14 Março 2019
Andreza Delgado
Julio Renato Lancellotti
Verdades de um povo: uma merendeira que devia ser ministra !
Cid Benjamin
Parece coisa de maluco os bolsonaristas dizerem que a forma de combater chacinas como esta de Suzano é fazer os professores trabalharem armados.
E nem todos estão de má fé.
O que essa gente tem na cabeça?
Cid Benjamin
Artigo meu publicado no JB on line esta noite.
Um elogio, duas dúvidas e uma pergunta
Dois dias antes de completar o primeiro aniversário, a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes, seu motorista, começa ser desvendada. Foram presos um PM reformado e um ex-PM, apontados como os dois executores do crime. Faltam, claro, que sejam presos os mandantes e que sejam elucidadas as razões do assassinato. Ou alguém acredita que um matador profissional passou três meses estudando os passos de sua próxima vítima para matá-la por diletantismo. Ou que ele a matou porque não gostava de “gente de esquerda”.
Esse homicídio não foi mais um, dentre tantos que ocorrem no Brasil. A gravidade de assassinatos políticos vai muito além da morte das vítimas. Os tiros atingem a democracia. Mostram que a luta política está sendo travada de forma inaceitável. São um retrocesso no processo civilizatório.
A equipe da Polícia Civil do Rio que desvendou o assassinato está de parabéns. Como informou à imprensa o delegado responsável pela Divisão de Homicídios, Giniton Lages, foi um trabalho de investigação penoso, que demandou um enorme esforço, procedimentos sofisticados e uso de alta tecnologia.
Pois bem, passadas as congratulações, restam algumas dúvidas.
A primeira delas: como vazou a operação que prendeu os dois PMs bandidos?
Como, por razões legais, a polícia não pode entrar em residências antes das 6h da manhã, os assassinos deixaram suas casas de em torno das 4h da madrugada. Eles tinham sido avisados da operação que os prenderiam. Ao sair, porém, caíram nas mãos da polícia, que estava a postos desde as 3h. É que, desconfiados de que a operação poderia ter vazado, os policiais chegaram cedo...
Embora possa ter ocorrido, é difícil pensar que uma investigação delicada como essa e levada com tanto profissionalismo não compartimentasse as informações sobre a operação que prendeu os dois matadores. O mais provável é que seus participantes só tenham sido informados no momento em que ela aconteceu. É também provável que até seus celulares tenham sido recolhidos, por precaução. Pelo menos, em geral as coisas funcionam assim.
Se essas precauções foram tomadas, a explicação para o vazamento é que ele ocorreu “para cima”, a partir de quem, na cadeia de comando, era superior hierárquico aos comandantes da investigação. Pela relevância da operação, não seria absurdo que os ocupantes dos cargos superiores tivessem sido informados da prisão iminente dos dois matadores. Eles seriam o secretário da Polícia Civil e o governador.
Claro que não se pode acusá-los de ter vazado a operação. Seria uma leviandade.
Mas, então, vem a segunda dúvida: por que o diretor da Divisão de Homicídios, Giniton Lages, foi afastado abruptamente do caso no dia seguinte às prisões, se seu desempenho tinha sido tão elogiado que até o governador, em seu exibicionismo, tinha até levado o anúncio das prisões para o Palácio?
A justificativa de que Giniton já tinha “cumprido a sua missão” é pueril. Acredita nisso quem acreditar em Papai Noel e no coelhinho da Páscoa. Afinal, em se tratando do caso Marielle, falta o mais importante: os mandantes do crime.
O governador Witzel anunciou que Giniton partirá imediatamente para a Itália para fazer um curso sobre o combate à máfia. É estranho. Fica a impressão que o que se quis mesmo foi tirá-lo das investigações.
Tudo fica, ainda, mais estranho quando se lembra que Witzel festejou o assassinato de Marielle, em cima de um carro de som, ao lado de dois parceiros trogloditas que exibiam, em festa, a placa com o nome da vereadora partida em dois pedaços.
O governador não esconde seu apreço por Bolsonaro e suas teses. E, diante de tudo isso e depois que as investigações chegaram a integrantes de grupos de extermínio, próximos à família Bolsonaro (claro que tudo pode ser coincidência!), é oportuno lembrar o discurso de um certo deputado no plenário da Câmara em 12 de agosto de 2003, quando se tentou abrir uma investigação sobre um grupo de extermínio que agia no Bahia.
“Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para eles na Bahia, podem ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu estado só as pessoas inocentes são dizimadas.”
O autor desse discurso foi o então deputado Jair Bolsonaro.
Por fim, a terceira dúvida: foi proposta a abertura de uma CPI na Câmara sobre as milícias. A bancada bolsonarista vai apoiá-la?
14/3/2019
Rodrigo Nunes
Escrevi isso tem pouco menos de um ano, voltando do protesto na Maré após a morte da Marielle e... bom, vejam aí.
#mariellepresente#mariellevive#quemmandoumatarmarielle
"Oxalá um dia olhemos para o assassinato de Marielle e o vejamos como um ponto de inflexão: o momento em que o país viu aonde o caminho tomado o levava e optou por corrigir o rumo. Porque esta tragédia sinaliza algo que é urgente compreender: ignorar as demandas democratizantes da grande maioria da população implica necessariamente também reprimi-las. As demandas não vão simplesmente desaparecer; não há ninguém que não deseje mais oportunidades, mais dignidade e mais respeito, e as expectativas das classes mais baixas cresceram na última década. E reprimi-las, é imperativo dizer, tem um custo para todos.
O slogan da campanha que elegeu Marielle era a tradução que se convencionou fazer do conceito sul-africano (isto é, zulu e xhosa) de ubuntu: 'eu sou porque nós somos'. No contexto atual, a lição a ser extraída desta ideia é: a qualidade de vida de cada um é inseparável da qualidade de vida de todos. A falta de saneamento básico gera doenças e poluição para todos. A falta de educação de qualidade gera gargalos econômicos que atingem todos. A falta de oportunidades nas periferias gera insegurança em todas as partes e gastos em segurança privada para a classe média. Finalmente, não atacar as causas destes problemas e pretender apenas circunscrever seus efeitos, impedindo que eles cheguem aos bairros remediados da cidade, implica a militarização crescente da vida de todos.
Verdade, é para a favela que os fuzis seguirão apontados. Mas a experiência demonstra que a guerra aberta do Estado contra os pobres acaba contaminando tudo, gerando erosão de direitos e garantias fundamentais (privacidade, inviolabilidade etc.), degeneração institucional, fortalecimento de estruturas para-estatais armadas (milícias), incorporação crescente do crime organizado à classe política e ao aparelho estatal. É preciso ter clareza: o caminho pelo qual estamos optando tende a transformar o país num narco-estado como Colômbia ou México –– lugares onde mesmo políticos, figuras públicas e a classe média branca não estão inteiramente a salvo.
Não atacar o nó górdio da desigualdade e desprezar a aspiração legítima por mais igualdade e direitos não sairá barato para ninguém. Parafraseando o conhecido aforisma de Milton Friedman, se não existe almoço grátis, o contrário também é verdadeiro: não há fome que não tenha custo para toda a sociedade. Um país tão desigual como o nosso tende a entrar em guerra contra si mesmo e tornar-se invivível. Se a coisa não melhorar para a grande maioria, piorará para todos, exceto os muito ricos."
A morte de Marielle é um sinal ao qual devemos estar atentos
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