11 Outubro 2019
A França não vai assinar o acordo entre União Europeia e o Mercosul sobre questões agrícolas nas condições atuais. É o que afirmou nesta terça-feira (08), a ministra francesa do Meio Ambiente, Elisabeth Borne, em entrevista ao canal de notícias BFM.
A reportagem é de Sabrina Rodrigues, publicada por ((o)eco, 08-10-2019.
“Não podemos assinar um tratado comercial com um país que não respeita a Floresta Amazônica, que não respeita o tratado de Paris (do clima). A França não assinará o acordo do Mercosul nessas condições”, afirmou a ministra.
Foram vinte anos de negociação para que o tratado se firmasse. Em junho deste ano, ele chegou a ser anunciado com entusiasmo pelo presidente Jair Bolsonaro. No entanto, o acordo começa a ir por água abaixo, já que a imagem do Brasil no exterior tem ruído por conta do aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, provocando um embate público e trocas de ofensas entre o presidente da França, Emmanuel Macron e Bolsonaro.
A parte econômico-comercial do tratado compreende eliminação de barreiras, investimentos, reduções de tarifas e entrará em vigor quando o Parlamento Europeu e as partes legislativas do Mercosul aprovarem o acordado.
A parte política, por sua vez, abrange pontos como meio ambiente, direitos humanos e transferência de tecnologia e terá que ser aprovada pelos 28 países que compõem a União Europeia. É aí que vem a grande dificuldade, já que outros países, como a Irlanda, têm manifestado posição contrária ao acordo. Em agosto, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, afirmou “De maneira alguma a Irlanda votará a favor do acordo de livre comércio UE-Mercosul se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais”, declarou o primeiro-ministro na época.
Em setembro, foi a vez da Áustria que aprovou uma moção rejeitando a proposta de um pacto de livre comércio entre os dois blocos e citou as queimadas na Amazônia para se opor ao acordo.
Fundo Amazônia e queimadas
Em agosto deste ano, Alemanha e Noruega cancelaram os seus repasses para projetos de conservação na floresta amazônica. A Alemanha cancelou o repasse de R$ 155 milhões e a Noruega, o equivalente a R$ 133 milhões, que iria para o Fundo Amazônia. Na época, o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, teria afirmado que Brasil quebrou o acordo para financiar medidas de desmatamento.
O dinheiro cancelado fez falta no combate às queimadas que assolaram a Amazônia que começaram em agosto e que provocaram uma crise ambiental internacional colocando o Brasil no foco do mundo. Os recursos ausentes seriam aplicados na contratação de brigadistas, por exemplo. No dia 26 de agosto, a então procuradora-Geral da República, Raquel Dodge entrou com um pedido no Supremo Tribunal Federal para que parte do valor da Petrobras na Lava Jato fosse para o combate aos incêndios florestais na Amazônia. A solicitação só foi atendida em setembro, quando foi acordado que R$ 1,06 bilhão de recursos pagos pela Petrobras na operação Lava Jato iria para proteção ao Meio Ambiente.
Leia mais
- Preocupados com crise de imagem do Brasil, agronegócio pede combate a queimadas e desmatamento ilegal
- Após acordo com Mercosul, empresário sueco promete cruzada contra produtos brasileiros
- Presidente francês enquadra Bolsonaro e ameaça não assinar acordo
- “Acordo Mercosul-União Europeia é vitória liberal-conservadora”
- Europa-Mercosul: o acordo de Recolonização
- França. Nada de acordo com o Mercosul, segundo os agricultores e os verdes
- Alemanha confirma bloqueio de R$ 156 milhões e põe em xeque acordo Mercosul-UE
- Com acordo, UE se torna cúmplice de desmatamento no Brasil
- Macron diz que política ambiental de Bolsonaro é obstáculo para acordo com Mercosul
- O Brasil precisa de dinheiro da Alemanha?
- Fundo Amazônia. Alemanha retém doação de R$ 151 milhões
- Noruega e Alemanha se posicionam contra a proposta de mudança do governo para o Fundo Amazônia
- Importância do Brasil na biodiversidade mundial é maior do que se pensava, dizem cientistas
- Obscurantismo no Ministério do Meio Ambiente ameaça o ICMBio e a biodiversidade brasileira
- O desplante de Bolsonaro
- Europa-Mercosul: o acordo de Recolonização
- A guerra de todos contra todos no Governo Bolsonaro
- Alguém ganha com o aquecimento global?
- Sem mais demora, precisamos tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos
- “Bolsonaro ignora o meio ambiente e o que a ciência diz”. Entrevista com Thomas Lovejoy
- DETER/INPE: As áreas de alerta de desmatamento e degradação na Amazônia Legal somaram 2.072,03 km² no mês de junho de 2019
- Terras indígenas da Austrália, Brasil e Canadá abrigam e protegem alta biodiversidade
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
França não assinará acordo com Mercosul por Brasil não respeitar a Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU