20 Março 2019
Uma adolescente com o rosto de criança que faz explodir um pandemônio universal. Garotos em todos os lugares que saem às ruas para se manifestar, não por uma ideologia, mas por uma preocupação com o futuro. Eles pedem que se pare de aquecer o planeta a ponto de levá-lo a ferver.
O comentário é de Dacia Maraini, escritora, poeta, ensaísta dramaturga e cinegrafista italiana, publicado por Corriere della Sera, 19-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Certamente eles não sabem como e não cabe a eles remediar os danos que estamos causando, mas manifestações assim tão numerosas acabam sensibilizando a opinião pública, e até a política não consegue deixar de levá-las em consideração. Imediatamente foi dado início à busca pelas razões escondidas, pelas pressões econômicas, pelos interesses privados que podem estar por trás desses adolescentes que protestam, começando por Greta Thunberg, na origem de tanta turbulência. Ela foi aconselhada, forçada, usada, talvez até paga, dizem, e tanta surpresa e tanto ódio obviamente nascem do medo.
Que o povo dos estudantes esteja se despertando como em 1968 e pretenda mudar o rumo da situação? Que esses jovens queiram influenciar a política dos especialistas, dos grandes políticos que estão nas telas diariamente para criar expressões e pensamentos? Mas quem os direciona? Quem os está influenciando? Quem os instiga?
Evidentemente, Greta foi o pavio que deu início ao fogo, mas o fogo já estava fermentando há tempo. Eu, que costumo frequentar o ambiente das escolas, escrevi isso várias vezes: sob a superfície de um evidente desinteresse político, sob a tão criticada apatia havia fogo que só precisava de uma faísca para deflagrar. A faísca veio de uma menina com tranças que adivinhou as palavras certas, no momento certo.
O contraste com os coletes amarelos que estão devastando Paris é evidente. Aqueles são todos homens e se lançam contra os policiais, queimam carros, quebram vitrines de lojas. Em vez disso, os estudantes, dos quais a maioria é de garotas, demonstram pacificamente, não expressam ódio ou rancor, sem propor revoluções impossíveis e raivas sociais, mas pedindo uma mudança de rumo possível. É uma questão de boa vontade. Nós sabemos disso. Mas como isso não traz votos, os políticos evitam falar sobre isso. Diante dessas massas de jovens, é possível que comecem a mudar de ideia. Esperamos que sim.
Eu espero e quero acreditar que estamos no início de uma mudança de rota.
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A mudança de rota que vem dos adolescentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU