23 Mai 2019
Fernando Altemeyer Junior
Grave é o apoio explícito da Canção Nova manipulando a devoção à Virgem pelo presidente necrófilo apoiador de tortura e armas.
Ricardo Timm de Souza
Ética é a construção do sentido da vida a partir do encontro com o Outro.
Caio Almendra
Eu tenho cada vez mais concordância com a definição que o Rodrigo Nunes deu para "O Movimento", a internacional de extrema-direita de Steve Bannon: essa é a necropolítica do Antropoceno.
Traduzindo para português, com a calamidade ambiental gerando mais e mais resultados visíveis, como refugiados climáticos, secas, instabilidade, alta dos oceanos em regiões densamente populadas e demais efeitos da destruição do ambiente, parcela da elite se prepara para sua solução preferida: ações de força contra as camadas populares para garantir a estabilidade do regime econômico.
Ou, ainda mais simples, tal qual em "The Purge", quando a coisa fica feia, os ricos afiam suas facas.
Acontece que o capitalismo é extremamente plástico em sua resistência a ser destruído ou alterado, ele é criativo, capaz de mudar-se, reformar-se, adaptar-se. Ele se adapta a novas condições de luta, ele reage aos ataques e se defende. Tal qual os Borgs, os androides de Star Trek que se adaptam e são inatacáveis da mesma forma ou pela mesma arma duas vezes, ele é extremamente resistente.
Uma das formas de ser tão adaptáveis é uma desuniformização das hipóteses, das experimentações. Esse processo necropolítico está em franca fase de experimentação. Diversas formas distintas de controle dos corpos estão nos tubos de ensaio.
Podemos conectar casos como as privatizações das cidades em Honduras, a ação "pacificante" da ONU no Haiti, a política de ataques via drones que os EUA promovem na Síria, Iraque, Afeganistão, Líbia, Paquistão e Somália, o regime de controle de ingresso de refugiados na Europa, como tais experimentações necropolíticas.
No Brasil, havia o modelo das UPPs mas ele tornou-se economicamente inviável. A atual contribuição brasileira para essas experimentações são as milícias. Não são exatamente novas, sendo uma reinvenção das máfias europeias. Mas tem um "vantagem adaptativa": as milícias congregam controle político e mecânica econômica, elas mantem a população sob medo ao mesmo tempo que "gera" recursos pela extorsão dos mais pobres.
As milícias, claro, são anteriores a O Movimento. Elas tem algumas décadas e ao menos uma década na atual formatação. Mas a chegada de um governo amigo das milícias à presidência, e essa é a minha parte e a mais especulativa desse processo todo, indica que as milícias se inscreveram no concurso de extrema-direita "Qual a melhor forma de controlar os pobres enquanto as devastações ambientais que causamos ficam incontroláveis?". Os experimentos mais exitosos serão implementados em outras regiões do planeta.
O Brasil tem um inscrito. O prêmio será anunciado por Holliwood, quando os Elisiums, Divergentes e Jogos Vorazes virarem filmes de época. O vencedor ganha o direito de exportar pesadelos mundo afora.
Gustavo Gindre
Witzel pretendia fazer um doutorado sanduíche em Harvard e, só por ter tido a vontade, já tacou o doutorado lá no Lattes.
Posso colocar o Nobel de Literatura no meu Lattes? Eu tenho uma baita vontade de ganhar um.
Cesar Benjamin
Picaretagem da Previdência
A opinião pública está sendo inundada por análises sobre Previdência. Elas mantêm aparência de bom senso e razoabilidade. Ninguém, aparentemente, pode discordar. Hoje foi o dia de Carlos Alberto Sardenberg, em O Globo:
"A despesa com pagamentos de pensões a aposentadorias (do INSS e do setor público) é o maior item federal. [...] Essa despesa tem sido crescente. No outro lado das contas, das receitas, aparecem as contribuições pagas pelos trabalhadores da ativa. Aqui aparece o déficit previdenciário: o total das contribuições não cobre o total das aposentadorias. O déficit é crescente: R$ 285,5 bilhões no ano passado, contra R$ 268,8 bilhões em 20187."
O raciocínio é claro. Parece irrespondível. Mas está errado. Leiam este trecho do meu trabalho sobre Previdência:
* * *
"A Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, criou o Fundo do Regime Geral de Previdência Social, que passou a centralizar os recursos destinados a pagar os benefícios do RGPS. Ele é a principal referência dos dados que saem na imprensa. O problema é que esse fundo ignora os dispositivos constitucionais, seja por separar Previdência e Seguridade, seja por considerar que são do Tesouro várias receitas que a Constituição instituiu como próprias da Seguridade.
A legislação infraconstitucional atropelou a Constituição, ignorando o amplo mecanismo de financiamento estabelecido em 1988. Na contabilidade apresentada à opinião pública, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), a Cofins e os recursos arrecadados pelos concursos de prognósticos são considerados receitas do Tesouro. A participação da União no financiamento da Previdência é ignorada. Somente as contribuições de empregados e empresas que incidem sobre a folha de salários aparecem como receitas próprias do sistema.
Além disso, juntam-se receitas e despesas do RGPS [INSS] e do RPPS [setor público], que, como vimos, são instituições diferentes, uma gerenciada pelo INSS, outra pelo Tesouro Nacional. O RGPS, como o nome diz, é um regime geral, enquanto o RPPS é um regime fechado, que não integra o sistema da Seguridade Social. Essa segunda confusão lança sobre a Previdência pública encargos que não são seus.
Com receitas comprimidas e despesas expandidas, a Seguridade aparece como deficitária. Para cobrir esse déficit, parte dos seus recursos retorna a ela, mas sob a rubrica “transferências da União”. Assim, ela se torna responsável por grande parte da crise fiscal."
* * *
Meu texto completo sobre Previdência está aqui.
Observação final: quem se der ao trabalho de ler meu texto verá que ele é moderado e respeitoso. Tentei, de diversas maneiras, estabelecer um diálogo construtivo sobre o problema da Previdência. Só levei pedradas. Agora trato a proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo pelo que ela, de fato, é: business. Os conservadores não querem construir nada. Querem ganhar dinheiro.
Abraços,
Cesar Benjamin
André Aroeira
1. A cobertura florestal da Europa não é 1%, animal, mas 42%.
2. A cobertura de vegetação nativa do Brasil não é 61%, mas 67%, o que não o coloca nem entre os 30 países mais florestados do planeta. Um vexame pra quem tem a maior biodiversidade do mundo.
3. Isso também não significa que estejam protegidas, já que apenas 25% são destinadas a isso - Unidades de Conservação (excluindo APAs, naturalmente) e Terras Indígenas. Fora da Amazônia, esse número é absurdamente baixo, 5%. Já passamos da hora de começar a restaurar e proteger esses biomas.
4. Eduardo omite, mas a pecuária ocupa quase 20% do território brasileiro, o que significa que ao converter essas terras geralmente improdutivas em "agricultura" estaríamos alimentando, pelas contas dele, 15 vezes a população brasileira. Mais de 3 bilhões de pessoas, quase metade do planeta, sem cortar uma árvore, sem escravizar bovinos e mitigando mudanças climáticas.
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