14 Novembro 2019
A Igreja, através de seus organismos e pastorais, se posiciona na contramão da xenofobia e de todas formas de discriminação e criminalização dos migrantes.
A reportagem é do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM).
Na última semana houve o encerramento do Sínodo para a Amazônia - instituição criada pelo Papa Paulo VI com a intenção de propagar uma experiência conciliadora entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a sociedade como um todo. Neste ano, a assembleia sinodal convocada pelo Papa Francisco carregou o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral” e reuniu bispos com o Papa para o compartilhamento de informações e experiências que pretendem levar à busca de soluções pastorais que tenham aplicação universal.
Segundo o Papa Francisco, o objetivo desse Sínodo se deu por conta da crise na Floresta Amazônica após encontro em 2018, no Peru, com povos indígenas de quase todos os países da Pan-Amazônia, evento no qual o pontífice falou sobre a riqueza dos saberes e da diversidade indígena, a necessidade de defender a região e seus povos e sobre as ameaças que os mesmos enfrentam por conta dos interesses econômicos sobre o território.
Dessa maneira, a Igreja reconhece as lutas e resistências desses povos que enfrentam mais de 500 anos de colonização e projetos exploratórios destrutivos para
a floresta e seus recursos naturais, defendendo a região, seu bioma e povos ameaçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais.
O processo preparatório do sínodo junto com as comunidades do território visou entender de quais maneiras é viável propiciar um futuro tranquilo e o “bem viver” para as próximas gerações, onde a Igreja pretende colaborar para a construção de um mundo que rompa com as estruturas que sacrificam a vida e com as mentalidades de colonização, para elaborar redes de solidariedade e interculturalidade.
No documento final da assembleia se destacam diretrizes específicas para a questão migratória presente no local que se dá pela mobilidade de grupos indígenas em territórios de circulação tradicional, deslocamentos forçados de populações indígenas e migração internacional. A Igreja entende que é necessário cuidado pastoral
transfronteiriço que inclua o direito à livre circulação desses grupos, principalmente com aqueles que são vítimas do tráfico de pessoas e às mulheres migrantes.
O documento sinodal convida a prestar atenção ao deslocamento forçado de famílias indígenas nos centros urbanos e sublinha que tal fenômeno requer uma “pastoral conjunta nas periferias”, por meio da criação de equipes missionárias que, em coordenação com as paróquias, cuidem desses aspectos, favorecendo a integração
dessas comunidades nas cidades, além de prever o estabelecimento de um “ministério de acolhimento” para solidariedade com os(as) migrantes, refugiados(as) e sem-teto que vivem no contexto urbano.
A professora Márcia Maria de Oliveira, do programa de pós-graduação Sociedade e Fronteiras da Universidade Federal de Roraima, participou da elaboração do documento final do Sínodo e ressalta que as conclusões da Assembleia Sinodal apontam que as migrações denunciam as injustiças e desigualdades sociais, a centralização das riquezas, o desemprego, o processo crescente de empobrecimento, a violação aos direitos humanos, a mercantilização dos recursos naturais, a atuação dos grandes projetos economicistas que se instalam na região através das grandes mineradoras, das hidroelétricas, das petroleiras transnacionais, das corporações do agronegócio e, acima de tudo, a centralização dos bens e serviços nas grandes cidades.
Segundo Oliveira, o atual contexto migratório indica que os caminhos pastorais passam pela articulação em redes de pastorais de conjunto com novas modalidades de colaboração entre as igrejas locais, as Conferências Episcopais, institutos missionários e pastorais como o serviço Pastoral dos Migrantes, entidades de cooperação fraterna, o diálogo e parceria com as agências nacionais e internacionais dedicadas aos migrantes. A especialista afirma que a grande maioria dos migrantes e refugiados concentra-se nas periferias das cidades da Pan-Amazônia, nas quais, a Igreja, através de seus organismos e pastorais, se posiciona na contramão da xenofobia e de todas formas de discriminação e criminalização dos migrantes, mobilizando-se para acolher, compartilhar, cuidar e integrar os migrantes e refugiados que representam um “lixo humano que nem as empresas, nem os sistemas políticos, nem os grandes líderes econômicos estão interessados em reciclar”.
Desta forma, os migrantes e os refugiados redefinem e reposicionam a pastoral nos centros urbanos da Amazônia desafiada a responder aos grandes desafios da crescente urbanização, finaliza Márcia.
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Assembleia internacional de bispos com o Papa indica ações para a proteção da Amazônia e seus povos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU