14º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Subsídios exegéticos

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07 Julho 2023

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia . Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.


Evangelho: Mt 11,25-30
Primeira Leitura: Zc 9,9-10
Segunda Leitura: Rm 8,9.11-13
Salmo: Sl 144,,1-2.8-9.10-11.13-14 (R.1)

 

Evangelho

No esquema teológico do evangelho de Mateus, o capítulo 10 apresenta a missão dos discípulos (isto é, de toda a Igreja). Logo em seguida, 11, 2-30 mostra a gradativa rejeição que Jesus enfrenta.

O capítulo 11 pode ser dividido em cinco partes: vv. 2-6: João Batista manifesta uma dúvida em relação à ação messiânica de Jesus; vv. 7-15: Jesus testemunha em favor João Batista; vv. 16-19: Jesus é recusado pelas autoridades, que se comportam como crianças; vv. 20-24: Jesus é rejeitado pelas cidades da Galileia; vv. 25-30: um cântico de louvor e um ensinamento sapiencial. Estes últimos versículos constituem o evangelho da liturgia hoje.

Como podemos observar, o capítulo 11 enfatiza a rejeição: ela é forte e não se limita a Jesus, mas se estende também aos discípulos e a toda a Igreja. Por que, então, a descrição desta sempre maior rejeição termina com um cântico de louvor? Para responder a esta pergunta, é necessário ver mais profundamente o texto.

No cântico de louvor, vv. 25-27, Jesus quase se assusta ao descobrir que o anúncio do Reino foi recusado pelos chefes, mas acolhido pelo povo simples. Na fala de Jesus, há uma fusão entre “revelar” e “aceitar”: o Pai não revelou aos “sábios e inteligentes”, isto é, aos que acham que não precisam aprender nada. A revelação não é excludente por natureza, mas ela é graça; alguns, porém, estão fechados na sua autossuficiência e só aceitam o que podem apresentar como uma conquista ou um mérito. Em outras palavras, não valorizam o que é “graça”, isto é, recebido “grátis”. Os simples, ao contrário, estão abertos ao dom (graça) de Deus. Por isso, o cântico de louvor ao Pai é o resultado desta descoberta espantosa: os sábios não sabem, os simples (isto é, os ignorantes) sabem!

O v. 27 é uma afirmação teológica: aquilo que o Filho sabe, ele não o guarda só para si mesmo; ao contrário, ele o divulga a todos os que estão abertos para ouvir. O Filho torna o Pai conhecido. Este conhecimento não é aquele dos sábio e entendidos, não é aquele dos mestres da Lei, que pensam que conhecem a Deus porque dominam regras e proibições. O verdadeiro conhecimento do Pai é fazer a experiência do amor, que só é possível alcançar trilhando o caminho de Jesus na prática do acolhimento, da misericórdia, da justiça e da paz.

Os vv. 28-30 são afirmações em estilo sapiencial: Jesus se coloca como o verdadeiro mestre da sabedoria que convida a todos os que estão cansados e oprimidos para a sua escola. Jesus quer que todos sejam instruídos na verdadeira Lei, que não é pesada como o jugo dos fariseus (cf. Mt 23,4). De fato, a tradição farisaica tinha estipulado tantos mandamentos, preceitos e advertências, que era impossível alguém que não sabia ler e escrever conhecê-los e praticá-los. Era mesmo um fardo pesado, um “jugo”, algo quase insuportável para cumprir à risca e até impossível de jamais transgredir.

O convite final – Aprendei de mim, que sou manso e humilde coração – é típico do mestre sapiencial que contrapõe sua proposta de vida ao que outros líderes apresentam como comportamento a ser seguido. A mansidão e a humildade estão presentes também na primeira leitura, tirada do profeta Zacarias.

 

Primeira Leitura: Zc 9,9-10

Nesta leitura o profeta anuncia a entrada triunfante do verdadeiro Messias. O profeta faz um breve elenco das qualidades que comprovam que aquela pessoa não é um farsante, que usurpou o título messiânico, mas, ao contrário, exerce com autoridade recebida de Deus. As qualidades são: o verdadeiro Messias é justo e vitorioso, mas, ao mesmo tempo, humilde.

O profeta ainda diz que ele vem montado num jumentinho. Pode parecer depreciativo, mas não é. O verdadeiro Messias não vem montado num cavalo, desfilando diante de um povo que busca o enfrentamento e a violência. Ao contrário, ele vem montado em um jumentinho bem novo, que é a montaria para os tempos de paz, não para os tempos de guerra e truculência. Em outras palavras, o profeta acrescenta ainda uma característica ao personagem: ele propõe a paz, ele deseja a paz, ele é o Messias da paz. Por isso, seu projeto político-social é o desarmamento da população: transformar as armas em ferramentas para trazer vida e prosperidade a todos, começando pelos mais pobres.

Este projeto político-social tem a aceitação de Deus, que confirma o domínio desse governante: de uma extremidade à outra da terra.

Ainda aguardamos a chegada desse Messias da paz. Por isso, é necessário ter os olhos abertos e o coração firme, para ninguém nos engane nem nos desanime. Ao contrário, que nossa esperança seja renovada a cada dia.

 

 

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