A vida após a emergência do vírus não será a mesma de antes: como mudarão as lojas, escolas, viagens, restaurantes

Imagem: Pixabay

01 Abril 2020

Na verdade, não voltaremos à normalidade. Será uma fase muito complicada e dolorosa, mas haverá espaço para inventar.

Há um antes e depois do vírus. Entendemos isso em nossos dias, esperando que o pior já tenha passado. Mas quanto mais passam as horas e as semanas, mais cresce uma crença, e é bom entendê-la já: não voltaremos realmente à normalidade. Não àquela que temos em mente, mesmo quando a curva de contágio tiver terminado. Muitos segmentos da economia italiana e internacional foram postos à prova pelo vírus: alguns tiveram que mudar métodos de trabalho, outros a distribuição e o contato com o cliente, e outros ainda tiveram que pensar em novos produtos.

A reportagem é de Beniamino Pagliaro, publicada por Repubblica, 31-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

A retomada introduzirá dois movimentos fundamentais: a corrida daqueles que perderam terreno e tentaram cortar os custos para sobreviver, recuperar receitas e margens, talvez com a ajuda parcial da mão pública. E outra corrida, paralela, para redesenhar as atividades para esta nova era.

O digital, que existia também antes da crise do vírus, é a plataforma na qual essa evolução se move, onde a oferta e a demanda se encontram, onde a atenção se torna compra. A memória do trauma do coronavírus e a cautela necessária exigirão mais controle e menos contatos. Será uma fase muito complicada e dolorosa, mas haverá espaço para inventar.

 

Estudar

 

Vamos começar pela escola. Em poucos dias, professores de todo o mundo foram obrigados a dar um salto geracional: apesar de algumas dificuldades, centenas de milhões de alunos, grandes ou pequenos, acompanharam as lições em casa. As salas de aula serão reabertas, mas muitas escolas e especialmente universidades, incluindo as italianas, começarão a oferecer a possibilidade de cursar on-line não apenas alguns cursos, mas todo o currículo acadêmico.

A geografia contará menos do que hoje e, portanto, quem tiver mais recursos para investir e garantir mais resultados será recompensado.

Não faltam riscos, porque o digital divide e corre o risco de deixar para trás os filhos de famílias menos abastadas e conectadas, e além disso a recessão também ameaça cortar fundos públicos. Algumas escolas oferecerão a oportunidade de acompanhar as aulas de casa alguns dias por semana, talvez quando os pais trabalharem em casa. Estaremos mais em casa e cada vez menos nos deslocaremos para ir e vir.

 

Comércio

 

Não vamos mais ficar na fila com um metro de distância para entrar no supermercado, mas os consumidores de todo o mundo parecem dispostos a evitar os grandes shoppings lotados, como confirmado por uma pesquisa da YouGov realizada no final de março na China, onde as redes já reabriram.

O pós-vírus poderia dar o golpe de misericórdia às antigas lojas de departamento, já em crise há anos, e dividir as despesas recorrentes entre as grandes lojas online (Amazon e outras), as lojas online ou físicas de uma marca e as lojas do bairro aptas a oferecer um serviço preciso.

 

E-commerce

 

O crescimento do comércio eletrônico não nasceu graças ao coronavírus. Mas o salto dado nessas semanas é significativo, porque colocou online também aqueles que até agora tinham preferido, por exemplo, sempre fazer as compras pessoalmente. Quando o carrinho do supermercado fica on-line, a família média italiana que, segundo o Istat, gasta 462 euros por mês em alimentos, acelera essa evolução. Nos Estados Unidos, o comércio eletrônico passou de 16% em relação ao varejo no início de março, para 20% em poucas semanas, de acordo com o Customer Growth Partners.

 

Trabalho

 

O smart working de emergência mostrou que muitas atividades podem prosseguir sem problemas cruciais, mesmo sem todos os funcionários no mesmo prédio. No final do ano, ou até mais cedo, qualquer CEO examinará o quanto o aluguel de um prédio no centro de Milão ou Roma incide sobre o orçamento e poderia optar por mudar. Nomisma estima uma queda nos preços dos imóveis em até 4% na Itália no período de dois anos 2020-2021.

Em vez disso, crescerão os espaços de co-working como o Talent Garden, que há anos alia à oferta para as startups aquela para as empresas de médio e grande porte. Mas o crescimento da presença virtual também exigirá uma nova conscientização (e novas figuras) no campo dos recursos humanos, porque as hierarquias tradicionais poderiam ser colocadas sob estresse.

 

Viagens turísticas e viagens profissionais

 

As crises globais produzem um efeito visível nas tendências de viagens: tanto após 11 de setembro como após a recessão de 2008, o mercado de negócios reduziu um pouco as viagens e o mercado de turismo em muito o número de passagens aéreas adquiridas. Poderia ser assim novamente. O hábito de trabalhar em teleconferências poderia reduzir algumas viagens de negócios e algumas feiras consideradas obrigatórias até agora serão repensadas ou redimensionadas.

Mas a onda de M&A (fusões e aquisições) que cada crise favorece criará grupos ainda mais internacionais; portanto, não se parará de viajar. Voar de um continente para outro, mesmo para turistas, nos obrigará a aceitar novos padrões: poderemos ser rastreados com aplicativos dedicados, para evitar novas propagações de vírus.

 

Restaurantes

 

Muitas cozinhas de nossas cidades fecharam nas últimas semanas, mas um bom número de restaurantes tentou manter o fluxo de caixa com as entregas a domicílio. Se os locais superlotados também estiverem na mira no futuro próximo, será uma tendência que será confirmada. Não se pede apenas pizza ou sushi, muitos outros seguirão. Os restaurantes que se manterão poderiam se beneficiar da queda dos aluguéis, um item relevante em seus orçamentos. Mas se as distâncias entre as mesas se tornarem obrigatórias, as receitas por metro quadrado diminuirão.

 

Privacidade

 

Sabemos que estamos na sociedade dos dados há muito tempo, mas muitas vezes tivemos a sensação que os estados foram os últimos a percebê-lo. Enquanto as startups da tecnologia se tornavam gigantes, o uso de dados pelos estados foi cauteloso e, às vezes, lento. O coronavírus também mudará isso: para proteger as comunidades, o cidadão precisará compartilhar as informações pessoais, inclusive sobre sua saúde, com a autoridade central.

O garantidor da privacidade Antonello Soro falou, conversando com o Repubblica, sobre um rastreamento temporário. No entanto, pode-se imaginar que um rastreamento tornado anônimo será necessário também a longo prazo. Teremos que encontrar um novo acordo.

 

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