11 Setembro 2020
O papa Francisco afirmou hoje que nunca poderá aceitar “que os migrantes morram no mar sem receber ajuda” e ainda que a acolhida e a integração “não sejam processos fáceis, é impensável afrontá-las construindo muros”.
A reportagem é publicada por Diario Libre, 10-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Assim afirmou o pontífice ao receber hoje uma delegação do projeto europeu “Snapshots from the borders”, cofinanciado pela União Europeia, que chegou acompanhada por Totó Martello, prefeito de Lampedusa, a pequena ilha italiana considerada a porta da Europa para os migrantes que fogem desde o norte da África e que viveu nos últimos dias uma incessante chegada de embarcações.
O Papa disse-lhes que “ninguém pode permanecer indiferente diante das tragédias humanas que continuam em diferentes regiões do mundo” e citou a zona do Mediterrâneo, “travessia para aqueles que fogem da guerra ou deixam sua terra em busca de uma vida digna”.
Sobre o “complexo e às vezes dramático” cenário migratório atual, Francisco considerou que “uma acolhida e uma digna integração são etapas de um processo não fácil”, porém “é impensável afrontá-los construindo muros”.
Sobre isso, criticou que “a comunidade internacional se limitou a intervenções militares, enquanto deveria construir instituições que garantissem a igualdade de oportunidade e lugares onde os cidadãos tenham a oportunidade trabalhar pelo bem comum”.
E acrescentou: “Ao mesmo tempo, nunca poderemos aceitar que aqueles que buscam a esperança morram no mar sem receber ajuda”.
Neste momento, o petroleiro dinamarquês Etienne encontra-se há 37 dias em frente à costa de Malta, com os 27 migrantes que resgatou, esperando uma solução.
Enquanto isso, o barco da ONG espanhola Open Arms, com 83 migrantes a bordo, resgatados na última terça-feira, também aguarda no Mediterrâneo central.
Para o Papa, também é fundamental “mudar a forma que vemos e falamos sobre a migração: trata-se de colocar pessoas, rostos e histórias no centro” e aplaudiu projetos como este que “buscam propor diferentes enfoques, inspirados na cultura do encontro”.
Também exortou aos habitantes das cidades e territórios fronteiriços “a serem os primeiros atores neste ponto de inflexão, graças às contínuas oportunidades de encontro que a história oferece”.
“As fronteiras, que sempre são consideradas barreiras divisórias, podem se tornar ‘janelas’, espaços de conhecimento mútuo, enriquecimento mútuo, comunhão na diversidade; lugares onde se provam modelos para superar as dificuldades que os recém-chegados supõem para as comunidades autóctones”.
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É inaceitável que pessoas morram no mar sem receber ajuda, diz Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU