O mal e o sofrimento no mundo [pós] pandêmico são tema de debates no IHU

Dentro da agenda de eventos do IHU, proposta é pensar nos sentimentos e ações que nos cercam nesse tempo à luz do mistério Pascal

Arte: Paweł Czerwiński / Unsplash

Por: João Vitor Santos | 16 Março 2021

 

Logo mais, às 10 horas, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU refletirá e debaterá o tema A questão do mal e do sofrimento no mundo [pós] pandêmico à luz do mistério Pascal, com a conferência do prof. Dr. Andrés Torres Queiruga, de Santiago de Compostela, na Espanha.

Com vasta produção de reflexões acerca das questões do mal, do sofrimento e das respostas do cristianismo a esses cenários, o professor ministrará a conferência centrada nesse tema que hoje se faz ainda mais atual diante da realidade trazida pela pandemia que temos vivido. A ideia é tecer uma abordagem na perspectiva da teologia trinitária do sofrimento de Deus.

 

Professor Queiruga (Foto: Escola Fé Adulta)

 

Como todos os eventos que vêm sendo realizados pelo IHU, a conferência será transmitida ao vivo no modelo live e pode ser acessada pela plataforma Microsoft Teams e pelo Canal do IHU no You Tube. Quem deseja certificação deve fazer a inscrição online.

 

Em 2018, Queiruga concedeu entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU em que abordou a questão do sofrimento desde a perspectiva da ressurreição de Cristo, que se sobrepõe ao sofrimento a que o próprio filho de Deus é submetido. “Jesus não foi aniquilado pela morte”, disse na época. “Senão que segue sendo ele mesmo na sua identidade pessoal, não diminuída, mas potenciada enquanto glorificada em Deus. A ressurreição da carne – eu prefiro dizer a ressurreição dos mortos – confessa Jesus já plenamente realizado como Jesus Cristo”, completa a reflexão.

 

Isso significa que esse é “o Deus de vivos e não o Deus de mortos. O que ressuscita os mortos, todos os mortos e todas as mortas, desde o começo do mundo”. Logo, o sofrimento é vencido pela vida que se refaz. Mas, estando nós vivendo em tanta dor e sofrimento em tempos da implacável Covid-19, poderíamos ser levados a crer que o sofrimento é necessário. O problema é que dizer isso a quem perde um ente querido ou vê a doença esfacelar os nervos, deixando sequelas no corpo e na mente, pode soar um tanto perverso, configurando um Deus carrasco e punitivo.

 

 

 

Só que não é nessa linha que Queiruga nos incita a pensar. “Deus nunca entregou Jesus à morte, no sentido normal que as palavras têm, pois pensar assim seria atribuir-lhe um crime horrível. Jesus foi entregue à morte pela injustiça e pela maldade dos homens”, explica nessa mesma entrevista. Pensando na pandemia, é como se vivêssemos as consequências de nossos próprios atos e sofremos, num sofrimento imposto por nós mesmos, para que ressuscitemos noutras relações conosco e com o próprio planeta.

 

A esperança como chave

 

Essa reflexão de Queiruga lá de 2018 leva a uma outra formulação sua, bem mais recente e reproduzida no sítio do IHU em maio do ano passado, no que convencionamos chamar de primeira onda da pandemia no mundo. “De repente, um "pequeno" vírus transtorna o mundo, fazendo de todos (pan) um único povo (demos): pela primeira vez uma "aldeia global". Transtorna até as fundações, fazendo cair, uma a uma, casas de papel, seguranças vazias, preocupações superficiais”, observou.

 

 

 

Ao longo desse artigo, o professor vai refletir que ao invés de vermos esse episódio como castigo de Deus, que quem sabe poderia até nos livrar ou aliviar toda essa dor, talvez seja mais interessante pensar na esperança de um Deus que é amor. Por isso, sugere que olhemos esse como um “cenário mais verdadeiramente humano na inesperada explosão de generosidade fraterna que nos une diante do sofrimento e da morte”. E sugere que “é urgente unir-se na luta: através do diálogo crítico nas interpretações, aproveitando o que nos une na prática, antes de chegar às diferenças na teoria”.

 

É aí que chega em suas provocações de pensarmos até mesmo a religião, pois “a religião precisa atualizar sua imagem de Deus e responder a ela com procissões ou súplicas que tenham sentido apenas assumindo que um mundo-sem-mal é possível”. Afinal, como conclui, “quem acredita em Deus tem a tarefa urgente de tornar sua imagem atual. Um Deus que cria por amor e vive consignado à sua criação, mas com uma presença que não pode ser evidente, porque funda e promove sem interferir respeitando a autonomia das criaturas: tanto a das leis físicas, especialmente aquelas da liberdade”. Pois assim, acredita ele, “a esperança é possível, apesar do mal. E a humanidade tem o direito de se sentir acompanhada”.

 

Confira as demais conferências

 

Além da palestra de hoje, estão programadas mais duas palestras acerca dessa temática A questão do mal e do sofrimento no mundo [pós] pandêmico à luz do mistério Pascal. A próxima será dia 24 de março, às 10h, com o prof. Dr. Cesar Augusto Kuzma, professor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ. Ela abordará “A teologia da Cruz e a esperança cristã no contexto pandêmico”, tomando como base o pensamento de Jürgen Moltmann.

 

Professor Kuzma (Foto: PUC - RJ)

  

No dia 30 de março, também às 10h, o palestrante será o Prof. Dr. Carlos Mendoza Álvarez, do Boston College, nos Estados Unidos. Sua fala será justamente uma provocação sobre como falar de Deus em meio a um mar de sofrimento humano, um dos maiores desafios da Teologia em nosso tempo.

 

Professor Mendoza Álvarez (Foto: Universidad Ibero-Americana)

 

Afinal, como disse em entrevista reproduzida pelo IHU em maio do ano passado, “a teologia foi cúmplice deste modelo de civilização que está em crise, demasiadamente antropocêntrica” e é justamente por isso que ela também precisa se pautar pelas questões da crise do Antropoceno. “E o tema teológico de fundo seria uma autocrítica do cristianismo e sua contribuição a algumas violências que deram como resultado uma sociedade hegemônica com o patriarcado, o capitalismo, o colonialismo, a religião sacrificial. Tudo isso está em crise agora”, provoca.

 

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