15 Junho 2021
Teólogo francês diz que precisa haver mudanças na forma como os bispos são escolhidos e no modo como são responsabilizados.
A reportagem é de Mélinée Le Priol, publicada em La Croix, 14-06-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os casos de bispos católicos que estão em conflito com seus padres e com o povo das suas dioceses não são nenhuma novidade.
Mas as acusações de governança abusiva, que recentemente se tornaram mais comuns em lugares como a arquidiocese francesa de Avignon, levantam sérias questões sobre como responsabilizar os bispos.
Arnaud Join-Lambert, professor de teologia da Universidade Católica de Louvain, disse que o Concílio Vaticano II (1962-1965) reavaliou a missão dos bispos. Mas ele disse que ainda há muito poucos freios e contrapesos sobre o poder do bispo dentro da Igreja institucional.
Eis a entrevista.
Como você explica a influência atual que os bispos têm na Igreja?
Se a eclesiologia do Concílio de Trento foi construída sobre as figuras do pároco e do papa, o Concílio Vaticano II valorizou fortemente a Igreja local e, portanto, o seu pastor, o bispo. A ideia geral é de que, em uma diocese, se encontra toda a Igreja Católica em um só lugar.
Do ponto de vista da teologia, não existe um nível intermediário entre o papa, fiador da comunhão, e o bispo, administrador de uma Igreja local. Também é significativo que, desde o Vaticano II, não falamos mais de consagração, mas de ordenação episcopal. O episcopado agora é considerado um grau específico do sacramento da Ordem, enquanto anteriormente o bispo era um padre que recebia uma missão particular.
Como remediar eventuais “erros de seleção” no episcopado?
Se o próprio bispo não deseja renunciar, é muito difícil. Porque o modo de exercer uma pastoral, mesmo que seja autoritária ou não colaborativa, não é punível pelo direito da Igreja. Trata-se antes daquilo que se chama de “estilo episcopal”. Em Quimper (uma diocese no noroeste da França), o bispo estava em conflito com uma parte do seu clero e renunciou em 2015. Mas, se ele absolutamente não quisesse renunciar, provavelmente teria sido difícil forçá-lo a fazer isso.
São possíveis algumas evoluções nos próximos anos?
Algumas vozes estão se levantando na Igreja hoje para que os procedimentos da nomeação dos bispos sejam mais transparentes, com consultas mais amplas. É claro que a questão da “seleção” é essencial. E a seleção dos núncios também é importante, aliás! Outra evolução possível, que deve ser discutida no próximo Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade em 2023, é dar mais poder aos órgãos de governo dentro das dioceses. O conselho pastoral diocesano, por exemplo, poderia ser tornado obrigatório. Quanto ao conselho presbiteral, que já é obrigatório, ele poderia ter um poder deliberativo, e não apenas consultivo.
Leia mais
- Concílio Vaticano II. 50 anos depois. Revista IHU On-Line N° 401
- Há 60 anos, o primeiro anúncio do Concílio Vaticano II. Uma inesperada primavera
- O Concílio Ecumênico Vaticano II: Uma Fonte de Espiritualidade para os tempos atuais
- Ai de nós se esquecêssemos o Vaticano II! Artigo de Hans Küng
- O processo sinodal 2021-2023. Papa Francisco lança o mais importante projeto católico global desde o Vaticano II
- “O Concílio é magistério da Igreja. Se você não segue o Concílio, você não está com a Igreja”
- Aquilo que resta do Vaticano II. Por que a recepção do Concílio ainda é um problema? Artigo de Massimo Faggioli
- Movimento, instituição e Vaticano II. A fé e o legítimo progresso da tradição. Artigo de Andrea Grillo
- Redescubramos o Concílio Ecumênico Vaticano II
- Oposição a Francisco está enraizada na oposição ao Vaticano II
- Do catolicismo democrático do Concílio Vaticano II à vitória de Biden
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O que fazer quando um mau bispo se recusa a renunciar? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU