Chile. Tempo de diálogo e renovação da Igreja. Nota do presidente da Conferência Episcopal Chilena

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23 Mai 2018

“Entendo que muitos não dão crédito ao perdão que pedimos e à dor que expressamos, porque não recuperaremos a confiança de um dia para o outro. Teremos que demonstrar isso com ações reparadoras concretas”. A afirmação é de dom Santiago Silva Retamales, presidente da Conferência Episcopal do Chile, em nota publicada pela Conferência Episcopal do Chile, 21-05-2018. A tradução é de André Langer.

Eis a nota.

Retornamos ao Chile depois de quatro frutíferos encontros com o Papa Francisco. Se algo ficou claro para nós naquelas conversas francas é que a vida de bispos e sacerdotes nem sempre anda pelos caminhos do Evangelho. Afastamo-nos deles por nossos erros e, o que é mais grave, pela prática de crimes como os abusos de menores. Mais uma vez pedimos perdão, implorando insistentemente que os crimes sejam denunciados à justiça. A Igreja não é um lugar para cometer crimes! Mas também ficou claro que são muitas as vidas de fiéis que dão testemunho do Evangelho, para quem Cristo é germe de nova humanidade.

Sem dúvida, somente os valores evangélicos e eclesiais nos permitirão a desejada e urgente renovação. Mas temos que colocar Cristo no centro e, a partir Dele, o serviço generoso às pessoas, particularmente aos mais vulneráveis e pobres.

Neste momento, o valor mais importante é a reparação às vítimas em justiça e misericórdia. Confesso que todos os bispos vivemos junto com o Papa o forte impacto do dano causado a elas, nada fácil de curar. Quando falamos de “vergonha”, fazemos isso com sinceridade, porque a Igreja não foi constituída por Jesus para causar danos e danos dessa magnitude. Entendo que muitos não dão crédito ao perdão que pedimos e à dor que expressamos, porque não recuperaremos a confiança de um dia para o outro. Teremos que demonstrar isso com ações reparadoras concretas.

Para nós, é essencial conhecer a fundo o relatório do bispo Scicluna que se refere a documentos perdidos, à qualificação superficial de acusações, à demora na investigação, ou seja, a todos os erros cometidos referentes aos abusos. Pela encarnação de Jesus sabemos que “somente o que é assumido é redimido”. Mas, para assumir, precisamos conhecer a realidade e aceitá-la com humildade.

Quão importante é o valor da contemplação serena dos fatos para não subestimar o que é importante. À contemplação deve se seguir a penitência pelo mal causado. Então, o dom da esperança nos permitirá mergulhar na verdade, tanto na nossa própria verdade como na verdade eclesial, graças à luz que a Palavra do Senhor irradia. A esperança nos ajudará a não ruminar a desolação, mas produzir um esforço continuado para tornar tudo novo. Assumir a realidade com esperança nos permitirá um pastoreio a partir das nossas fraquezas e pobrezas, não a partir do poder e do elitismo. Desta forma, seremos capazes de construir laços que, animados pelo Evangelho, constroem uma nova cultura de ser Igreja.

Para que servem as boas intenções se tudo continua igual? Em virtude do valor da conversão pessoal e pastoral, central para a pregação de Jesus, cabe a todos nós, particularmente os bispos, animar um projeto intenso e extenso de renovação eclesial. E devemos começar pelo diálogo. A Igreja não é construída por grupos de elite, porque ela é “o santo, fiel e sofrido Povo de Deus” na expressão do Papa.

Todo o Povo de Deus, portanto, tem algo a dizer sobre os abusos de menores, de poder e de consciência, e sobre a missão para a qual o Espírito nos chama como Igreja nesta cultura pós-moderna. É tempo de gerar um diálogo do qual ninguém se sinta excluído. Todos nós precisamos uns dos outros neste “novo Pentecostes” que esperamos viver. E espero que esse diálogo não seja apenas intraeclesial e, evidentemente, que não fique apenas em boas intenções, mas que gere realmente um processo de renovação, buscando o compromisso de todos. Somente como Povo de Deus é que nos ouvimos uns aos outros e podemos discernir o que o Espírito diz à Igreja.

Para que essa renovação eclesial se torne realidade, colocamos com total disponibilidade os nossos cargos pastorais à disposição do Papa. Não se trata de fugir, mas de colaborar. O Papa escreveu-nos no final desses três dias de encontros: “Agradeço-lhes a plena disponibilidade que cada um manifestou para aderir e colaborar em todas aquelas mudanças e resoluções que teremos que implementar a curto, médio e longo prazo, necessárias para restabelecer a justiça e a comunhão eclesial”. E enquanto faz as mudanças necessárias, nos pediu para ser uma Igreja profética: “Depois destes dias de oração e reflexão, envio-os para continuar construindo uma Igreja profética, que sabe colocar no centro o que é importante: o serviço ao seu Senhor no faminto, no prisioneiro, no migrante, no abusado” (Carta do Papa aos Bispos do Chile, 17 de maio de 2018).

Tudo é obra de Deus, mas também deve ser obra nossa. Para tanto, é imprescindível forjar um “coração de discípulo missionário” que aceite seus caminhos e suscite palavras e ações proféticas que sejam sinais da libertação que o Pai nos dá por meio de Jesus Cristo.

+ Santiago Silva Retamales

Bispo Castrense do Chile

Presidente da Conferência Episcopal do Chile

Santiago, segunda-feira, 21 de maio de 2018.

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