Osservatore Romano, demissão de Scaraffia e da equipe do suplemento mensal feminino. Monda: a revista continua

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27 Março 2019

Lucetta Scaraffia deixa a direção de Donne Chiesa Mondo. Com ela, renuncia toda a equipe do suplemento mensal feminino do L'Osservatore Romano. Pouco depois, o diretor, Andrea Monda, garante: o suplemento continua. A professora tomou essa decisão após quase três meses de direção de Monda, e explica suas razões em uma carta ao Papa Francisco: "Parece-nos que uma iniciativa vital está sendo reduzida ao silêncio e que se esteja voltando ao antiquado e árido hábito da escolha vinda de cima, sob o direto controle masculino, de mulheres consideradas confiáveis”.

A reportagem é de Domenico Agasso Jr. e Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 26-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini

Nascida sob a direção de Giovanni Maria Vian, para muitos a revista mensal dirigida por Scaraffia poderia representar uma virada para o jornal da Santa Sé e para todo o Vaticano sobre o tema mulheres na Igreja, considerado ainda muito marginalizado.

Nos últimos meses, a revista denunciou o escândalo dos abusos sexuais e de poder contra as irmãs cometidos por padres e bispos. Um flagelo reconhecido pelo próprio Papa, em fevereiro, no voo de retorno dos Emirados Árabes Unidos.

Scaraffia, na carta datada de 21 de março, anuncia "com grande pesar que suspendemos nossa colaboração para Donne Chiesa Mondo, o suplemento mensal do Osservatore Romano por nós fundado, do qual Bento XVI permitiu seu nascimento justamente sete anos atrás e que V.S. sempre incentivou e apoiou. Nós jogamos a toalha porque nos sentimos cercadas por um clima de desconfiança e de deslegitimação progressiva, por um olhar em que não sentimos estima e crédito para continuar nossa colaboração".

Scaraffia fala do "fechamento do Donne Chiesa Mondo", com o qual "termina, ou melhor, se quebra, uma experiência nova e excepcional para a Igreja: pela primeira vez, um grupo de mulheres que se organizaram autonomamente e votaram dentro da equipe os cargos e o ingresso de novas redatoras, pôde trabalhar no coração do Vaticano e da comunicação da Santa Sé, com inteligência e coração livres, graças ao consentimento e apoio de dois papas".

Mas agora "parece-nos que uma iniciativa vital esteja sendo reduzida ao silêncio e que voltamos ao antiquado e árido hábito de escolher a partir de cima, sob o direto controle masculino, de mulheres consideradas confiáveis. Desta forma – ela denuncia – descarta-se um trabalho positivo e o começo de uma relação franca e sincera, uma oportunidade para parrésia, para voltar ao autorreferencialidade clerical. Justamente quando esta estrada é denunciada por V.S. como improfícua”.

Durante a manhã, a resposta de Monda chegou através de uma nota: "Tomo conhecimento da livre e autônoma decisão da professora Scaraffia de interromper a colaboração com L'Osservatore Romano e de considerar encerrada a sua direção de Donna Chiesa Mondo". Garante que "nestes poucos meses desde que fui nomeado Diretor, eu garanti à Professora Scaraffia e ao grupo de mulheres na redação, a mesma total autonomia e a mesma total liberdade que caracterizaram o suplemento mensal desde que ele nasceu, abstendo-me de interferir de qualquer maneira sobre a elaboração do suplemento mensal do jornal e limitando-me a oferecer minha devida contribuição (na sugestão de temas e pessoas possíveis de serem envolvidas) para a livre avaliação da professora Scaraffia e da redação do suplemento”.

Monda garante que “o meu empenho não foi de forma alguma o de enfraquecer o mensal Donna Chiesa Mondo, ao qual foi, aliás, totalmente confirmado o orçamento e foi garantida a tradução e a divulgação em outros países, apesar da necessidade geral de conter os custos da Cúria”. E o empenho “foi e continua sendo o de potencializar a edição diária do L'Osservatore Romano (certamente não em termos de concorrência, mas de complementaridade com o suplemento) como é natural e justo que seja”. Ele responde a Scaraffia dizendo que "de maneira nenhuma eu selecionei alguém, homem ou mulher, com o critério da obediência. Ao contrário, evitando interferir no suplemento mensal, solicitei na redação do jornal comparações realmente livres, não construídas sobre o mecanismo de uns contra os outros ou de grupos fechados". Se, com base na "realidade eclesial e cultural, dediquei atenção a temas como a pluralidade e a diferença no mundo da Igreja, isso decorre apenas da centralidade que esses temas, justamente graças ao papel das mulheres, adquiriram. Na próxima segunda-feira, 1 de abril - só para dar um exemplo - será realizada na redação uma mesa redonda a partir da publicação do ensaio, assinado por 17 renomadas teólogas e estudiosas, "A voz das mulheres" (Ed. Paoline)".

Sobre o futuro do suplemento mensal "posso garantir que isso não estava em questão. E que, portanto, a sua história não vai se interromper, mas continua. Sem clericalismos de qualquer espécie”.

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