exacerbação da perversidade e da violência.
É esse mundo que ele domina bem - uma sociedade com pessoas armadas, que resolvem suas questões pela violência.
Enfim, ele não quer o Brasil dominado pela extrema-direita (porque nem sabe direito a teoria da extrema-direita).
Ele quer o Brasil dominado pela milícia. Esse é o seu mundo, que ele conhece bem, que opera bem.
Cesar Benjamin
Em algum momento, as Forças Armadas pagarão um preço altíssimo, como nunca pagaram, se não se afastarem dessa operação criminosa. Mais cedo ou mais tarde, quando o pesadelo passar, serão enxovalhadas. Será mais uma derrota para o Brasil, que precisa delas. Os militares mais lúcidos estão advertindo sobre isso, mas a tentação por cargos e dinheiro, que não deixa de ser uma espécie de corrupção, tem falado mais alto.
Etty Hillesum, un nuovo senso delle cose
"A volte mi sembra che ogni parola che vien detta, e ogni gesto che vien fatto, accrescano il grande equivoco. Allora vorrei sprofondarmi in un gran silenzio..... Sì, a volte qualunque parola accresce i malintesi su questa terra troppo loquace."
′′ Às vezes parece-me que cada palavra que vem dita e cada gesto que é feito aumenta o grande mal-entendido. Então eu quero me afundar em um grande silêncio..... Sim, às vezes qualquer palavra aumenta os mal-entendidos nesta terra muito falador."
Tatiana Roque
Qualquer posição política hoje deve levar em conta que vivemos tempos de exceção, com riscos reais às liberdades democráticas e ao pacto de 1988. Por isso, acho bom que o PSB inicie um retorno à esquerda, com a ida de Marcelo Freixo. Claro que é um dia triste para nós do PSOL. Mas o partido segue sendo essencial para afirmar pautas ausentes em outros setores da esquerda. Seguiremos na luta para que o partido se amplie, construindo uma Revolução Solidária ao lado de Guilherme Boulos. Queremos fortalecer as frentes de esquerda em todos os âmbitos possíveis e defender nossas causas por um PSOL mais popular, amplo e representativo de quem é hoje invisível em nossa sociedade escandalosamente desigual.
Symphoniker Hamburg
Festival Marta Argerich 2021, 19 a 30 de junho.
Live Stream disponível aqui.
Foto de Daniel Dittus.
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A programação completa pode ser acessada aqui.
Alonso Gonçalves
ESCATOLOGIA SECULARIZADA E POLÍTICA
Foi Walter Benjamin quem disse que o conceito de "sociedade sem classes" de Karl Marx foi uma secularização do tempo messiânico. Nesse sentido, a "esperança" de uma sociedade sem diferenças econômicas foi pensada por Marx a partir do ideal messiânico-escatológico, como uma espécie de "salvação" no progresso dos iguais. Aqui reside a crítica de Benjamin ao progresso idealizado pelos marxistas do seu tempo, o que o torna necessário.
Por outro lado, o capitalismo secularizou a escatologia quando colocou no progresso técnico-econômico a realização da "salvação" humana, quando forneceu a promessa de que todos os desejos serão, um dia, atendidos de alguma forma. Não por acaso que Francis Fukuyama, pensador neoliberal, autor do livro "O fim da história e o último homem", defendeu que o mercado capitalista neoliberal está bem próximo da "Terra Prometida".
E quando a igreja passou a se ocupar da vida intimista das pessoas com a secularização teológica, permitiu que essas duas versões do "progresso" capturassem a linguagem messiânico-escatológica para si. A partir do momento que a igreja abriu mão da sua condição de portadora da mensagem do Messias, a esperança foi se abrigar nas utopias do progresso.
E de maneira bem objetiva, a "igreja brasileira" desconhece essa mensagem e sua potência política, porque também foi cooptada pelo poder político-econômico e assumiu as feições de um "messias" que quer implantar, a todo o custo, o seu "Jardim do Éden" com armas nas mãos. Portanto, esse debate está longe de seguir no contexto evangélico, porque seguem fazendo muita besteira.
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