09 Março 2021
Alguns profissionais de saúde estão erradamente recomendando que as mães parem de amamentar se forem infectadas pelo coronavírus. O alerta é do doutor Cesar Victora em artigo publicado, em fevereiro deste ano, pela Revista Lancet, uma das revistas científicas mais conceituadas do mundo. O artigo apresenta evidências para contribuir na decisão de políticas públicas relacionadas à amamentação e infecção por Covid-19.
A reportagem é publicada por Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, 05-03-2021.
O texto, de autoria do doutor Cesar Victora, médico brasileiro e uma das maiores autoridades do mundo sobre amamentação, aborda as evidências disponíveis em relação aos benefícios de manter a amamentação quando a mãe apresenta infecção por Covid-19. O artigo reforça que já há evidências de alta qualidade que mostram os benefícios do aleitamento materno exclusivo, do contato pele a pele logo na primeira hora de vida, do cuidado responsivo na sobrevivência, saúde e desenvolvimento infantil.
Mesmo assumindo que existem altas taxas de transmissão de mãe para filho de SARS-CoV-2 por contato e através do leite materno, as mortes adicionais entre bebês recém-nascidos e bebês em países de baixa e média renda que fossem separados das mães e não amamentados seria aproximadamente 67 vezes maior do que o número de bebês recém-nascidos e bebês com probabilidade de morrer por conta de Covid-19.
Segundo o autor, a presença de moléculas de RNA SARS-CoV-2 no leite materno é uma observação importante, mas não justifica uma decisão de saúde pública baseada apenas neste achado. O doutor Cesar Victora ainda reforça que “não há nenhum caso comprovado de transmissão do coronavírus pelo leite materno e, mesmo que houvesse uma transmissão, o risco de morte devido a não amamentar seria quase 70 vezes superior ao eventual risco de uma criança após contrair Covid-19 pelo leite materno. Apesar disso, há profissionais de saúde que estão erradamente recomendando que as mães parem de amamentar se forem infectadas pelo coronavírus”.
Como reforço dessa questão, o artigo cita que o contato com a mãe ou a amamentação não são as únicas maneiras dos bebês se contaminarem pela Covid-19. Em pesquisa nacional brasileira, 13 (35%) dos 37 familiares de participantes com teste positivo para anticorpos SARS-CoV-2 também testaram positivo, ou seja, a transmissão também pode ocorrer por exposição a cuidadores infectados, mas assintomáticos, em casa, em unidades de saúde ou na comunidade. Dessa forma, para se ter a proteção completa do bebê, este deveria ser removido de sua própria casa, o que é irreal.
O coordenador internacional da Pastoral da Criança e doutor em Saúde Pública, Nelson Arns Neumann, defende ser necessário apoiar que as mães contaminadas pela Covid-19 tenham contato e continuem amamentando seus filhos, procurando manter as medidas de prevenção de transmissão, como lavar as mãos e usar máscaras faciais.
“Os benefícios da amamentação sobre a sobrevivência infantil superam todas as outras causas de morte que a falta dessa possa levar. A mensagem dos profissionais de saúde para as famílias sobre o apoio à amamentação deve ser clara”, afirma.
Pastoral da Criança
A Pastoral da Criança, há mais de 37 anos, vem apoiando a amamentação acreditando que é dever de toda a comunidade criar condições para as mães amamentarem e promover o aleitamento materno.
Hoje, por meio do Aplicativo Visita Domiciliar e Nutrição, todos os voluntários e famílias acompanhadas recebem informações confiáveis e alertas sobre qualquer atualização sobre a pandemia no “e-Combate ao Coronavírus”, com base nas informações da Organização Mundial da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria, Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e protocolos do Ministério da Saúde.
No link abaixo é possível acessar dados sobre a atuação da Pastoral da Criança em defesa do aleitamento, números e demais informações sobre todas as ações realizadas:
Relatório Anual da Pastoral da Criança 2020.
O artigo completo da Revista Lancet pode ser encontrado aqui.
Com informações da Pastoral da Criança.
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Risco de uma criança morrer por falta de amamentação é 67 vezes maior do que por Covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU