24º domingo do tempo comum - Ano A - Na misericórdia de Deus, o perdão sem medida

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Por: MpvM | 11 Setembro 2020

"A liturgia da Palavra deste 24º domingo do Tempo Comum propõe o perdão como tema central, apresentando clara continuidade com a do domingo passado, que tratou da correção fraterna, atitude que exige a capacidade de perdoar reciprocamente. Junto com o amor, o perdão constitui o núcleo central do ensinamento de Jesus, por isso é elemento essencial para a vida a comunidade cristã e de cada pessoa", escreve Maria da Graça Rodrigues.

Ela é bacharel  em teologia  pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF (1999), possui pós-graduação  em metodologia do ensino religioso (2000) e em aconselhamento e psicologia  pastoral  (2002) pela Escola Superior de Teologia - EST. Também possui pós-graduação  em espiritualidade franciscana pela ESTEF (2017). Atualmente é professora de Ensino Religioso no Colégio Santa Teresa  de Jesus e Coordenadora de Pastoral Escolar no Instituto Santa  Luzia.

Leituras do Dia
1ª Leitura - Eclo 27,33-28,9
Salmo - Sl 102,1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)
2ª Leitura - Rm 14,7-9
Evangelho - Mt 18,21-35

 

 

Eis a reflexão.

A liturgia da Palavra deste 24º domingo do Tempo Comum propõe o perdão como tema central, apresentando clara continuidade com a do domingo passado, que tratou da correção fraterna, atitude que exige a capacidade de perdoar reciprocamente. Junto com o amor, o perdão constitui o núcleo central do ensinamento de Jesus, por isso é elemento essencial para a vida a comunidade cristã e de cada pessoa.

1ª Leitura Eclo 27,33-28-9

Na primeira leitura, o texto bíblico do livro do Eclesiástico representa um avanço na maneira pela qual antigamente as pessoas lidavam com as ofensas. O autor pede que renunciemos à vingança, pois somente as pessoas que se afastam de Deus é que nutrem o desejo de vingança e a violência em seu coração. Quem tem um relacionamento mais profundo com o Senhor deveria cultivar um espírito de misericórdia, porque a proximidade com Deus revela-nos tanto as faltas do ser humano quanto o perdão divino. Precisamos ter a consciência de que todos nós temos necessidade da misericórdia de Deus e que isso deveria tornar-nos mais abertos a perdoar. Mas, nem sempre é isso que acontece. O texto bíblico de hoje nos pede que a pessoa que tem rancor no seu coração pense na morte e perdoe as ofensas recebidas. “Pensar na morte” não significa “pensar num castigo eterno”, mas tomar consciência de que a morte iguala a todos nós. Todos vamos morrer, e isso significa que “ninguém é melhor do que ninguém, mas cada um de nós é menos sem o outro” que o outro e todos nós somos muito mais devedores de Deus do que de uns para com os outros.
Salmo – O salmista

2ª Leitura - Rm 14,7-9

Na Segunda Leitura, Paulo trata especificamente das relações dos cristãos entre si, recomendando o respeito e a tolerância diante das diferenças de comportamento e mentalidade. “Formada por cristãos oriundos de tradições culturais diferentes, a comunidade de Roma vivia tensões que ameaçavam sua unidade, em razão da falta de tolerância e compreensão recíprocas. Diante disso, Paulo chama-lhes a atenção, mostrando que ninguém vive para si mesmo (v. 7) e, por isso, não deve haver isolamento ou fechamento egoísta da comunidade”. Não obstante as diferenças individuais e culturais, todos na comunidade devem convergir para o Senhor (v. 8), e é isso que importa”.(1) Quem tem essa convicção não se deixa levar por questões secundárias; as diferentes maneiras de expressar e viver a fé na mesma comunidade devem ser respeitadas e toleradas, pois o que une a todos é a pertença ao Senhor, pois quem vive para Ele não guarda rancor nem julga o próximo; respeita as diferenças, perdoa e ama de maneira ilimitada, porque sabe que o Cristo morreu e ressuscitou por todos nós. Portanto não devemos criar desavenças em nossos relacionamentos somente porque alguém que caminha conosco dá passos diferentes e observa outras coisas no caminho.

Evangelho de Mt 18,21-35

O perdão de dívidas e ofensas não era uma prática desconhecida do povo de Israel nos tempos de Jesus. De um lado as leis judaicas que exigiam uma série de procedimentos. De outro a sociedade romana implacável e cruel principalmente com os mais pobres. Nesse contexto, estão se formando novas comunidades cristãs. Algumas dessas comunidades querem seguir as exigentes leis da sinagoga, outras as práticas romanas. É para dentro deste contexto comunitário que o Evangelista Mateus está escrevendo.

O texto começa com uma pergunta de Pedro:

- Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?
A legislação judaica exigia que se perdoasse até três vezes o irmão. Com sua pergunta, Pedro revela uma disponibilidade maior de perdoar do que a costumeira. Afinal o número sete significa completude, perfeição. Mas a pergunta de Pedro ainda pressupõe que as possibilidades humanas para perdoar são limitadas.

- Jesus responde:

Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete.

Jesus surpreende com a resposta, pois setenta vezes sete simboliza aquilo que não mais é possível mensurar ou calcular. O perdão não pode ser calculado ou mensurado. Importante é a constante disposição de perdoar; essa não pode ter limites. Através da parábola que segue, Jesus desafia os discípulos e as discípulas a sempre terem a disposição de abertura para o perdão. Concluindo, Jesus conta uma parábola explicativa, do servo malvado (vv 21-35), com dois objetivos: primeiro é mostrar a abundância do perdão ilimitado de Deus; segundo é mostrar o quanto é incoerente pedir perdão do Pai quando não está em nós a disposição de perdoar as pessoas de modo ilimitado. A enorme fortuna perdoada pelo patrão (vv 24-27) mostra a infinita misericórdia de Deus. A maldade do servo ao não perdoar uma dívida pequena a um companheiro (vv 28-31), denuncia a nossa grande hipocrisia humana. Não devemos comparar Deus a um patrão vingativo (vv 32-35), apenas enfatizar que a falta de perdão entre os membros da comunidade traz consequências irreparáveis.

Nesse tempo de isolamento social, onde estamos convivendo com nossos familiares, que possamos exercitar a construção de pontes, que aproximam e agregam as pessoas, para que possamos assumir o perdão como caminho de decisão, onde não existem limites.

Perdoar sempre não quer dizer passividade ou omissão diante do erro e da injustiça, mas sim não guardar mágoa ou rancor. Somente pelo perdão, fruto do amor, podemos construir um mundo mais pacífico, fraterno e amoroso.

(1) RODRIGUES, Francisco C. Freire.

 

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