Em 3 pontos, o que pesquisa revela sobre relação entre eleitor e governo Bolsonaro

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26 Setembro 2019

Uma pesquisa do Ibope divulgada na tarde desta quarta-feira (25/09) mostra que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro permaneceu praticamente estável em setembro, quando comparada ao mês de junho.

A reportagem é de André Shalders, publicada por BBC Brasil, 25-09-2019.

Mas os dados da pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), também permitem outras conclusões: Bolsonaro perdeu espaço no Sul e no Sudeste, diminuição que foi parcialmente compensada por um desempenho melhor no Norte e no Centro Oeste; e a crise de imagem provocada pelas queimadas na Amazônia parece ter atingido a popularidade do governo.

Além disso, para analistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil, os números também mostram que Bolsonaro está cativando uma parcela de cerca de um terço do eleitorado, que permanece fiel a ele.

O presidente continua tendo na classe média seu maior apoio, mas o número de pessoas que apoiam seu governo e confiam nele também caiu neste grupo.

O governo Bolsonaro era avaliado como "bom" ou "ótimo" por 32% em junho deste ano - o número oscilou negativamente, dentro da margem de erro, para 31% agora em setembro.

Já os que avaliam o governo como "ruim" e "péssimo" somavam 27% em abril; passaram para 32% em junho e chegaram a 34% agora, de acordo com o Ibope.

Também diminuíram a confiança no presidente e a aprovação da forma de governar de Bolsonaro.

Os que desaprovam a forma como Bolsonaro governa o país eram 40% em abril. Passaram para 48% em junho e agora são 50%. Inversamente, os que aprovam eram 51% em abril, passaram a 46% em junho e hoje são 44% dos brasileiros.

A confiança no presidente oscilou da seguinte forma: em abril, 51% confiavam nele. Em junho o número passou para 46% e hoje é de 42%. Os que "não confiam" eram 45% em junho, passaram a 51% em setembro e agora são 55%.

O Ibope ouviu duas mil pessoas de 19 a 22 de setembro deste ano, em 126 municípios do país. Nesta reportagem, a BBC News Brasil explica como são feitas as pesquisas de opinião. A margem de erro do levantamento do Ibope é estimada em 2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança utilizado é de 95%.

Abaixo, as três principais conclusões que podem ser tiradas do levantamento.

1. Popularidade caiu no Sul, mas cresceu no Norte

De acordo com o levantamento do Ibope, o governo Bolsonaro perdeu popularidade nas regiões Sul e Sudeste do país de junho a setembro - mas a queda foi compensada em parte por um aumento nas regiões Norte e Centro-Oeste. O Nordeste continua sendo a região onde Bolsonaro tem menos apoio.

A queda mais acentuada foi na região Sul: na edição de junho da pesquisa, 52% dos pesquisados na região consideravam a administração Bolsonaro "boa" ou "ótima". Agora, são apenas 36%. Já o percentual dos que consideram o governo "ruim" ou "péssimo" cresceu 18% em junho para 28% agora.

No sudeste, 35% consideravam a gestão Bolsonaro "boa" ou "ótima" em junho. Agora, são 32%. Inversamente, 27% consideravam o governo "ruim" ou "péssimo" em junho, no Sudeste. Agora, 34% pensam desta forma na região, segundo o Ibope.

Enquanto isso, nas regiões Norte e Centro-Oeste, a popularidade do governo cresceu: de 32% de "ótimo"e "bom" em junho, para 39% agora em setembro.

Em relação à renda, a pesquisa do Ibope mostra que a classe média continua sendo a que mais apoia a gestão Bolsonaro, embora este apoio tenha oscilado negativamente nos últimos meses.

Em abril, 45% dos entrevistados com renda familiar acima de cinco salários mínimos consideravam o governo como ótimo ou bom. No levantamento de setembro, este número tinha caído para 43%. Da mesma forma, em abril, 59% dos integrantes deste extrato de renda diziam confiar no presidente da República. Em setembro, este percentual caiu para 54%.

2. Crise ambiental afetou imagem do governo

Quando os entrevistados foram perguntados sobre o desempenho de cada área do governo, o destaque negativo ficou com a área ambiental: a desaprovação do governo nesta área subiu de 45% para 55% entre junho e setembro.

A única área do governo aprovada por mais da metade da população é a segurança pública, segundo o levantamento do Ibope: 51% aprovam a gestão do governo neste quesito. Taxa de juros, impostos e combate ao desemprego são as áreas onde a gestão de Bolsonaro é pior avaliada.

O mau desempenho da área ambiental pode estar ligado ao noticiário negativo sobre as queimadas e o aumento do desmatamento na Amazônia: notícias sobre este assunto são as mais lembradas pelas pessoas que responderam à pesquisa do Ibope. Ao todo, 22% se lembram de notícias sobre este assunto. Para efeito de comparação, apenas 5% se lembram de ter visto notícias sobre a reforma da Previdência, e 2% mencionaram conteúdos jornalísticos sobre a indicação do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, para o posto de embaixador do Brasil em Washington.

"Era mesmo de se esperar que houvesse um desgaste na questão ambiental, em função do noticiário muito negativo que ele enfrentou nesta área. Não é à toa que as notícias mais lembradas são sobre este tema", diz o cientista político Claudio Couto, depois de avaliar os números do Ibope a pedido da BBC News Brasil.

Couto lembra que a região Sul foi um bastião de Bolsonaro durante a campanha eleitoral e diz que talvez a variação entre as regiões esteja relacionada com a piora na área ambiental.

"Pode até estar relacionado, afinal as regiões Norte e Centro-Oeste estiveram no epicentro desta crise ambiental; são regiões onde o setor agrícola e extrativista é muito relevante. Talvez, a crise ambiental tenha tido por lá o efeito oposto do que teve em outras regiões (em termos de imagem do governo)", diz ele, que é coordenador do programa de mestrado em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.

3. Cerca de um terço do eleitorado se manteve fiel

Para analistas políticos consultados pela BBC News Brasil, o levantamento do Ibope traz pelo menos uma boa notícia para Bolsonaro, do ponto de vista político: as ações do presidente parecem estar sendo capazes de fidelizar uma parte do eleitorado.

Esta seria inclusive maior do que o que dispunham os antecessores de Bolsonaro, Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT) nos piores momentos de seus governos, e poderia ser suficiente para dar a Bolsonaro a vitória em 2022, a depender do desempenho da economia.

"Muito superficialmente falando, a pesquisa parece indicar que a estratégia eleitoral do governo está dando certo", diz o cientista político Christian Lynch, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-UERJ). Para o especialista, Bolsonaro teria garantido para si cerca de 30% do eleitorado, com uma postura de direita radical.

"A estratégia dele parece ser a de fidelizar esses 30%, como (o presidente dos EUA, Donald) Trump", diz.

"A pesquisa parece indicar que a estratégia dele essa funcionando. Está correspondendo à expectativa desse terço, que ficou fiel. A ideia é apostar na melhora da economia em médio prazo para conseguir mais uns 10% lá na frente, e ganhar a eleição", diz Lynch.

"A trajetória (de queda) da aprovação não é tão negativa", diz o analista político Paulo Gama, da corretora XP Investimentos. "Ele mantém boa parte do público dele (...) e 30% de aprovação ainda dão algum lastro para ele no Congresso", diz Gama.

"Quando saíram as pesquisas do CNT/MDA (26 de agosto) e o Datafolha (2 de setembro), surgiu uma ideia de que ele estava derretendo e era o fim do mundo. Mas 30% não é trivial. Ainda mais porque a gente vem de dois presidentes com popularidade na casa ou até abaixo dos 10%", diz o analista.

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