6º domingo da Páscoa - Ano B - O discipulado no amor como amigas e amigos em Deus

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Por: MpvM | 08 Mai 2021

 

"O amor ao próximo é central na fé cristã, que proclama “Deus é amor”. Em consequência, somos chamadas e chamados a estabelecer relações e compromissos com nossos irmãos e nossas irmãs em que a relação de proximidade e comunhão amorosa com Deus se reflita em gestos concretos no cotidiano. Dito de outra forma, o amor no qual Jesus nos convida a permanecer sustenta-se no “amor primeiro” de Deus e comporta uma dinâmica de vida que se nutre desta experiência de sermos amadas e amados por Deus em Jesus e nos move a dar a vida pelos outros. “Permanecer no amor” é, portanto, um movimento de amar e deixar-se amar, impulsionado pela iniciativa amorosa de Deus, numa dinâmica existencial para a qual Jesus mesmo se apresenta como referência: como eu guardei os mandamentos do meu Pai, como eu permaneço no seu amor."

 

 

A reflexão é de Cleusa Maria Andreatta, religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência. Ela possui graduação em Filosofia e Teologia pela PUCRS, mestrado em Teologia pela  FAJE/BH e doutorado em Teologia pela PUC-RIO. Atualmente é professora adjunta da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e integrante da Equipe de Coordenação do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, com ênfase no Programa Teologia Pública. 

 

 

 

Leituras do Dia
1ª Leitura - At 10,25-26.34-35.44-48
Salmo - Sl 97,1.2-3ab.3cd-4 (R. cf. 2b)
2ª Leitura - 1Jo 4,7-10
Evangelho - Jo 15,9-17

 

A liturgia da palavra do 6º domingo da Páscoa nos põe em contato com o tema mais fundamental do Evangelho de João, que é o amor de Deus manifestado na pessoa, nos gestos e nas palavras de Jesus e vem ao nosso encontro como um convite a deixar-nos envolver e a engajar-nos no dinamismo desse amor na nossa vida cotidiana.

O Evangelho de Jo 15,9-15 faz parte do grande discurso de despedida de Jesus (Jo 13-17), que tem como contexto a última ceia, num momento decisivo em que Jesus se mostra consciente da proximidade de sua morte na cruz. Assim tudo o que é dito neste discurso se apresenta como o testamento de Jesus para seus discípulos e suas discípulas de ontem e de hoje, em que recorda o que é essencial de sua mensagem e oferece orientações fundamentais para o caminho do discipulado.

O texto se situa em continuidade ao que refletimos no domingo anterior, em que Jesus usa a imagem da videira e os ramos (Jo 15,1-8) e a palavra “permanecer” aparece como uma palavra-chave que perpassa o texto convidando à comunhão de vida com Jesus: Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. (Jo 15, 4) Esta mesma palavra – permanecer – perpassa o texto de Jo 15,9-15 como um forte convite a permanecer no amor de Jesus, que remete ao amor do Pai e ao amor aos irmãos e irmãs. Tudo está centrado no mandamento do amor, como vivido por Jesus: Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.(v. 12)

 

 

O convite de Jesus a permanecer no seu amor tem por fundamento a experiência do amor de Deus por Ele vivida e posta em prática: Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei (v. 9). O reconhecimento de fé e experiência do amor de Deus está na base do mandamento do amor. Aprofundando esta reflexão do Evangelho, a segunda leitura (1 Jo 4,7-10) nos convida a uma vida segundo o dinamismo do amor, tendo por base a convicção de que “Deus é amor”. O amor é apresentado como o atributo ou a característica mais fundamental de Deus, amor este que se manifestou em seu Filho.

amor ao próximo é central na fé cristã, que proclama “Deus é amor”. Em consequência, somos chamadas e chamados a estabelecer relações e compromissos com nossos irmãos e nossas irmãs em que a relação de proximidade e comunhão amorosa com Deus se reflita em gestos concretos no cotidiano. Dito de outra forma, o amor no qual Jesus nos convida a permanecer sustenta-se no “amor primeiro” de Deus e comporta uma dinâmica de vida que se nutre desta experiência de sermos amadas e amados por Deus em Jesus e nos move a dar a vida pelos outros. “Permanecer no amor” é, portanto, um movimento de amar e deixar-se amar, impulsionado pela iniciativa amorosa de Deus, numa dinâmica existencial para a qual Jesus mesmo se apresenta como referência: como eu guardei os mandamentos do meu Pai, como eu permaneço no seu amor.

O modelo da relação entre Jesus e a comunidade sob o dinamismo do mandamento do amor é o da amizade (v. 14), que rompe com a relação de “senhor” e “servo”, e constitui discípulos e discípulas amigos e amigas, aos quais dá a conhecer seu projeto. A amizade entre Jesus e quem O segue se consolida em torno da missão em comum de testemunhar e anunciar e o amor, anunciar a salvação de Deus e, assim, produzir frutos que permaneçam (v. 16).

Juntamente com o mandamento do amor Jesus compartilha também sua alegria. Ele apresenta sua mensagem como fonte de alegria: Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa (v. 15). É impressionante que João situa Jesus partilhando sua alegria exatamente enquanto se encaminha para a extrema entrega de sua vida na cruz, o que precisa ser compreendido à luz da fé no Ressuscitado. Ainda no seu discurso de despedida Jesus oferece sua promessa de alegria como consolação e esperança, que permite ir além da tristeza que também se manifesta no caminho da cruz: Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria (Jo 16, 20). E ainda insiste: Eu hei de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria (Jo 16, 22). Assim, na certeza do Ressuscitado e na força do seu Espírito nós recebemos a força e a coragem para a viver a radicalidade do amor, numa dedicação e entrega de nossa vida que possibilita cultivar e compartilhar a alegria do Evangelho como expressão do amor a Deus e do amor ao seres humanos, irmãos e irmãs.

Enfim, o dinamismo do amor que nos torna amigos e amigas de Jesus convida-nos a fazer de nossa vida em comunidade uma alegre boa notícia do Evangelho, do Amor de Deus. Assim podemos celebrar com a vida a alegria da salvação gratuitamente oferecida por Deus, que é celebrada no Salmo 97: “O Senhor deu a conhecer a sua salvação, revelou... sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade”.

 

 

O amor de Deus revelado em Jesus que, ungido por Deus com o Espírito Santo, “andou fazendo o bem” (cf. At 10,38) é um amor inclusivo. Na primeira leitura (At 10,25-26.34-35.44-48), ao relatar o episódio da Conversão de Cornélio e de toda sua família, Lucas deixa claro que Deus quer que sua salvação chegue a todos as pessoas, sem distinção, como dom oferecido a todos os homens e mulheres mantêm o coração aberto ao projeto de Deus. Com isso, o Deus que ama todos os seres humanos, sem exceção, convida-nos a viver e cultivar em nossas comunidades um amor inclusivo, também dos “diferentes”, com bondade, compreensão, respeito e amor, anunciado dessa forma o amor de Deus no mundo em que vivemos.

Meditando a Palavra de Deus a nós dirigida neste domingo podemos nos perguntar: Que significa acolher e responder o mandamento de Jesus amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” em meio às situações concretas do mundo e do momento concreto em que vivemos?

 

Torno presente aqui especialmente duas perspectivas de reflexão, que podem ser relevantes para nós:

Que o Espírito do Ressuscitado nos conduza e inspire na vivência do mandamento do amor.

 

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