O Papa em Bari com os bispos do Mediterrâneo. "A Igreja não se cala diante de uma crise perigosa"

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27 Fevereiro 2020

Não será um encontro acadêmico e nem mesmo um evento midiático, mas um "encontro fraterno" para discutir e refletir sobre as perspectivas e os problemas de uma área que se tornou, com a questão da migração, "um cemitério a céu aberto" e também para fortalecer um processo orgânico de troca e ajuda entre as Igrejas. Um esclarecimento necessário, o do cardeal presidente da CEI Gualtiero Bassetti, ao apresentar "Mediterrâneo fronteira da paz", a grande cúpula que ele idealizou – emprestando o título do "sonho" do prefeito santo Giorgio La Pira dos "Diálogos Mediterrâneos" - que reuniu os bispos de 20 países banhados pelo Mare Nostrum em Bari, de 19 a 23 de fevereiro.

A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por La Stampa. A tradução é de Luisa Rabolini.

O evento de "reflexão e espiritualidade", para o qual a CEI e, em particular, Bassetti estão dedicando grandes energias há mais de um ano, teve a participação do Papa Francisco. O Pontífice encerrou o encontro com uma missa celebrada às 10h45, no horário local. Pela quarta vez, Bergoglio foi para Puglia após as visitas de 2018 a San Giovanni Rotondo, Molfetta e Bari para o encontro ecumênico com os chefes das Igrejas e comunidades cristãs do Oriente Médio.

A presença do Papa fora antecipada por Bassetti, que esperava uma palavra definitiva do Bispo de Roma para selar esses cinco dias de diálogo e discussão que, além dos pastores da Europa, Ásia e África - a "tripla família de Abraão", como dizia La Pira - também envolveram representantes do mundo judaico e islâmico (incluindo a Liga Árabe) e representantes da União Europeia e da ONU.

As discussões em Bari saíram, portanto, da estreita fronteira eclesial para desembocar em um diálogo com as instituições e em propostas que poderão inspirar a política; no entanto, o foco permanecerá na contribuição que as religiões podem oferecer para a causa da paz, numa época em que são manipuladas para alimentar fanatismos e interesses particulares. São justamente estes que "dividem os homens", não as religiões, afirma o cardeal Bassetti. “O nosso mar invoca a paz”, afirma o cardeal, que confessa cultivar há anos o desejo de realizar tal iniciativa: “É um encontro único em seu gênero, promovido pela Igreja italiana; um encontro baseado na escuta e no discernimento comunitário; principalmente, um encontro que, valorizando ao máximo o método sinodal, visa dar um pequeno passo no sentido de promover uma cultura de diálogo e para a construção da paz na Europa e em toda a bacia do Mare Nostrum”.

"A gravidade da crise" que afeta o Mediterrâneo "está diante dos olhos de todos", observa o cardeal. É de fato "uma crise internacional, extremamente grave e perigosa para a Europa e o mundo inteiro", gerada por um "desequilíbrio econômico" causado por um sistema que muitas vezes multiplica desigualdades, pela constante violação dos direitos humanos testemunhados pelas prisões na Líbia e nos campos de refugiados da Turquia e da Grécia, de um declínio demográfico, porque o Mediterrâneo é a fratura entre duas realidades opostas, uma de decréscimo e outra de crescimento.

"Também por esse motivo, a situação migratória não pode ser lida apenas à luz da falta de desenvolvimento e a instabilidade, mas deve ser inserida em um processo de época que deve ser governado com caridade e responsabilidade", ressalta o presidente dos bispos italianos. E acrescenta: "A respeito dos pobres não podemos nos dividir, nem agir por aproximação: a própria posição geográfica do nosso país e, mais ainda, a nossa história e a nossa cultura, nos confiam uma responsabilidade precisa no Mediterrâneo e na Europa".

"Como igreja - assinala o cardeal Bassetti -, temos o dever não apenas de não fechar os olhos, mas de compreendê-la e denunciá-la com força. A Igreja italiana decidiu não se juntar ao coro dos profetas da desventura e, ao invés disso, reconhecer que algo novo pode e deve nascer também na região do Mediterrâneo. Um sinal até demasiado eloquente é dado pelo testemunho dos muitos mártires do Mediterrâneo de ontem e de hoje: eles constituem o triunfo do amor sobre o ódio, do diálogo sobre o fundamentalismo, da justiça sobre a iniquidade”.

A apresentação oficial do evento deve ser realizada em breve; o programa ainda não foi publicado em detalhes, mas parece que será dividido em três dias de discussões a portas fechadas entre cardeais, bispos, patriarcas das Igrejas católicas de 20 países e três continentes, um dia de discussão pública e com as instituições e o encerramento com o Pontífice. Enquanto isso, a partir de hoje, está online o site oficial que divulga todas as informações e explicações a respeito do evento.

Ainda hoje, a Conferência Episcopal Italiana também divulgou a logo do evento: um desenho semicircular que lembra a ideia do arco-íris, sinal de perdão e reconciliação. A cor dominante, enfatiza a CEI, é o azul do mar que pretende representar, além das águas, a insatisfação com a condição atual e o desejo de buscar uma nova situação.

A palavra "MediTERRAneo", destacando a palavra "terra", expressa precisamente esse desejo. As mãos que se estendem uma em direção à outra simbolizam o encontro e, ao mesmo tempo, encarnam a riqueza e a história de cada território que pertence ao Mare Nostrum. A figura estilizada é uma imagem do impulso que os bispos e os povos do Mediterrâneo desejam realizar para a promoção de uma cultura do diálogo e a construção da paz.

 

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