16 Julho 2018
Gustavo Gindre
A próxima sede da Copa do Mundo é um país com metade do tamanho de Sergipe (o menor estado brasileiro) e uma população de 2,5 milhões de pessoas.
Os 12 estádios da Copa (9 novos e 3 totalmente reformados) podem ser percorridos em um trajeto de menos de 250 km de carro (do primeiro ao último).
Seu campeonato nacional é irrelevante e a seleção nacional jamais participou de uma Copa do Mundo.
É a maior insanidade da história das Copas do Mundo.
Silvio Pedrosa
"O velho levou o gado colina acima naquela manhã de dezembro de 1991 porque era o que ele fazia todos os dias, com chuva ou sol, no inverno ou no verão. Ele levou o gado colina acima naquela manhã e nunca mais voltou.
Um grupo de homens uniformizados como se fossem policiais o prendeu. Se eles eram ou não policiais não interessa e era irrelevante: naquela região o poder não vinha de um pedaço de papel, mas do cano de uma arma.
O crime daquele velho era o mesmo crime de sempre em lugares divididos pelo preconceito: não ser um deles. Ser o outro. Ser o inimigo. Seu crime não era nada que ele tivesse feito: era ser quem ele era. Ele era croata, os homens eram sérvios. Isso era tudo que importava.
Os homens levaram o velho e alguns outros homens para a vila próxima de Jesenice e lá eles foram executados. O velho deixou uma família que ele amava e que o amava: nenhum o amava mais que o seu neto de seis anos com quem ele compartilhava o nome e de quem ele tinha sido praticamente inseparável, o velho adorando o menino, o menino idolatrando seu avô.
O nome que eles compartilhavam era Luka Modric e, neste domingo, aquele menino, agora com 32 anos, vai liderar seu país na final de uma Copa do Mundo.
O futebol utiliza a linguagem da guerra: ataques, tiros, defesa, bombardeio... Modric, como todos os seus conterrâneos sabe a diferença entre o real e sua metáfora: sabe também que na Croácia um está sempre ligado ao outro, porque entre eles está sempre a história daquele pequeno, porém orgulhoso, país.
Após o assassinato de seu avô, a casa da família de Luka foi incendiada e eles tiverem que viver em um hotel por anos: não um hotel confortável e caro, mas um barato e deteriorado na sua cidade natal, Zadar. Quando os morteiros cruzavam o céu, como eles sempre faziam, o jovem Luka se sentava dentro do hotel e esperava até que eles parassem. Mas quando a situação estava calma, ele estava sempre jogando futebol no estacionamento do hotel - algumas vezes com outras crianças, outras sozinho. Qualquer coisa para escapar da depressiva e entorpecedora realidade de viver num estado perpétuo de conflito.
Ele era uma criança pequena: pequena demais, como aconteceu, para ser notado pelos figurões locais do Hadjuk Split. Ele acabou indo parar, aos 18 anos, na liga bósnia, jogando pelo Zrinjnski Mostar, onde tanto seus companheiros quanto seus adversários descobriram duas coisas a respeito dele: que ele tinha todas as habilidades que você poderia imaginar; e que ele podia cuidar dele mesmo.
Passados quinze anos, ele havia vivido uma jornada que o levou do Dínamo de Zagreb para o Real Madrid, passando pelo Tottenham Hottspur. Mesmo que ele ainda se pareça, nas improváveis palavras de Barney Ronay, jornalista inglês do The Guardian, 'um menino vestido como bruxo', agora ele é um dos melhores jogadores do mundo: um meio-campista de talento fabuloso, um dos muito poucos que podem dobrar o espaço e o tempo de acordo com a própria vontade.
De todos esses talentos, talvez o maior seja fazer seus companheiros jogarem melhor. Quando o passe simples é a melhor opção, é o que ele faz. Quando ele precisa segurar a bola por alguns instantes para que seus companheiros se posicionem melhor, é o que ele faz. Quando ele tem que cobrir o erro de um companheiro, é o que ele faz.
Ele não é um daqueles superstars cujo tamanho atrai os olhares, cuja simples presença inibe os outros dez homens vestindo a mesma camisa que ele. Ele é um grande líder precisamente porque ele não faz tudo ser sobre ele mesmo. Você não vai vê-lo rolando pelo chão como se ele tivesse pisado numa mina terrestre, tirando a camisa quando marca um gol ou ficando apavorado quando o jogo não sai como ele esperava. Ele deixa esse tipo de coisa para Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi. Todos eles já estão em casa. Ele ainda está na Copa, assim como seus compatriotas.
E eles o amam. Quando ele perdeu um pênalti no segundo tempo da prorrogação contra a Dinamarca, pelas oitavas de final, seu companheiro Ivan Rakitic reuniu o time. 'Ouçam', ele disse, 'Lukita nos tirou de mais situações complicadas do que podemos contar. É a nossa vez de fazer o mesmo por ele'. Os croatas superaram o erro e venceram a disputa de pênaltis, com Rakitic marcando a última penalidade.
Mas se você quer saber do que Modric é feito, aqui está: apenas alguns minutos após perder o pênalti, ele ficou cara a cara novamente com o goleiro dinamarquês Kasper Schmeichel. Ele marcou na sua segunda chance? Claro que sim.
É difícil de entender -- não, é fácil de entender, mas difícil de sentir -- o que a seleção croata significa para os croatas. A imagem mais famosa do futebol inglês é aquela na qual Booby Moore levanta a Copa do Mundo em 1966. A mais famosa imagem da história do futebol croata é aquela na qual Zvonimir Boban está dando uma voadora em um policial.
Foi durante uma partida entre o Dínamo de Zagreb e o Estrela Vermelha de Belgrado, em 1990, não muito depois que a Croácia havia votado pela separação da Sérvia ao eleger uma maioria de partidos pró-independência para o seu parlamento.
Boban viu um policial espancando torcedores do Dínamo durante um levante no interior do campo de jogo e se atirou contra ele. 'Lá estava eu', Boban declarou posteriormente, 'um rosto público disposto a arriscar minha vida, carreira e tudo mais que a fama pudesse me proporcionar, tudo por causa de um ideal, uma causa: a causa croata'.
Boban foi banido da seleção iugoslava que disputou a Copa do Mundo daquele ano. Ele não ligou. Na sua cabeça, ele era croata, não iugoslavo, e oito anos depois ele liderou, como capitão, a Croácia rumo ao terceiro lugar na sua primeira Copa do Mundo enquanto nação independente. Ele foi o líder de uma geração de jogadores fabulosos - Slaven Bilic, Robert Prosinecki, Davor Suker - que até hoje são reverenciados no país.
Por chegar na final, Modric e seus companheiros já deram um passo além do feito de seus predecessores. É justo que eles encarem a França: ambas as seleções jogaram três partidas na fase de grupos e três partidas eliminatórias, com a Croácia sendo o destaque da fase de grupos e a França o melhor time nas partidas eliminatórias.
A aposta fácil é a França. Eles são um melhor time em termos de conjunto e venceram todas as suas partidas eliminatórias no tempo normal, enquanto a Croácia enfrentou três prorrogações: um total de 90 minutos a mais de futebol, o equivalente a uma partida inteira a mais.
Meu cérebro diz que haverá uma vitória francesa, talvez mesmo uma fácil vitória francesa. Mas meu coração aposta numa vitória croata, pelo conto de fadas dos azarões, por um povo orgulhoso forjado pela guerra e, mais do que tudo, pelo seu inesquecível capitão e aquele velho em cuja homenagem ele recebeu seu nome."
Boris Starling
Ricardo Mariano
Congresso e senado deveriam ficar de férias até as eleições evitando assim maiores estragos ao País.
Fabricio Souza
Por que uma ditadura de "esquerda" funciona? Porque basta dizer "esquerda" e toda barbárie é perdoada
"Ortega afirma que não deixará o poder e acusa os políticos de direita de orquestrarem os protestos para retirá-lo do poder. Para ele, os protestos contra seu Governo são um reflexo de que "o demônio está mostrando as unhas". O esquerdista, por sua vez, é acusado pelos seus opositores de querer se perpetuar ao poder a qualquer custo. Ele está há 11 anos à frente do país, ao lado de sua mulher, que é vice-presidente. Sua última vitória, em 2016, foi contestada pela oposição, que a acusou de fraudulenta. Mas Ortega soube se segurar ao poder por meio de alianças pragmáticas. Se aproximou da Igreja ao encampar políticas "pró-família", como leis rigorosas contra o aborto. E organizou uma agenda pró-mercado, para aproximar o empresariado. "Uma sofisticada estratégia — alimentada até recentemente pela farta ajuda econômica da Venezuela"
Cid Benjamin
Cerca de 3.800 municípios têm a receber R$ 90 bilhões do governo federal relativos ao Fundef (antecessor do Fundeb).
Por dificuldades burocráticas, estão contratando escritórios de advocacia, que cobram 20 por cento, para conseguir apressar o repasse.
Ora, são particulares que, no total, vão receber R$ 18 bi para agilizar repasses entre dois entes públicos, repasses esses garantidos por lei.
Algo cheira mal.
Mais detalhes na edição de hoje do Globo.
Vera Rodrigues
"A cada três dias, um professor denuncia à polícia ameaças dentro de escolas no Rio" ( O Globo , 15.07.18 - link aqui).
Numa cidade em que as escolas públicas das favelas e das periferias têm seu calendário escolar e seu cotidiano definidos por agentes do tráfico e/ou da polícia, a depender do tiroteio do dia, não é surpreendente que a escola – que não se constitui numa ilha, está inserida num contexto de extrema violência – reflita os campos de tensão do entorno.
O buraco é tão fundo , que é difícil saber quando será possível começar a sair dele. A começar por um conceito que iguala segurança pública à repressão, alimentando a indústria bélica e produzindo tudo, menos segurança. É inconcebível que, a essa altura do campeonato, com milhares de tiroteios diários, extermínios de toda uma geração de pobre e negros, e o clima de terror vivido por boa parte da população, não se tenha clareza de que qualquer projeto de segurança deveria estar vinculado às condições de vida (moradia, saneamento básico, trabalho, educação, saúde, transporte etc.) dos que hoje são considerados subcidadãos.
Os professores, por sua vez, muitas vezes com formação insuficiente, valorização zero do seu trabalho, precariedade de condições p/ o exercício da função , bem como alunas e alunos que, já aos dez anos ameaçam fisicamente educadores, são sintomas de uma falência muito mais ampla. O adoecimento, nesses casos, é inevitável.
O descolamento de quem pensa o cenário político, seja nos gabinetes, na academia, ou nas redes sociais, da realidade da população é de tal ordem que, quando perguntei para uma moradora de Maré se ela e os amigos tinham acompanhado o domingo-lambança de tribunais, juízes, ~perseguição~ ao ex-presidente, e/ou a discussão sobre o impeachment do Crivella, ouvi o seguinte:
- não, ninguém que eu conheço viu nada disso aí, porque a gente estava ocupado , fazendo um abaixo-assinado para pedir que não atirem perto da escola e da creche.” (semana passada os tiroteios foram praticamente diários).
Fernando Altemeyer Junior
17/07/1566 – Memória da morte na cidade de Madrid, de Bartolomeu de las Casas, aos 82 anos, profeta defensor da causa dos índios e negros, primeiro padre ordenado no continente latino-americano. Autor de vasta obra do Direito internacional e o precursor dos Direitos Humanos universais. Frade dominicano e profeta da América Latina. Como afirma o bom mestre e estudioso da obra de Bartolomeu, nosso querido Frei Carlos Josaphat: “Crer e evangelizar hão de andar junto com a promoção da justiça social” (introdução, Único modo de atrair todos os povos à verdadeira religião, obras completas I, Paulus, São Paulo, 2005, p. 27).
Fernando Altemeyer Junior
15/07/1976 – assassinato do missionário salesiano Rodolfo Luckenbein, e do índio Simão, da nação bororo, em Mato Grosso.
Celso Pinto Carias
Chegando de uma caminhada com Fernando Peregrino, andarilho que viveu nas ruas e agora vai ser padre na Prelazia de São Félix do Araguaia, MT
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