E sei. Fiama Brandão na oração inter-religiosa desta semana

Foto: Freepik

21 Agosto 2020

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.

 

E sei

Amar o Universo não me traz mágoa.
Sobretudo, amar a areia
Arrebata-me de júbilo e paixão.
Amar o mar completa a minha vida
Com o tato de um amor imenso.
Mas veio o vento e, por momentos,
Amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o Sol aqui, depois de uns dias
Com o jardim obscurecido a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
E dançam como os insetos,
Ébrios em redor do pólen.

 

Fonte: Fiama Hasse Pais Brandão. Obra breve. Poesia reunida. 2 ed. Porto: Assírio & Alvim, 2017, p. 622.

Fiama Brandão
Foto: Luísa Ferreira | Casa Fernando Pessoa

Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007): Poetisa, dramaturga, ensaísta e tradutora portuguesa. Foi condecorada com o Prêmio Adolfo Casais Monteiro, e sua obra passou a ganhar mais visibilidade a partir da criação, em 1961, da revista Poesias 61 e, em 1965, quando participou da criação do grupo de teatro Hoje. Traduziu diversos autores alemães e franceses para o português, entre eles,  John Updike, Bertold Brecht, Antonin Artaud, e Anton Tchekov. Entre as suas obras, destacamos, Barcas Novas (1967), (Este) Rosto (1970), Âmago I/Nova Arte (1985), Cântico maior (1995), e Epístolas e Memorandos (1996).