13 Janeiro 2021
Elcio José de Toledo
Primeiro o presidente diz que o Brasil está quebrado e ele não pode fazer nada. Depois uma multinacional diz que vai embora do país e ele fica bravo. O que a multinacional iria fazer num país quebrado onde o presidente não pode fazer nada?
Christian Edward Cyril Lynch
A falsa cláusula do processo de impeachment
Desenvolveu-se no Brasil a curiosa tese de que o Congresso só precisa se mexer para remover um criminoso da presidência, caso a população encha pelo menos 10 quarteirões da Av. Atlântica ou Rio Branco e da Paulista durante quatro domingos seguidos. Caso contrário, os congressistas estão liberados do seu dever constitucional de punir um presidente criminoso, dando-lhe carta branca para anarquizar a república e destruir a democracia.
Essa cláusula não está nem na lei nem na constituição. Mas ela convém a todos os congressistas que não querem abrir mão dos carguinhos que o governo lhe oferece para acomodar os apaniguados, nem perder as vantagens de uma atitude de duplicidade diante do poder. O impeachment é um processo existe para investigar supostos crimes de responsabilidade do presidente. Não tem compromisso com o êxito e serve como advertência para frear os abusos. Se você abre mão da possibilidade de investigar os crimes, porque só vale a pena se for pra passar, você estimula a continuidade dos crimes.
Imaginem alguém informando à presidente da câmara dos deputados americana que o impeachment presidencial exige dez quarteirões de gente protestando 4 domingos seguidos nas avenidas de Nova York, Los Angeles, Chicago e Miami. Não fico para ver a resposta, porque não será nada polida...
Idelber Avelar
Meçamos vosso grau de otimismo para o ano que se inicia. Se tivesse que apostar dinheiro, ou seja, caso se trate de escolher o que acha mais provável, e não o que deseja, você diria que:
1. O minúsculo cai antes das eleições de 2022, por impeachment, por cassação ou qualquer outro método.
2. O minúsculo completa o mandato, chega às eleições de 2022, mas perde, seja para uma coalizão liberal-democrática, seja para uma coalizão de esquerda.
3. O minúsculo completa o mandato, candidata-se à reeleição e vence, seja no 1˚, seja no 2˚ turno.
Se tivesse que escolher o que acha que vai acontecer, não o que você quer que aconteça, seria 1, 2 ou 3? Vote, com argumento ou sem. Pode argumentar se quiser. Mas eu gostaria de ver os votos.
Marta Gustave Coubert Bellini
Deixei de ler comentários da Gazeta do Povo, eçe jurnau crueltibano. Hoje li. Me desobedeci. O auê contra a vacina coronavac é de matar.
Foto: Reprodução Facebook
Domingos Roberto Todero
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social afirmou que vai pedir explicações à Ford sobre sua decisão de fechar suas fábricas e encerrar a produção de veículos no Brasil, o que deve levar à demissão de cerca de 5.000 trabalhadores.
De acordo com levantamento feito pelo Globo, somente as 20 maiores operações do BNDES com a Ford somaram cerca de R$ 3,5 bilhões em linhas de financiamento desde 2002.
Os projetos tinham foco em exportação, desenvolvimento de veículo e apoio a projetos sociais na comunidade.
Segundo o BNDES, entre as operações diretas feitas com a Ford, ainda há 2 operações ativas. Por isso, o banco já procurou a empresa para pedir esclarecimentos.
Estão em situação ativa empréstimos cujo valor contratado chega a R$ 335 milhões e se referem ao desenvolvimento de novos veículos e de projetos sociais.
O banco não foi informado pela montadora sobre o fim da produção nacional.
"O BNDES soube pela mídia do fechamento das fábricas, procurou a empresa para pedir esclarecimentos. O Banco aguarda informação oficial para avaliar os impactos da eventual decisão nos projetos financiados".
"Os projetos financiados junto à Ford, bem como outros financiados pelo BNDES no antigo Programa BNDES Proengenharia, trouxeram como externalidade a capacitação local da engenharia para atuação da indústria em nível internacional. Todos os contratos diretos do BNDES dispõem de cláusulas-padrão relacionadas à manutenção do emprego em razão da implantação do projeto", explicou o banco em nota.
Em 2014, a montadora recebeu, por exemplo, R$ 195,4 milhões para criar, desenvolver e produzir o novo Ka na fábrica da empresa em Camaçari. Nesse caso, os recursos foram contratados pelo programa voltado para inovação de máquinas.
Desde os anos 2000, a montadora vem recebendo financiamento para permitir embarques, prática comum no setor. Em 2005, a montadora recebeu crédito de US$ 250 milhões, com compromisso de exportação de, no mínimo, US$ 834 milhões na ocasião.
Em 2008, quando recebeu empréstimo de R$ 78 milhões para desenvolver seu Programa de Apoio à Engenharia Automotiva em Camaçari, a empresa precisou garantir que iria manter a mão-de-obra qualificada em seus quadros na Bahia, como os 1.050 engenheiros envolvidos no desenvolvimento e engenharia de produtos.
Marise Fetter
"Cara Jornalista Rosane Oliveira,
eu não tenho elementos para avaliar o quanto de jornalismo tem nesta sua declaração sobre o anúncio da Ford de ir embora do Brasil e a suposta profecia de Olívio Dutra. Tampouco para desmerecer tua capacidade que, pela posição que ocupas, deve ser das mais elevadas possíveis.
Mas tenho plena capacidade e obrigação de contrapor a duas de tuas afirmações.
E não porque, há 20 anos, me coube a responsabilidade profissional de estar ao lado do competente e saudoso secretário Zeca Moraes na mesa de negociação onde a Ford decidiu, unilateralmente, abandonar seu projeto no RS. Mas porque tinha, e espero manter, discernimento e capacidade de interpretação de que o projeto inciado por FHC e Antonio Britto, de destruição das capacidades do Estado nacional, seria maléfico para o desenvolvimento do Brasil e do RS, apesar dos ganhos passageiros que eram ostentados. E por ser um dos milhares que, junto com Olívio e Zeca, sofreram os “ataques dos adversários” ampliados por câmeras, microfones e páginas 10 vezes mais privilegiadas.
1) Não foi profecia. Olívio Dutra é uma instituição viva da política, decente, honesto, coerente e comprometido com a melhoria da vida da população que mais precisa. E para isso não precisa ser profeta. O que o Olívio, do alto da responsabilidade de governador do RS, afirmou era uma leitura simples e coerente. Diria, até, óbvia, pois embasada em inúmeros analistas e estudiosos do subdesenvolvimento e da globalização financeira. Restava claro que as políticas neoliberais de benefícios às multinacionais, às custas da destruição da capacidade fiscal dos estados, não traria desenvolvimento sustentado e ainda tirariam a capacidade de manter investimentos nos serviços básicos e na infraestrutura, fundamentais ao desenvolvimento. As multinacionais promoviam uma competição espúria, buscando salários mais baixos e flexibilidades ambientais que já não encontravam em seus países sede. E de brinde, exigiam e levavam benesses que tiraram recursos da saúde, da educação, da segurança e do desenvolvimento da população dos países e estados que a elas se ajoelhavam. Mas claro, possuíam e ainda possuem grande simbolismo pelos empregos que geravam, pequenos impactos localizados e, claro, por suas gordas contas publicitárias.
2) Os “ataques dos adversários por ter ‘mandado (sic) a Ford embora’” foram gerados, amplificados, repetidos mil vezes e constituídos como uma fraude histórica desde as redações e bancadas deste teu lugar de fala, cara Rosane. Restou provado na justiça, com direito a ressarcimento financeiro pela Ford ao povo gaúcho, que foi ela quem foi embora. Mas por ter lado na disputa política e defender os interesses das multinacionais e grupos financeiros contra o desenvolvimento do povo gaúcho e brasileiro é que a maior empresa de comunicação do RS deu vida a tal mito, assim como a outros que se seguiram. Petistas, Olívio Dutra, Zeca Moraes e um RS Democrático e Popular foram achincalhados desde este teu lugar de fala. As reformas destruidoras do setor público seguem sendo prioridade na mesma proporção em que a economia do RS e do Brasil seguem definhando, para o sofrimento de nosso povo. Pior que a montadora, é a vida digna de um povo ser mandada embora.
Lamento, mas esta tua tentativa de deferência a Olívio Dutra não faz justiça histórica. Talvez um pedido de desculpas, por que não? De qualquer forma, o mal está feito. E segue sendo feito com a linha editorial de reformas anti povo e destruidoras do patrimônio público, ancorado na mesma ladainha e publicidades de 20 anos atrás: o Estado está quebrado! Mas a história segue. E sabemos muito bem quem pode andar de cabeça erguida e dormir com a consciência em paz."
Sérgio Kapron
Gustavo Figueiredo
Assim, ó:
Vacinou com a CoronaVac?
Caso entre em contato com o vírus, cai pela metade a chance de pegar a doença. É o 50% de eficácia geral.
Isso dito, 78% de quem tomar a vacina ou não pega a doença ou nem tem sintomas; os outros 22% têm uma gripezinha pra menos, uma dorzinha de cabeça, uma perda de olfato e paladar. Coisa pouca.
O principal, se pegar a doença, é 100% de que NÃO VAI ser internado e NÃO VAI MORRER.
Não vacinou?
Pode morrer.
edit: rolou uma adequação aí na escrita pra não passar dado errado.
Valmor Rother
Artigo copiado do FB do professor Roberto Romano Da Silva:
Copio para os não assinantes. RR
Artigo: A mentira como ferramenta política
O entusiasmo da audiência para ser enganada se tornou uma força motriz de alguns governos, como o dos Estados Unidos
Andrew Higgins / The New York Times, O Estado de S.Paulo
12 de janeiro de 2021 | 04h00
Moscou - Em um telegrama para Washington em 1944, George F. Kennan, conselheiro da Embaixada dos EUA na Moscou de Stalin, alertou sobre o poder oculto mantido por mentiras, observando que o governo soviético "tinha comprovado algumas coisas estranhas e perturbadoras sobre a natureza humana."
A mais importante entre elas, escreveu ele, é que, no caso de muitas pessoas, “é possível fazê-las sentir e acreditar em praticamente qualquer coisa”. Não importa o quão falso algo possa ser, ele escreveu, “para as pessoas que acreditam nisso, torna-se verdade. Ela conquista a validade e todos os poderes da verdade.”
A visão de Kennan, gerada por sua experiência na União Soviética, agora tem uma ressonância assustadora para os EUA, onde dezenas de milhões acreditam em uma "verdade" inventada pelo presidente Donald Trump: que Joe Biden perdeu a eleição de novembro e tornou-se presidente eleito apenas por meio de fraude.
Donald Trump
Mentir como ferramenta política não é novidade. Nicolau Maquiavel, escrevendo no século 16, recomendou que um líder tentasse ser honesto, mas mentir ao dizer a verdade “o colocaria em desvantagem”. As pessoas não gostam de ser enganadas, observou Maquiavel, mas "aquele que engana sempre encontrará aqueles que se permitem ser enganados.”
A disposição, e até mesmo o entusiasmo, de ser enganado tornou-se nos últimos anos uma força motriz na política em todo o mundo, principalmente em países como Hungria, Polônia, Turquia e Filipinas, todos governados por líderes populistas adeptos a contar meias verdades ou inventá-las completamente.
Janez Jansa, um populista de direita que em 2018 tornou-se primeiro-ministro da Eslovênia - o país natal de Melania Trump - foi rápido em abraçar a mentira de Trump de que ele venceu. Jansa o parabenizou após a eleição de novembro, dizendo "está muito claro que o povo americano elegeu" Trump e lamentando "fatos negados" pela grande imprensa.
Até o Reino Unido, que se considera um bastião da democracia, foi vítima de mentiras evidentes, mas amplamente aceitas, votando em 2016 para deixar a União Europeia após alegações do lado pró-Brexit de que sair do bloco significaria 350 milhões de libras a mais, ou US$ 440 milhões, todas as semanas para o serviço de saúde do país.
Aqueles que propuseram essa mentira, incluindo o político do Partido Conservador que desde então se tornou o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, mais tarde admitiram que ela havia sido um "erro" - embora só depois de terem vencido a votação.
Brexit - Reino Unido
Mentiras maiores e mais corrosivas, aquelas que não apenas mexem com números, mas remodelam a realidade, encontraram apoio extraordinário na Hungria. Lá, o líder populista Viktor Orbán classificou o investidor e filantropo George Soros, um judeu nascido na Hungria, como o mentor obscuro de um plano sinistro para minar a soberania do país, substituir os húngaros nativos por imigrantes e destruir os valores tradicionais.
A força desta teoria da conspiração antissemita, disse Peter Kreko, diretor executivo da Political Capital, um grupo de pesquisa em Budapeste há muito crítico de Orban, reside em seu apelo a uma "mentalidade tribal" que vê todas as questões como uma luta entre "o bem e mal, preto e branco ”, enraizado nos interesses de uma tribo particular.
Na Polônia, o profundamente conservador Partido Lei e Justiça de Jaroslaw Kaczynski, no poder desde 2015, promoveu sua própria teoria da conspiração multifuncional e que muda a realidade. Ela gira em torno da alegação repetidamente desmascarada do partido de que a morte em 2010 de dezenas de autoridades poloneses, incluindo o irmão de Kaczynski - o presidente da Polônia na época - em um acidente de avião no oeste da Rússia foi o resultado de um complô orquestrado por Moscou e ajudado, ou ao menos encoberto pelos rivais do partido em Varsóvia.
Embora especialistas poloneses, russos e independentes tenham culpado o mau tempo e o erro do piloto pelo acidente, a crença de que foi um crime ressoou entre os defensores obstinados do Lei e Justiça. Isso alimentou e reforçou a visão de que os líderes do governo de centro anterior não são apenas rivais políticos, mas traidores em conluio com o inimigo há séculos da Polônia, a Rússia, além da ex-elite comunista da Polônia.
Ferramenta de governo
A conveniência de mentir em grande escala foi demonstrada pela primeira vez há quase um século por líderes como Josef Stalin e Adolf Hitler, que cunharam o termo "grande mentira" em 1925 e ascenderam ao poder com a mentira de que os judeus foram responsáveis pela derrota da Alemanha na 1ª Guerra. Para os ditadores alemães e soviéticos, mentir não era apenas um hábito ou uma maneira conveniente de dar fim a fatos indesejáveis, mas uma ferramenta essencial de governo.
Testou e fortaleceu a lealdade ao forçar os subordinados a aplaudir declarações que sabiam ser falsas e reuniu o apoio de pessoas comuns que, de acordo com Hitler, "são mais facilmente vítimas da grande mentira do que da pequena mentira" porque, embora possam mentir em seu dia a dia sobre coisas pequenas, “nunca passaria pela cabeça delas fabricar mentiras colossais”.
Ao promover uma mentira colossal de sua autoria - que ele obteve uma "vitória eleitoral esmagadora inviolável" - e se apegando a ela apesar de dezenas de decisões judiciais estabelecendo o contrário, Trump ofendeu seus oponentes políticos e deixou até mesmo alguns de seus apoiadores de longa data balançando a cabeça em relação à sua mentira.
Ao abraçar essa grande mentira, no entanto, o presidente escolheu um caminho que geralmente funciona - pelo menos em países sem sistemas jurídicos fortemente independentes e meios de comunicação, assim como outras organizações, que trabalham com verificação da realidade.
Depois de 20 anos no poder na Rússia, o presidente Vladimir Putin, por exemplo, mostrou que Kennan estava certo quando, escrevendo da capital russa em 1944, disse: “Aqui os homens determinam o que é verdadeiro e o que é falso”.
Muitas das mentiras de Putin são relativamente pequenas, como a alegação de que jornalistas que expuseram o papel do serviço de segurança da Rússia em envenenar o líder da oposição Alexei Navalny estavam trabalhando para a CIA. Outras não são, como sua insistência em 2014 de que os soldados russos não desempenharam nenhum papel na tomada da Crimeia da Ucrânia ou nos combates no leste da Ucrânia. (Ele mais tarde reconheceu que "é claro" que eles estavam envolvidos na anexação da Crimeia.)
Mas há diferenças entre o líder russo e o derrotado americano, disse Nina Khrushcheva, professora e especialista em propaganda soviética e outras formas de propaganda da New School em Nova York. “As mentiras de Putin não são como as de Trump: são táticas e oportunistas”, disse ela. “Elas não tentam redefinir todo o universo. Ele continua a existir no mundo real.”
Apesar de sua admiração declarada pelo presidente da Rússia e pelo sistema que ele preside, disse ela, Trump, ao insistir que ganhou em novembro, não está imitando tanto a Putin, mas se aproximando mais à era de Stalin, que, após arquitetar um período de fome catastrófico que matou milhões no início dos anos 30, declarou que "viver se tornou melhor, camaradas, viver se tornou mais alegre".
“Isso é o que a grande mentira é”, disse Nina. “Abrange tudo e redefine a realidade. Não há lacunas nela. Ou você aceita a coisa toda ou tudo desmorona. E foi o que aconteceu com a União Soviética. Ela entrou em colapso. ”
Se o universo de Trump entrará em colapso agora que alguns aliados saíram de cena e o Twitter arrebatou seu megafone mais potente para transmitir mentiras, é uma questão em aberto. Mesmo depois do cerco ao Capitólio por arruaceiros pró-Trump, 174 integrantes do Congresso votaram contra o resultado da eleição. Muitos milhões ainda acreditam nele, sua fé fortalecida por bolhas de mídia social que muitas vezes são hermeticamente fechadas como a propaganda da era soviética.
“O controle ilimitado da mente das pessoas”, escreveu Kennan, depende “não apenas da capacidade de alimentá-las com sua própria propaganda, mas também de ver que nenhum outro sujeito as alimenta com a dele”.
Na Rússia, Hungria e Turquia, a percepção de que o “outro sujeito” não deve ser permitido a oferecer uma versão rival da realidade levou a uma pressão constante a jornais, emissoras de televisão e outros meios de comunicação fora de sintonia com a linha oficial.
O presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, fechou mais de 100 veículos de imprensa e, por meio de intimidação da polícia tributária e outras agências estatais, forçou os principais jornais e canais de televisão a transferir o comando para partidários do governo.
A ascensão de Trump também ajudou a capacitar um primo da grande mentira - um boom na desinformação nas mídias sociais e na ficção da teoria da conspiração de extrema direita.
Isso foi mais notavelmente personificado pela expansão global do QAnon, um fenômeno outrora obscuro que afirma que o mundo é dirigido por uma conspiração de poderosos políticos liberais que são pedófilos sádicos. Trump não repudiou os discípulos do QAnon, muitos dos quais participaram do caos no Capitólio na última quarta-feira. Em agosto, ele os elogiou como pessoas que “amam nosso país”.
Até certo ponto, cada nova geração fica chocada ao saber que os líderes mentem e que as pessoas acreditam neles. “Mentir nunca foi tão difundido como hoje. Ou mais desavergonhado, sistemático e constante”, escreveu o filósofo francês Alexandre Koyré em seu tratado de 1943, Reflexões sobre a mentira.
O que mais afligia Koyré, no entanto, era que as mentiras nem precisam ser plausíveis para funcionar. “Pelo contrário”, escreveu ele, “quanto mais grosseira, maior, mais imperfeita a mentira, mais prontamente ela é acreditada e seguida”. / Tradução de Romina Cácia
Idelber Avelar
A situação de Trump pode ser descrita com o conceito de profecia autorrealizada e a situação de seus ex aliados com a noção de ratos abandonando o Titanic.
Em relação a estes últimos, a notícia divertida do dia foi que o Deutsche Bank se juntou à lista de empresas que cortaram todos os laços com Trump. Quem é o Deutsche Bank? É o banco que aceitou financiar esse miserável nos anos 1990, quando, depois já de algumas falências, Trump não tinha crédito na praça. Aliás, ele ainda deve US$ 340 milhões ao banco.
Quanto a Trump, a ironia final da trajetória como Presidente é que ele passou a vida morrendo de medo/ terror/ nojo de ser "loser", sempre humilhando aqueles que ele conseguia caracterizar como perdedores. E, diga-se o que quiser dele, ele não era um "loser" até ser presidente. Não havia feito nada de muito interessante a não ser um programa de TV de sucesso, havia pedido falência algumas vezes, e havia causado dano ao seu redor, mas não era um perdedor. Era, no máximo, uma subcelebridade polêmica.
Foi no momento em que não suportou umas piadinhas de Obama e caiu presa da obsessão de ser Presidente que ele iniciou a espiral que o levaria a ficar conhecido como o maior perdedor da história da Casa Branca, um dos maiores perdedores de todos os tempos.
Perdeu a reeleição, o que pouca gente perde nos EUA, perdeu a recontagem, perdeu as ações judiciais, perdeu a conta de Twitter e a hospedagem dos campeonatos de golfe, e agora vai perdendo, um por um, os puxa-sacos que fingiam crer nele.
O cara passou a vida tão obcecado em humilhar perdedores que se converteu no maior deles. Eu nem imagino o quão fodida está a cabeça desse homem agora.
Christian Edward Cyril Lynch
A ciência política do imobilismo cívico
O postulado de que as instituições estão funcionando pertence ao repertório pseudocientífico da "ciência política do imobilismo cívico". Sua análise se limita a afirmar que as instituições estão funcionando porque ainda não morreram. As considerações que aqui vou tecer não se endereçam a ninguém especificamente, e adianto dos treteiros de plantão que aprecio muito o trabalho de todos os meus colegas, a quem não adiantará atirar carapuças que não lhes foram endereçadas. Dito isso, vamos lá.
A ciência política do imobilismo cívico se pretende científica, mas se baseia apenas na suposição, que não é científica, de que as instituições por alguma razão se tornaram indestrutíveis. A partir dessa suposição, aposta-se que elas continuarão a sê-lo. Ora, não há nada de científico nessas pressuposições. Não é porque elas funcionem formalmente, que não possam estar acometidas estar gravemente doentes, relativamente aos valores de que carecem para existir se sustentar. E que, sem reação ou remédio, possam vir a morrer. Se história política abunda em exemplos, são os de regimes subitamente colapsados. Assim, no caso brasileiro, as instituições do Império estavam funcionando até o golpe militar de 1888. As instituições da Primeira República também estavam, até que sobreveio a revolução de 1930. As instituições democráticas polonesas, húngaras, turcas, indianas também estavam funcionando, até que surgiram os autocratas que as transformaram em democraturas.
A ciência política para quem as instituições políticas estão sempre funcionando pode ser chamada "do imobilismo cívico", por sua vocação conservadora. Primeiro, porque ela inibe ou desestimula a mobilização pela salvação dessas mesmas instituições, negando a doença. Segundo porque, admitindo eventualmente a doença, essa ciência política acredita que elas instituições possuiriam em si mesmas os remédios de que necessitam para recuperar a saúde. Subjaz a essa concepção a pressuposição de que os atores políticos teriam incentivos suficientes para desejarem preservar essas mesmas instituições. Daí o imobilismo cívico que ela induz: basta ficar em casa, esperando a resolução automática dos conflitos institucionais. Há uma variante dessa ciência política, para quem a própria reação popular à tentativa de destruição democrática também faria parte da lógica institucional. Uma vez que as instituições sobrevivam, é porque não perigavam, e não perigaram, porque sempre estiveram funcionando.
Dispensável seguir ilustrando a lógica circular da "ciência política do imobilismo cívico", para quem as instituições funcionam até que deixam de funcionar, e sua pouca produtividade analítica, sobretudo em momentos de crise constitucional. Essa ciência positivista e a-histórica, que ignora a contingência e pressupõe a indestrutibilidade das instituições, não produziria maiores consequências, se restrita ao universo acadêmico. O problema emerge quando, transposta para a esfera pública, ela induz a cidadãos que sentem o cheiro de queimado a confiar na autorregulação dos conflitos políticos e ficarem confortavelmente em casa, de braços cruzados, enquanto o incêndio se alastra.
Solange Simonetti
Palhaços
Cretinos
Assassinos
Foto: Reprodução Facebook
Fernando Altemeyer Junior
Foto: Reprodução Facebook
A Canção Nova caminha aceleradamente para ser uma seita gnóstica no Brasil. Totalmente desviante sua pregação mágica e plena de arrogância. Até quando?
CN - a velha bolha obscurantista.
O papa Francisco já nos havia alertado para esse mundanismo envolto de fantasia religiosa. Forma desvirtuada de cristianismo fechada em sua bolha asfixiante.
Leiam a Evangelii Gaudium numero 94.
94. Este mundanismo pode alimentar-se sobretudo de duas maneiras profundamente relacionadas. Uma delas é o fascínio do gnosticismo, uma fé fechada no subjectivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos. A outra maneira é o neopelagianismo auto-referencial e prometeuco de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por 71 Henri De Lubac, Méditation sur l’Église (FV, Paris 1968), 321. 77 ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado. É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente. São manifestações dum imanentismo antropocêntrico. Não é possível imaginar que, destas formas desvirtuadas do cristianismo, possa brotar um autêntico dinamismo evangelizador.
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