Argentina. Uma alternativa aos agrotóxicos: fumigação ecológica

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22 Janeiro 2020

Em Entre Ríos, o distrito com os mais altos níveis de aplicação de glifosato no mundo, decidiram começar a reverter o modelo de produção baseado na aplicação de agrotóxicos em cultivos transgênicos, promovendo testes experimentais de fumigação com bioinsumos, apostando, assim, em massificar a agroecologia. A primeira reunião dessa experiência “histórica” ocorreu em Nogoyá e reuniu três atores-chave do processo: o Consultório Técnico Popular (CoTePo) da União de Trabalhadores da Terra (UTT), o movimento de moradores autoconvocados “Pela vida sem Agrotóxicos”, de Concepción del Uruguay, e a Federação Argentina de Câmaras Agrícolas (FeArCA), que agrupa os pilotos que fumigam os campos, que não querem ser associados aos efeitos nocivos do atual modelo de agronegócio.

A reportagem é de Gastón Wahnish, publicada por Tiempo Argentino, 19-01-2020. A tradução é do Cepat.

“O caminho para a transformação é este: como princípio, a base de cuidar do campo e da saúde está na mesa”, descreve Alejandro Ciancio, do movimento ambiental de Concepción del Uruguay, que integra a coordenação da organização “Basta é Basta”, em Entre Ríos.

A curto prazo, a ideia é expandir a mesa para o INTA e as câmaras de cereais que queiram se somar. “Hoje, trabalhamos em conjunto com aqueles que também são vítimas do agronegócio, como são os aerofumigadores e os proprietários de campos. Queremos realizar uma experiência tangível da agroecologia que tenha visibilidade e um impulso externo: demonstrar que funciona, que se pode e é rentável produzir agroecologicamente”, enfatiza Fabio Mazza, que desde muito jovem trabalha em horticultura com sua família e é responsável pelo CoTePo, em Concepción del Uruguay.

A mesa de trabalho espera que, nos próximos dias, quando o ministro do Meio Ambiente Juan Cabandié visitar Gualeguaychú, expresse seu apoio a essas experiências. Em breve, começará um projeto de plantio agroecológico de trigo na cidade de Basavilbaso.

Uma pesquisa publicada em 2017 na revista especializada Environmental Pollution, realizada por cientistas do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CONICET), revelou que o glifosato despejado pelo agronegócio não se degrada e, portanto, se acumula, e que a concentração de herbicida encontrada em Entre Ríos, com epicentro na cidade de Urdinarrain, no departamento de Gualeguaychú, está entre os mais altos do mundo. A organização “Basta é Basta” exige uma resposta imediata a esse problema ambiental e de saúde e lembram do fracasso da escola de Colonia Santa Anita, que condenou três pessoas (o dono do campo, o piloto e o representante da empresa de pulverização) por lesões leves e contaminação culposa por pulverizar crianças e professores com agrotóxicos.

Mazza insiste na importância de uma transição para um modelo de produção agroecológica, embora reconheça que no país quase não há experiências de aplicação com insumos biológicos: “Se pudéssemos desenvolver esses testes, seria um passo histórico para incentivar a agroecologia em larga escala”.

Transformação

Enquanto a fome de milhões de argentinos está na agenda pública, a experiência de Entre Ríos pretende avançar para uma técnica alternativa de produção agrícola baseada nos cuidados da saúde e no meio ambiente.

Agustín Suárez, porta-voz da UTT, redobra a aposta: “O governo deve tomar nota para participar ativamente do processo e promover políticas públicas que permitam massificar a agroecologia e oferecer alimentos saudáveis para toda a população. Tanto do ponto de vista ambiental quanto produtivo, estamos impulsionando a partir de baixo a transformação do modelo e somando atores”.

“Metade dos pequenos que entram na área de oncologia do Hospital Garrahan são da nossa província. Em Entre Ríos, a palavra câncer foi naturalizada e isso é uma barbaridade”, relata o ambientalista Ciancio. Mas também garante que veem um despertar da agroecologia, por exemplo, em Gualeguaychú, onde estão semeando 25.000 quilos com essa alternativa. Uma das experiências irreparáveis é incorporada pela Rede Nacional de Municípios e Comunidades que Fomentam a Agroecologia (Renama), que vem demonstrando que é possível produzir com bioinsumos com altos níveis de produtividade.

O que é terra de diatomáceas?

As diatomáceas são algas fossilizadas que podem ser usadas como um eficaz inseticida ecológico e natural. Por um lado, fornece nutrientes, como cálcio e silício, que são benéficos para o solo, por outro, facilitam a absorção desses nutrientes, melhorando o nível de aeração, esponjosidade e retenção de água.

A terra de diatomáceas, também chamada de “terra branca” por causa de sua cor, também é muito eficaz para se livrar de insetos que atacam e danificam as plantações, especialmente em épocas de altas temperaturas. Com esse tipo de fertilizante natural, avança o projeto agroecológico em larga escala que está sendo proposto na província de Entre Ríos.

Outro uso doméstico de diatomáceas é para combater baratas e formigas. Nesse caso, a ingestão das partículas de sílica que compõem a terra de diatomáceas causa lesões no trato digestivo dos insetos. Também atua como um fungicida preventivo contra infecções fúngicas nas raízes, caules e folhas das plantas.

Esse inseticida “ecológico” não produz imunidade nos insetos, como é o caso de outros inseticidas químicos que são veiculados pela água.

Extensiva e exitosa

Após oito anos de testes, o engenheiro agrônomo Martín Zamora, coordenador nacional de agroecologia no INTA, responsável pela Fazenda Experimental Barrow, em Tres Arroyos, afirma que “a agroecologia pode oferecer margens brutas muito mais atraentes do que a agricultura convencional, que utiliza agroquímicos e fertilizantes”. Segundo o especialista, “em média de quatro a cinco anos conseguimos avaliar, não varia o rendimento em um ou outro sistema. As médias são as mesmas”. Ou seja, é possível fazer agroecologia extensiva com resultados econômicos exitosos.

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