Canção à morte. Maria Helena da Silveira na oração inter-religiosa desta semana

28 Agosto 2020

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG

 

Canção à morte

Eu espero a Morte como se espera o Bem-Amado.
Não sei quando virá,
nem como virá.
Mas eu espero.
E não há medo nesta expectativa.
Há somente ânsia e curiosidade
porque a Morte é uma porta
que se abre para lugares
desconhecidos,
mas imaginados.
Como o amor,
nos leva para um outro mundo.
Como o amor,
começa para nós outra vida
diferente da nossa.
Eu espero a Morte como se espera o Bem-Amado.
Porque eu sei que um dia ela virá
e me receberá
em seus braços amigos.
Seus lábios frios tocarão na minha fronte,
e sob a sua carícia
eu adormecerei o sono da eternidade.
Como nos braços do Bem Amado.
E esse sono será
um ressurgimento.
Porque a morte é a Ressurreição,
a Libertação,
a Comunicação total
com o Amor total.

Maria Helena da Silveira (1922-1970). Poesia inédita escrita em 1944 aos 22 anos de idade. In: Boff, Leonardo. A ressurreição de Cristo, a nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 5