Alemanha, 70 anos de abusos. Cardeal Marx: vergonha e dor

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26 Setembro 2018

A imprensa já havia antecipado parcialmente os conteúdos na semana passada, com um vazamento de notícias que havia criado uma grande celeuma, mas essa segunda-feira, 24, foi o dia da revelação oficial do estudo sobre 70 anos de abusos sexuais cometidos na Igreja Católica alemã. O mais detalhado já feito até agora.

A reportagem é de Andrea Galli, publicada por Avvenire, 25-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A ocasião foi uma coletiva de imprensa realizada em Fulda, onde, nestes dias, a Conferência Episcopal da Alemanha está reunida para a sua assembleia de outono. Representando o episcopado teutônico estavam o seu presidente, o cardeal Reinhard Marx, e Dom Stephan Ackermann, bispo de Trier, junto com os inúmeros protagonistas da investigação.

O estudo em questão é uma escavação de vários anos desejado pela Conferência Episcopal, mas realizado de forma independente por três institutos da Universidade de Heidelberg, Giessen e Mannheim, coordenados pelo psiquiatra forense Harald Dressing.

Os números são implacáveis: 3.677 vítimas menores de idade de abusos de fundo sexual documentados de algum modo, ocorridos entre 1946 e 2014, e cometidos por 1.670 sacerdotes, diáconos e religiosos, em sua grande maioria, padres diocesanos.

De acordo com um cálculo, se trataria de 4,4% de todos os presbíteros ativos na Alemanha ao longo dos últimos 70 anos, embora a porcentagem real provavelmente seja maior, como se pode deduzir a partir das modalidades da investigação.

De fato, os investigadores trabalharam cruzando uma enorme quantidade de dados heterogêneos – denúncias das vítimas efetivas ou presumidas, cerca de 38 mil documentos conservados nos arquivos diocesanos, atos judiciais e entrevistas. Eles não puderam ter acesso diretamente aos arquivos diocesanos, mas trabalharam sobre o material que lhes foi passado, a pedido, pelos arquivistas.

Além disso, em 17 das 27 dioceses presentes na Alemanha, a investigação limitou-se ao período entre 2000 e 2014. Esses fatores fizeram com que o relatório também recebesse críticas em relação à sua confiabilidade, mas foi defendido com determinação pelo coordenador Dressing. Ele não tentou suavizar a situação aos presentes, ao contrário. “A dimensão e a frequência dos abusos sexuais na Igreja Católica me abalaram”, disse o estudioso, afirmando que lida com a questão dos abusos há décadas.

“Sinto vergonha por tantas pessoas que se voltaram para o outro lado”, disse Marx, “que não quiseram reconhecer o que estava acontecendo, que não se ocuparam com as vítimas. Isso também vale para mim. Nós não ouvimos as vítimas.”

O cardeal disse que informou o papa sobre o estudo, que quis falar sobre ele no âmbito do Conselho dos Cardeais (o “C9”), assim como durante o Sínodo dos jovens que será aberto em breve no Vaticano. Ackermann anunciou uma reflexão aprofundada do episcopado sobre os resultados obtidos e sobre as medidas a serem tomadas.

São muitas as disfuncionalidades que os pesquisadores ressaltaram – como a prática de transferir sacerdotes problemáticos de uma paróquia a outra ou de uma diocese a outra, com pouca transparência sobre o passado dos próprios sacerdotes. Mas duas questões foram enfatizadas especialmente: o “clericalismo”, como degeneração da autoridade dos clérigos e consagrados sobre os leigos – com a indicação da delicadeza do sacramento da confissão, muitas vezes ocasião de abusos –, e os problemas de identidade e maturidade afetivo-sexual dos membros do clero.

Das vítimas, 62,8% são do sexo masculino, mas, de acordo com os atos judiciais apenas, o percentual sobe para 80,2%. Os investigadores não conectam a questão da homossexualidade à dos abusos, mas evidenciam que a vida celibatária pode parecer aos candidatos ao sacerdócio com “inclinação homossexual imatura e reprimida” como uma solução aos próprios problemas psicológicos.

Indo além da análise factual, com uma série de considerações que soam mais do que questionáveis, surge também o dedo apontado contra um clima “homofóbico” na Igreja e uma moral sexual católica que impediria o estabelecimento de um clima psiquicamente sereno. Até mesmo desejando a superação da não elegibilidade ao sacerdócio de pessoas que apresentem “tendências homossexuais profundamente arraigadas”: o critério contido na Instrução sobre o discernimento vocacional emitida pela Congregação para a Educação Católica em 2005, à qual o Papa Francisco também tinha se referido indiretamente na carta entregue aos bispos chilenos em 17 de maio passado.

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