19 Outubro 2019
Documento construído durante conferência internacional será entregue ao Papa Francisco, no Sínodo da Amazônia.
A reportagem é publicada por Terra de Direitos, 18-10-2019.
Evento realizado em Marabá reuniu diferentes povos da Amazônia. (Foto: Catarina Barbosa/Brasil de Fato)
A construção de hidrelétricas e ferrovias, a exploração de madeira e minério e o avanço da produção da soja são alguns dos fatores que vem “sangrando os territórios” de povos da Amazônia. É isso o que denunciam indígenas, quilombolas, campesinos, ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, seringueiros e outros povos e comunidades tradicionais amazônidas. A denúncia está inserida dentro da Carta de Marabá, documento divulgado nesta quinta-feira (17) como resultado dos debates da III Conferência Internacional dos Defensores da Floresta. O documento deve ser entregue ao Papa Francisco, durante o Sínodo da Amazônia, que acontece em Roma.
O evento realizado entre os dias 16 e 17 de outubro na cidade de Marabá reuniu cerca de 600 pessoas de diferentes povos da Amazônia para a troca de experiências e a criação de estratégias de enfrentamento à violação de direitos desses diferentes grupos. A atividade contou com painéis, exposições culturais e um júri simulado, com participação internacional.
Na carta, defensores e defensoras da floresta destacaram que a Amazônia não é “um espaço vazio”. A região é habitada há pelo menos 39 mil anos e possui uma diversidade de povos e culturas que precisam ser consideradas. Por isso, denunciam as ameaças aos seus territórios e modos de vida trazidas por empresas e pelo latifúndio. “Estamos cercados por uma leitura de desenvolvimento que só consegue ver a natureza como commoditie e apenas um projeto de país que reserva à Amazônia o fardo de região exportadora de bens primários”, destaca o texto.
O documento também aponta que essas ameaças ganham ainda mais intensidade com a posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “Desde então, estamos vivendo um ataque ainda mais violento e sistemático aos nossos direitos territoriais, através de um desmonte de leis, códigos e instrumentos de proteção ambiental e de uma ofensiva contra os órgãos de fiscalização do meio ambiente, de reforma agrária e da política indigenista”. O Brasil registrou no mês de agosto de 2019 o maior número de focos de incêndios na Amazônia em nove anos, enquanto o orçamento anual do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente sofreu uma redução de 24% e de R$ 187 milhões foram contingeciados no Ministério do Meio Ambiente.
Segundo os defensores e defensoras da floresta, o discuso oficial do governo que legitima a violência e que difunde mentiras ao desqualificar dados e pesquisas relacionadas à conservação da Amazônia também constroem “um cenário em que a diversidade ambiental e étnica da Amazônia está sendo consumida pelo fogo e banhada de sangue”.
Dados da Comissão Pastoral da Terra apontam mais de 80% dos massacres por terra registrados no Brasil nos últimos 34 anos aconteceram na Amazônia. “Chega de sermos a região com o maior registro de assassinatos no campo! Chega de sermos o território de experimento de novos agrotóxicos! Chega de fogo a queimar nossas entranhas! Chega de estupidez e ignorar nossa diversidade!”, reforça a carta.
Junto com as denúncias, os guardiões e guardiãs da floresta também reafirmaram o compromisso com a defesa da Amazônia e com o desenvolvimento sustentável. “A floresta vive porque nós estamos vivos e assim permaneceremos como sementes da justiça para as muitas Amazônias que somos nós”.
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Em carta, defensores e defensoras da floresta denunciam falso desenvolvimento que ameaça povos da Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU